Fénix. Pinto da Costa recorreu a “máfias da noite” para proteger a família

Fénix. Pinto da Costa recorreu a “máfias da noite” para proteger a família


Eduardo Silva foi a sombra do dirigente do FC Porto durante quatro anos. Mas, além de Pinto da Costa, o empresário também garantiu a proteção de familiares do “presidente”


Eduardo Silva e os seus homens de confiança não se limitaram a proteger o presidente do FC Porto. Segundo o Ministério Público, Pinto da Costa terá recorrido a estes “seguranças privados” para proteger elementos mais próximos da sua família, incluindo a mulher. O dirigente portista está acusado de sete crimes de “exercício ilícito da atividade de segurança privada”, de acordo com o despacho de acusação da Operação Fénix, a que o i teve acesso.

Era o próprio Eduardo Silva quem se apresentava como o “segurança do Pinto da Costa”. Foi nesses termos que o empresário e dono da S.P.D.E. se referiu a si mesmo, ao ser questionado sobre a possibilidade de garantir a segurança ao cantor angolano Anselmo Ralph na Queima das Fitas do Porto, em maio do ano passado.

antero abriu portas A proximidade com o presidente do clube portista foi sendo reforçada ao longo de quatro anos. Em 2011, a S.P.D.E. chega ao Estádio do Dragão e a outros espaços do clube através de Antero Henrique (acusado de seis crimes idênticos aos do presidente do Porto).

A partir desse momento, “Edu” Silva passa a funcionar como uma sombra de Pinto da Costa. Era o seu guarda-costas e para onde o presidente ia, Edu seguia–o de perto. “Este acompanhamento revestia as características de proteção pessoal, atividade que Eduardo Silva não podia legalmente desempenhar”, destacam os procuradores João Centeno e Filomena Rosado.

Poucos meses antes de ser detido (a PSP deteve Eduardo Silva em Julho do ano passado), o empresário dizia que era sua intenção afastar-se das ruas. Era ele quem continuava “a mandar”, mas queria deixar essa tarefa nas mãos dos “ninjas” do Vale do Sousa.

A ideia seria dedicar-se mais ao acompanhamento pessoal – sobretudo, a Pinto da Costa – e menos à gestão quotidiana dos negócios da empresa. E, de acordo com o despacho de acusação do MP, apesar de ilegal, os serviços de proteção pessoal de Edu Silva a Pinto da Costa ficaram formalizados num contrato assinado a 30 de maio de 2014. Uma das cláusulas refere a “prestação de serviços de segurança aos membros” do clube.

Garantir proteção à família No decurso do processo, os elementos da investigação depararam-se por diversas vezes com a imagem de Pinto da Costa e a mulher, com Edu Silva logo atrás, nas vigilâncias que realizaram aos vários arguidos.

Em setembro de 2014, o acompanhamento foi visível numa deslocação do FC Porto ao estádio do Sporting CP. Nessa passagem por Lisboa, Edu e Nelson Matos – um dos homens de confiança do responsável da S.P.D.E. – “estiveram sempre próximos do arguido Pinto da Costa e mulher”, sempre vigilantes, tanto no Hotel Altis, onde a comitiva estava instalada, como no Estádio José Alvalade, onde acabaram por assistir ao empate a um golo entre as duas equipas.

A sombra de Edu voltou a fazer–se notar em Janeiro de 2015, quando o Porto voou até à Madeira para um jogo com o Marítimo, e em Fevereiro, no Estádio do Bessa. Em algumas situações, o segurança privado chegou a fazer de motorista pessoal da mulher de Pinto da Costa.

Esses serviços de proteção ao presidente eram sempre acertados entre Edu e Antero Henrique. Com exceção para 17 de Novembro de 2014.

Nesse dia, Edu estava a recuperar de uma operação. O vice–presidente do FC Porto pegou no telefone e ligou para Jorge Sousa – braço-direito do empresário – para, de acordo com o MP, pedir reforços para o dia seguinte. A casa da irmã de Pinto da Costa, também no Porto, tinha sido assaltada e era preciso ir ver em que estado tinha ficado o espaço. “Nós precisamos, até o presidente precisa” de três “homens”, aludiu Antero Henrique.

Com Eduardo fora de jogo, Jorge Sousa chamou Odair Conceição, Hugo Cunha e Oleh Suzycov para garantir o trabalho. Dessa vez, bastava-lhes fazer de “corpo presente”. Deviam ir com “roupa normal”, sem “sapatilhas e fato de treino”.

Na casa assaltada estavam “o irmão e a irmã do sr. presidente” e “a esposa”. Com os homens de Edu Silva, foi “sempre a abrir caminho”. E Maria (a irmã de Pinto da Costa) ficou reconhecida pelo apoio. Com aqueles homens por perto, ficaria “noite e dia” em casa e “não tinha medo de ninguém”.

Os crimes dos seguranças Além de Pinto da Costa e Antero Henrique, que poderão vir a responder pelos crimes de exercício ilícito da atividade de segurança privada, os procuradores acusaram outros 55 arguidos, entre os quais uma empresa.

Eduardo Silva tem a lista mais extensa de acusações: um crime de associação criminosa, 17 de exercício ilícito de segurança privada (um dos quais na forma continuada, pelos serviços prestados ao presidente do FC Porto), um de detenção de arma proibida, um de coação e um de favorecimento pessoal.

Além do empresário, outros 19 arguidos poderão responder pelo crime de associação criminosa: a S.P.D.E., Jorge Sousa, Nélson Matos, Alberto Couto, Francisco Cruz, Manuel Miguel, Daniel Silva, Hilário Sousa, Nuno Gonçalves, Francisco Vasconcelos, Pedro Sousa, Jorge Ribeiro, José Dias, Fernando de Sousa, Bruno Pranto, Paulo Barros, Telmo Rodrigues, João Paulo Pereira e Francisco Maximiano.