Sinal 1 – Gazprom sobre pressão: A Gazprom controla 73% de toda a produção de gás natural da Rússia e em consequência a maioria das exportações daquela fonte energética. As relações dos Estados com a Rússia refletiam-se nos preços aplicados pela Gazprom aos seus clientes, bem como na segurança de abastecimento. Aos Estados amigos, os preços negociados são baixos e não existem interrupções. Para nações que o Kremlin queira intimidar (como a Geórgia e a Ucrânia), a estratégia passou sempre por cortes de abastecimento e aplicação de preços mais elevados do que a outros clientes. E com consequências indirectas para os países de Leste europeus (corte de fornecimento devido ao bloqueio do país-trânsito Ucrânia), mas nunca prejudicando a relação com a Alemanha, país com um gasoduto direto da Rússia, o Nordstream. Putin nunca se coibiu de usar a energia como uma ameaça à segurança de uma parte da Europa. Mas essa estratégia tem um custo: a UE sente-se pressionada a diversificar as fontes de fornecimento e esforça-se para consumir menos gás russo, comprando mais à Noruega (agora o principal fornecedor). Além disso, a regulação energética do mercado europeu impede a Gazprom de ser simultaneamente fornecedora e distribuidora. Por isso, Putin tem orientado o gigante empresarial russo para diversificar as exportações para Oriente, especialmente para a China. Projetos de grande escala exigem financiamento e tecnologia igualmente de grande escala e, segundo a Stratfor, a Gazprom ainda não recebeu o montante total devido pelo governo chinês. São necessários mais de 70 mil milhões de dólares e isso é dinheiro que a Gazprom não tem, nem pode ter, porque as sanções geradas pelo conflito ucraniano impedem-na de aceder aos mercados financeiros. Se acrescentarmos o preço do barril tão baixo e tendo em conta que os contratos de gás estão indexados ao mesmo, verificamos que a Gazprom está metida numa camisa de 11 varas. É de prever mudanças no gigante energético russo.
Sinal 2 – Atlântico lusófono consolida papel estratégico: Cerca de 30% da produção mundial de petróleo provém de reservatórios localizados nos oceanos, totalizando 24 milhões de barris diários, segundo a Agência Internacional de Energia. E de acordo com a consultora IHS International, mais de 1/5 da produção petrolífera marítima global é realizada em águas profundas e ultra-profundas (para além dos 1500 metros de profundidade). E a tendência é o crescimento da contribuição desta fonte de hidrocarbonetos para o consumo petrolífero mundial. Mais de 70% das novas descobertas de petróleo e gás realizadas na última década estão localizadas nos oceanos, sendo que metade foram identificadas em três países lusófonos: Brasil, Moçambique e Angola. Segundo as últimas projeções realizadas pela consultora Wood Mackenzie cerca de 40% da produção incremental de petróleo e gás dos 25 maiores projetos de produção mundiais, até 2020, irá estar concentrada no Atlântico Sul, mais propriamente no Brasil e em Angola. No período decorrente de 2014 a 2017, o Brasil será responsável pela produção de 30% dos 2456000 de barris diários produzidos neste ranking, cabendo a Angola outros 6%. É prevista uma triplicação da produção angolana, ou seja, 14% do petróleo e gás adicional.
Sinal 3 – Renováveis reforçam competitividade face aos combustíveis fósseis na eletricidade: Os últimos dados da International Renewable Energy Agency (IRENA) não deixam margem para dúvidas: as renováveis estão em marcha acelerada de competitividade face aos combustíveis fósseis (nomeadamente carvão e gás natural) na produção de eletricidade. Segundo os dados do último relatório emitido por aquela organização, verifica-se que, na maioria das regiões do globo, as fontes da biomassa, geotermia, hídrica e eólica onshore se situam dentro da faixa de custos de produção de geração eléctrica de base fóssil e o solar fotovoltaico já também se encontra nesta banda nas regiões da América do Norte e do Sul. Mais surpreendente é o custo da eletricidade por eólica offshore na Europa, que já está bastante próxima do máximo nível de custo.
Sinal 4 – Acordo Paris COP 21 Alterações Climáticas: o pragmatismo do baixo carbono: Tendo como modelo os processos políticos europeus, a cimeira COP 21 de Paris conseguiu gerar um acordo assinado por todos os países participantes, no qual se comprometem sem vínculo legal a desenvolver esforços para reduzir 1,5ºC a temperatura do globo até ao final do século. Contudo, as contribuições dos países para concretizar a meta são voluntárias e avaliadas num balanço quinquenal. E porquê 1,5ºC? É o valor correspondente às projeções de queda da temperatura global se a geração de eletricidade for totalmente baseada nas fontes renováveis e nuclear. Ou seja, está em linha com o essencial das políticas de baixo carbono na eletricidade (desactivação das centrais de carvão e aumento da introdução de renováveis) já em curso nos EUA, China e UE. Os grandes vencedores da COP 21 foram as energias renováveis (irão ganhar ainda mais ímpeto como tecnologia de substituição do carvão), as soluções de armazenamento, as tecnologias de informação, o gás natural (o combustível fóssil mais limpo, com menos 75% de CO2 face ao carvão e integrável com as renováveis) e as tecnologias de captura e sequestro de carbono.
Diretor do Programa de Segurança Energética da FLAD