A 24 de janeiro, dentro de pouco mais de 15 dias, há eleições presidenciais. A profusão de debates entre os dez candidatos é inversa à atenção e ao interesse dos portugueses na escolha. Depois de anos de depreciação da função presidencial com Cavaco Silva, em que não houve Presidente quando ele era mais preciso, há muitos portugueses a questionarem a sua participação na campanha e nas eleições: o que ganho eu com isso? O que ganhamos com isso? Aliás, as perguntas que são feitas em qualquer ato eleitoral pelos cidadãos, cada vez mais longe dos lirismos e das utopias em crescente rota de convergência com o pragmatismo. O desencanto com a política e com os políticos, a falta de crença no poder do voto para influenciar o curso dos acontecimentos, o ruído mediático existente e o perfil pouco mobilizador das campanhas presidenciais são tudo fatores que concorrem para o risco de elevada abstenção. Acresce que um dos candidatos beneficiou durante anos de uma incomparável projeção mediática, sem contraditório, sem escrutínio e com frequente falta de seriedade intelectual nos argumentos e nos comentários utilizados, que lhe conferiram a vantagem inicial espelhada nos estudos de opinião. Não é por isso de estranhar que o candidato Marcelo Rebelo de Sousa oscile a atitude em campanha entre o “finge-te de morto” e o namoro ao eleitorado de centro-esquerda, enquanto procura iludir os apoios do PSD e do CDS-PP. Também não será de estranhar que um candidato nestas condições seja o alvo principal dos ataques dos restantes candidatos, apostados em confrontá-lo com o seu histórico como comentador, por regra em sintonia com os governos de Passos e de Portas. O que é estranho é o esgadanhar de alguns candidatos apostados em desfocar o alvo principal.
O candidato Sampaio da Nóvoa, depois do “não me comprometam” por altura das europeias de 2014, quando não quis participar na Convenção Novo Rumo quando era importante derrotar a direita, como ela foi derrotada, agora joga tudo na proximidade com os novos poderes instalados.
O candidato Paulo Morais, arma-se em D. Quixote contra a corrupção, como se não tivesse sido vice-presidente de câmara municipal e não tivesse abandonado as funções sem ter resolvido o alegado problema que existia. Com essa atitude permitiu que o problema persistisse até ao final do mandato de Rui Rio, outra personagem com um valor facial muito superior ao valor real.
O candidato Henrique Neto, com larga experiência empresarial e acerto em algumas das suas visões sobre o país, carrega o peso da incoerência fiscal entre o que é dito e o que terá feito.
O candidato Cândido Ferreira, entre apelos a desistências de outros e encenações, procura afirmar-se como de fora do sistema como se durante muitos anos não tivesse beneficiado do Serviço Nacional de Saúde nas clínicas de hemodiálise que detinha.
Há os candidatos que fazem presenças para marcar terreno dentro das estratégias partidárias, dos afagos dos egos e do exercício dos seus direitos constitucionais, mas não se livram de contribuir para voltarem a fazer o que alguns fizeram em 2011 quando derrubaram o governo do PS: facilitar a vida à direita na tentativa de acesso ao poder.
E há a candidata Maria de Belém que, pela sua experiência política, inserção com a economia social e equilíbrio, é a que considero estar em melhores condições para um mandato presidencial exigente, de proximidade com as pessoas e de recuperação do papel da Presidência da República como defensora da Constituição e dos portugueses. Nas primeiras eleições da democracia portuguesa em que o Partido Socialista não apoia oficialmente nenhuma candidatura, terá o meu voto. Não quero um Presidente que toque às campainhas das portas nem alguém que não sabe o que são as campainhas. Quero uma Presidente que saiba que estas campainhas não são para serem tocadas, mas que não hesite em tocar a rebate em defesa da Constituição, da legalidade, da dignidade humana e do país como um todo, dentro e fora do território nacional.
Até 24, neste início de 2016, o ano de todas as esperanças, o normal é assistirmos a uma campanha eleitoral de “tiro” ao candidato Marcelo, para o retirar da zona de conforto e forçar a uma segunda volta das eleições presidenciais.
Notas finais Um aumento de 20% na anuidade dos cartões de débito que usamos no multibanco é obsceno quando voltamos a salvar um banco. A dívida pública cresceu dois mil milhões, de outubro para novembro, ainda sem BANIF. É bom que fique claro o ponto de partida do atual governo.
Membro da comissão política nacional do PS, Escreve à quinta-feira