A odisseia do limpa-neves


A serra da Estrela é um espelho da incapacidade para tratarmos bem o nosso património natural. A cena repete-se, cíclica e obsessivamente: quando as estradas estão abertas, não há neve; quando neva, os acessos são cortados. E é uma pena os desportos de inverno em Portugal estarem nas mãos de um desleixo tão confrangedor.


Aos primeiros nevões, a notícia é sempre a mesma e, como outras banalidades recorrentes, faz as delícias dos telejornais. Por Seia, por Manteigas ou pela Covilhã, é impossível chegar à serra da Estrela. Carros e asfalto congelado não combinam bem. Mas dá-se a felicidade de a ciência ter descoberto, há alguns séculos, que o sal derrete o gelo e de o engenho humano ter inventado um veículo chamado limpa-neves. Seria então razoavelmente simples desimpedir as estradas, tornando acessível a Torre e a estância de esqui? Seria. Sucede que a serra tem um único limpa-neves. Para agravar o cenário, esse único limpa-neves despistou-se e capotou há dias, ficando inutilizado.

Os 1900 metros de altitude e as curtas pistas da Estrela não se comparam aos Alpes nem à Patagónia. Mas, com boa vontade e algum investimento, ser-nos-ia permitido passar uns dias divertidos e desenvolver a quase inexistente e pobrezinha economia da serra (basta uma visita rápida para perceber). Temos grandes praias, grandes cidades e grandes ilhas, para além de santas, santos, golfe e surf. Portugal está na moda e consta de todos os tops. O turismo interno vive dias extraordinários. Faz sentido continuar a mandar milhares e milhares de portugueses esquiar para Espanha? Não faz. Se calhar, estaria antes na altura de entregar ao Turismo do Centro e ao mérito do seu belo trabalho a incumbência de explorar a serra da Estrela. Pelo menos e para começo de conversa, o limpa-neves ia funcionar de certeza.

Escreve à quinta-feira


A odisseia do limpa-neves


A serra da Estrela é um espelho da incapacidade para tratarmos bem o nosso património natural. A cena repete-se, cíclica e obsessivamente: quando as estradas estão abertas, não há neve; quando neva, os acessos são cortados. E é uma pena os desportos de inverno em Portugal estarem nas mãos de um desleixo tão confrangedor.


Aos primeiros nevões, a notícia é sempre a mesma e, como outras banalidades recorrentes, faz as delícias dos telejornais. Por Seia, por Manteigas ou pela Covilhã, é impossível chegar à serra da Estrela. Carros e asfalto congelado não combinam bem. Mas dá-se a felicidade de a ciência ter descoberto, há alguns séculos, que o sal derrete o gelo e de o engenho humano ter inventado um veículo chamado limpa-neves. Seria então razoavelmente simples desimpedir as estradas, tornando acessível a Torre e a estância de esqui? Seria. Sucede que a serra tem um único limpa-neves. Para agravar o cenário, esse único limpa-neves despistou-se e capotou há dias, ficando inutilizado.

Os 1900 metros de altitude e as curtas pistas da Estrela não se comparam aos Alpes nem à Patagónia. Mas, com boa vontade e algum investimento, ser-nos-ia permitido passar uns dias divertidos e desenvolver a quase inexistente e pobrezinha economia da serra (basta uma visita rápida para perceber). Temos grandes praias, grandes cidades e grandes ilhas, para além de santas, santos, golfe e surf. Portugal está na moda e consta de todos os tops. O turismo interno vive dias extraordinários. Faz sentido continuar a mandar milhares e milhares de portugueses esquiar para Espanha? Não faz. Se calhar, estaria antes na altura de entregar ao Turismo do Centro e ao mérito do seu belo trabalho a incumbência de explorar a serra da Estrela. Pelo menos e para começo de conversa, o limpa-neves ia funcionar de certeza.

Escreve à quinta-feira