Quando mais logo, em lugarejo, vila e cidade, soarem as badaladas e o foguetório marcar o fim irremediável de 2015, milhões de portugueses de todas as condições em festa popular ou em ambiente mais refinado, tipo casa de Madame para tias com CEOs pelos ditos, vão estar, entre peitos agitados e mãozinha amiga no quadril, a deglutir as pobres das passas.
Ora como sabemos, a passa é uma uva pequena e deprimida, que ficou desidratada por exposição ao sol na vã expectativa de vir a ser uma uva a sério.
A pobre passa não tem poderes especiais, nem talentos ocultos, de tal forma que só aparece nesta altura do calendário em que um ano jaz defunto, e outro emerge todo maluco. Por alguns segundos, a passa é a rainha da função, acompanhada por um gasoso estrangeirado, ela é o centro das atenções e o garante da concretização de todos os desejos.
Se falharem as passas, a tragédia instala-se, o ambiente turva-se, e nem o ano velho se vai, nem o novo é adequadamente recebido. Os mais sagazes, encontram na falta da uva mirradinha, a verdadeira razão para descartar qualquer responsabilidade nos inúmeros problemas que o futuro lhes trará.
Tradição, superstição, a verdade é que depositar as nossas expectativas e projectos, em doze passas encarquilhadas, diz um pedaço sobre o nosso estado mental. Embora, reconheço, é mais seguro e muito mais barato, que depositar as nossa economias em associações criminosas habitualmente designadas por Bancos.
Em vez de balanços elegi alguns factos que me merecem reflexão sobre a necessidade de sempre exigirmos respostas ao que aparentemente pode parecer óbvio, mas não o ser, nem ser garantia de justiça ou de verdade clara.
Banqueiros: A crise que todos estamos a viver e que de uma outra forma, somos convidados “voluntáriamente” a pagar, revela a cada facto novo que conhecemos, e deixa mais evidente, até para os mais devotos liberais, sempre com os bens de outros entenda-se, que foi a incompetência, a ganância e o roubo de banqueiros e dos seus cúmplices na mescambilha comercial e na validação teórica, moral e ética do sistema que sustentava o crime, os únicos responsáveis pelo desastre financeiro e económico que o País atravessa.
Ricardo Salgado, Fernando Ulrich, Nuno Amado, Faria de Oliveira e Carlos Santos Ferreira, todos exigiram ajuda internacional. Ainda recordamos as afirmações de que a banca estava sólida por parte do Banco de Portugal Depois disso foi o que aconteceu ao BES agora o Banif . Acordamos a saber que o Novo Banco necessita de 1.200 milhões de euros. Antes tivemos a fraude do BPN e do BPP . O Montepio é uma perigosa incógnita. E A Caixa vai necessitar um aumento de capital.
Foi um crime que já vai em 40 mil milhões de euros, um crime que tem culpados e tem que ter castigo. Um crime que destruiu empresas, desfez vidas, lançou a tragédia em milhares de famílias confrontadas pelo inesperado desemprego e pobreza consequências da crise por eles criada, e pelo roubo premeditado das suas poupanças.
Estes banqueiros e esta banca nunca estiveram com o regime democrático, são objectivamente seus inimigos, golpearam a democracia por dentro, assaltaram o Estado, destruíram o tecido económico, corromperam e fizeram o país recuar no seu esforço de desenvolvimento.
Os portugueses esperam que uma nova forma de fazer política, corresponda a uma efectiva responsabilização e castigo dos culpados. Só assim poderemos esperar o retorno da esperança e da confiança, não somente no exercício da política ou no ministro de turno, mas no próprio regime democrático. Caso contrário, os danos serão irreparáveis.
Conselho de Estado: Que a vida vale a pena ser vivida é por instinto uma evidencia. A eleição de actual Conselho de Estado traz uma composição mais adequada ao plural do todo nacional e uma mais diversificada forma de entender a rede humana que constitui a nossa alma portuguesa, e uma ironia. Vão sentar-se na mesma mesa, o torturado e preso político Domingos Abrantes, com Adriano Moreira, o Ministro de Salazar e homem que mandou reabrir O Campo de concentração do Tarrafal em 1961 com a nova designação de “Campo de Trabalho de Chão Bom”
Isso recordou-me, que nunca assisti a que nenhum antigo membro ou funcionário do regime fascista, agente torturador, bufo, Juiz de tribunal plenário, censor, ter a intenção ou pedir desculpa pela sua participação directa, apoio moral, ou cumplicidade com o fascismo de Salazar e Caetano.
Nunca escutei um pedido de desculpas ás vitimas, ou sinal de arrependimento por não terem agido ou levantado a voz quando era necessário. Passaram manhosamente do fascismo instalados para o regime democrático sem vergonha ou constrangimentos, têm a consciência presa com os atacadores das botas do ditador, o regime eram os outros. Perguntem ao professor Adriano e vão ver.
Jihadistas na RTP: A Europa organiza-se contra a acção dos terroristas, mais sofisticada e sangrenta que nunca, com mais cumplicidades inesperadas que nunca, pagas a petróleo e a riqueza pilhada, são acordos de vergonha assinados com sangue de inocentes.
Em França, Bélgica, Alemanha e aqui ao lado em Espanha reconhece-se a necessidade de limitar a mensagem do Estado Islâmico, novas frentes de combate se abrem, na net, no facebook e principalmente nos meios de comunicação, no sentido de limitar e desmontar a propaganda nas redes sociais dos terroristas para mobilizar novos adeptos.
Os Serviços de Segurança espanhóis, até iniciaram uma campanha de comunicação batizada “Stop Radicalismos”.
Aqui a RTP no telejornal de dia 26 pelas 20 horas, decide divulgar um video realizado pelos próprios terroristas sobre o bombardeamento das forças de coligação contra a cidade de Rakka na Síria, recheado de consignas de vitória, e de promessas de a cada novo ataque estarem mais fortes.
Pergunta. Como é possível não terem percebido o serviço que estavam a prestar á divulgação de um imaginário de legitima resistência que o Estado Islâmico deseja passar? A estupidez anda sempre de mãos dadas com o absurdo terror. Livra.
Por estas e por outras, quando levarmos as passas á boca, convém recordar que são só passas, e que o único que podemos garantir é um 2016 mais exigente de acordo com as nossas esperanças. Isso ou mais luta.
Consultor de comunicação
Escreve às quintas-feiras