A barba já não está na moda. É um facto, está na Esquire (revista de e para hipsters), portanto, é mesmo melhor desfazer-se dela. E também porque, pelos vistos, trazem bactérias se não lavar as mãos. “Já chega”, disse o treinador do Benfica Rui Vitória. Não a esta tendência morta, mas sim às polémicas com Jorge Jesus no lançamento do jogo em casa frente ao Marítimo. Uma frase repetida ontem por José Sá, o homem de barba ruiva grande, e guarda-redes do Marítimo, que sofreu seis golos no Estádio da Luz. A baliza não lhe estava destinada só que Salin – sem qualquer pêlo na cara -, o habitual titular, lesionou-se aos 7’ na coxa esquerda e não voltou a recuperar. Só houve mesmo um Barbas que se riu nessa noite, foi o do Benfica: é que a equipa sai da sua casa com o melhor marcador (Jonas, com 15 golos), com um terceiro lugar atrás dos rivais, com o melhor ataque (41 golos) e mais uma vitória (a 4.ª consecutiva no campeonato), agora frente aos insulares – é a 31.ª vitória na Luz em 36 jogos.
Rui Vitória pouco mexeu, só mesmo à esquerda, com a lesão de Gáitan, foi preciso fazer retoques. Uma oportunidade a Carcela, o marroquino irrequieto, uma estreia absoluta no campeonato. No lado do Marítimo, mais preocupação, é que Ivo Vieira foi obrigado a fazer alterações: algumas lesões e castigos obrigaram a três alterações, Briguel na defesa (que completou o 250º jogo na liga portuguesa), Raul Silva rendeu Dirceu e Fernando Ferreira, um médio, que também teve a sua estreia na Luz, por castigo do habitual titular Fransérgio.
Ora o jogo começou morno, com um Benfica muito dependente de Jonas e mais uns disparos de longe, e um Marítimo pouco ameaçador. Se os adeptos esperavam mais uma exibição arrancada a ferros estavam enganados. Primeiro aos 12´ com um falhanço de Jimenez depois de uma assistência de Jonas, o goleador de serviço (chegou aos 15, mas já lá vamos) fazia temer o pior. Até José Sá estava tranquilo, quando quase viu o colega, Dyego Souza tranquilizá-lo. Aos 19’, o brasileiro, que já leva sete golos esta época, frente-a-frente comJúlio César, não acertou contra o compatriota. Calma Sá, era coisa que se iria pedir nos minutos a seguir.
Pizzi a abrir a lata Carcela andava endiabrado, tanto que aos 24’ levou uma cotovelada do guarda-redes insular só, mais uma vez, para arrefecer o jogo. Não valeu de nada, bastaram-lhe cinco minutos para fazer nascer o primeiro golo. O marroquino, lá fugiu pela linha lateral esquerda, cruzou, os defesas do Marítimo cortaram, mas a bola sobrou para o homem mais caro da história do Benfica – 14 milhões de euros para os cofres de Luís Filipe vieira. Sim, esse mesmo, Pizzi, um talismã que aproveitou para estrear o marcador. Um dado que tem levado a equipa às vitórias (sempre que o português marca, o Benfica vence).
Os próximos seis minutos são para apagar dos vídeos de revisão de jogos da Madeira. Mais dois golos, o bis de Pizzi (34’), coisa que não acontecia desde 2010/11 – obra feita por Nuno Gomes – e outro do mexicano Jiménez 60 segundos depois. Sá bem se esforçou nos dois lances, mas a bola fugiu-lhe e só parou na sua baliza. A equipa liderada por Ivo Vieira estava desorientada e foi encostada às redes, uma história que voltaria a ser repetida na segunda parte.
Para o final da primeira parte quase tudo estava contado, outro talismã, desta vez madeirense, de nome Marega (que já leva 13 golos desde que chegou à Madeira e marcou o único tento no último confronto entre as duas equipas na Luz), tentou limpar a imagem aos 38’, mas não conseguiu.
Pausa era coisa pedida, não só a Sá como aos restantes que precisavam de encontrar um caminho quase divinal para um resultado melhor – não esquecer que ontem foi dia de Reis com uma jornada inteira, algo que não acontecia há quase 22 anos.
Prii prii do árbitro Fábio Veríssimo (noite mais tranquila não podia pedir) mas muito pouca terra para o Marítimo. Mais dois golos, agora de penáltis para Jonas, o Pistolas que quer levar o prémio de melhor jogador, os dois no espaço de dois minutos (52’ e 54’). Aí o jogo pouco ou nada trouxe e o Benfica passou a liderar todo o campo. Com a entrada de Gonçalo Guedes e Talisca (69’) que renderam Jonas e Renato Sanches respetivamente – hoje o miúdo só levantou a massa adepta com fintas – lá veio mais um golo. O brasileiro, número 30 do Benfica, que não tomava o gosto ao pé desde setembro, pegou a perna atrás e furou, de vez, as barbas de José Sá e alegrou as outras, a do Barbas encarnado.
Bem sabemos que a fava já não se encontra no bolo-rei. Agora percebemos o porquê: desta vez calhou ao guarda-redes do Marítimo, que espera por substituições mais felizes e manter o look meio hipster, mesmo que já não seja moda.