Boas e más figuras do ano político português


São alguns dos protagonistas de um ano peculiar e cheio de surpresas normalmente negativas


Marcelo Rebelo de Sousa: está a caminho da presidência da república. É de apostar singelo contra dobrado que vai conseguir. E é de apostar ainda mais que vai romper com muita coisa quando estiver em Belém. A coragem de não fazer campanha com os meios tradicionais de propaganda é de louvar, pois não é certo que popularidade seja sinónimo de votos nas urnas. Se de facto for o eleito, o exercício presidencial terá um estilo diferente e, eventualmente, mais imprevisível. Mas certamente nunca lhe faltará sentido de Estado.

António Costa: sempre acreditou nas hipóteses de alianças à esquerda. A sua vida política anterior demonstra-o. Quando, antes ainda das eleições, ouviu a abertura do Bloco não reagiu, mas quando, depois da consulta, Jerónimo de Sousa abriu a porta, Costa não hesitou e surfou a onda até S. Bento. Agora tenta somar a diariamente novos apoios. Está excessivamente dependente do Bloco e da CDU, mas conta com alguma benevolência estratégica do PSD e com o facto de os seus aliados saberem que a queda do governo em menos de dois anos afastará a esquerda do poder durante muito tempo.

Passos Coelho: já abandonou a tese da ilegitimidade do governo de Costa que proclamou depois de PSD e CDS terem simultaneamente ganho e perdido as legislativas. Espera agora sentado e tranquilo o momento de tentar atirar o governo abaixo no parlamento como fez com Sócrates. Através de atitudes como a de viabilizar o orçamento rectificativo cultiva a imagem de salvador da pátria, apesar de casos como a sobretaxa, o Banif e sobretudo a degradada realidade económica, financeira e social do país.

Paulo Portas: no fim de um segundo “Annus Horribilis” demitiu-se definitivamente da liderança do CDS. A meio do mandato no governo tinha feito o mesmo mas utilizando a expressão irrevogável e acabando por ficar subindo a vice-primeiro ministro. Agora parece ser de vez. O abandono é também o reconhecimento de que a coligação PàF não ganhou as eleições e se esgotou. Venha quem vier não terá vida fácil na liderança do CDS que ainda é PP.

Catarina Martins e Mariana Mortágua: juntar as duas é quase inevitável porque foi esta dupla que liderou o pelotão do Bloco de Esquerda agora transformado na terceira força política portuguesa. São ambas inteligentes, ideológicas e pragmáticas. Têm influência, carisma e estratégia e podem ir longe se o Bloco não se esfrangalhar todo como normalmente acontece na extrema- esquerda. Os media gostam delas, o que ajuda e muito.

Adriano Moreira e Francisco Louçã: outro par em foco, embora não façam parelha. Um pela direita e o outro pela esquerda chegaram ao Conselho de Estado. São senadores e homens sábios que o tempo moderou e, no fundo, aproximou.

Marinho e Pinto e Rui Tavares: a terceira dupla. Apenas os une a circunstância de se terem tornado irrelevantes. Rui Tavares teve mesmo assim o mérito de perceber que havia hipótese de se conseguir entendimentos entre o PS e os partidos mais à esquerda.

Rui Rio: perdeu todos os “timings” possíveis para se candidatar a Belém com algumas hipóteses. Agora fala-se novamente de um possível interesse na liderança do PSD. Mas logo começaram os “sim mas também”. É verdade que a política é a arte do possível, mas não menos certo que também é do sim ou sopas.

José Sócrates: mostrou que é realmente um animal feroz tanto a atacar como a defender, esteja preso ou esteja solto. É sempre convincente quando apenas se ouve emocionalmente o seu discurso. Mas, quanto ao esclarecimento cabal do seu trem de vida, nenhuma explicação plausível foi dada, o que eticamente o condena. Formalmente, a Justiça ainda não conseguiu acusá-lo, apesar de ter uma máquina montada para o investigar. 2016 irá certamente mantê-lo presente na actualidade política, jurídica e mediática.

Maria Luís Albuquerque: pré-anunciada como uma estrela da política que podia mesmo chegar à liderança do PSD foi fogo-de-vista. Contas furadas. Défices excedidos. Anunciar uma devolução da sobretaxa que podia ir a mais de 30% e acabar em nada seria em qualquer país o fim de uma carreira política. Mas Portugal é realmente diferente.

Sérgio Monteiro: logo que chegou ao governo foi alvo de críticas por causa de negócios de privados que impingiu ao Estado. Saiu de fininho do executivo com uma choruda avença do Banco de Portugal para vender o Novo Banco. Notável! Oxalá não repita ali a trapalhada e os imbróglios que deixou nas privatizações da TAP e outros transportes públicos.

Carlos Costa: à primeira vista as suas resoluções de bancos parecem sempre a melhor via. Mas depois verifica-se que o Banco de Portugal que ele lidera acaba sempre por ter culpas no cartório por falta de efectiva fiscalização e de soluções proactivas de antecipação. Está cada vez mais isolado, mas é pessoa para resistir às investidas para que se demita e que virão de todos os lados na inevitável comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

Jornalista


Boas e más figuras do ano político português


São alguns dos protagonistas de um ano peculiar e cheio de surpresas normalmente negativas


Marcelo Rebelo de Sousa: está a caminho da presidência da república. É de apostar singelo contra dobrado que vai conseguir. E é de apostar ainda mais que vai romper com muita coisa quando estiver em Belém. A coragem de não fazer campanha com os meios tradicionais de propaganda é de louvar, pois não é certo que popularidade seja sinónimo de votos nas urnas. Se de facto for o eleito, o exercício presidencial terá um estilo diferente e, eventualmente, mais imprevisível. Mas certamente nunca lhe faltará sentido de Estado.

António Costa: sempre acreditou nas hipóteses de alianças à esquerda. A sua vida política anterior demonstra-o. Quando, antes ainda das eleições, ouviu a abertura do Bloco não reagiu, mas quando, depois da consulta, Jerónimo de Sousa abriu a porta, Costa não hesitou e surfou a onda até S. Bento. Agora tenta somar a diariamente novos apoios. Está excessivamente dependente do Bloco e da CDU, mas conta com alguma benevolência estratégica do PSD e com o facto de os seus aliados saberem que a queda do governo em menos de dois anos afastará a esquerda do poder durante muito tempo.

Passos Coelho: já abandonou a tese da ilegitimidade do governo de Costa que proclamou depois de PSD e CDS terem simultaneamente ganho e perdido as legislativas. Espera agora sentado e tranquilo o momento de tentar atirar o governo abaixo no parlamento como fez com Sócrates. Através de atitudes como a de viabilizar o orçamento rectificativo cultiva a imagem de salvador da pátria, apesar de casos como a sobretaxa, o Banif e sobretudo a degradada realidade económica, financeira e social do país.

Paulo Portas: no fim de um segundo “Annus Horribilis” demitiu-se definitivamente da liderança do CDS. A meio do mandato no governo tinha feito o mesmo mas utilizando a expressão irrevogável e acabando por ficar subindo a vice-primeiro ministro. Agora parece ser de vez. O abandono é também o reconhecimento de que a coligação PàF não ganhou as eleições e se esgotou. Venha quem vier não terá vida fácil na liderança do CDS que ainda é PP.

Catarina Martins e Mariana Mortágua: juntar as duas é quase inevitável porque foi esta dupla que liderou o pelotão do Bloco de Esquerda agora transformado na terceira força política portuguesa. São ambas inteligentes, ideológicas e pragmáticas. Têm influência, carisma e estratégia e podem ir longe se o Bloco não se esfrangalhar todo como normalmente acontece na extrema- esquerda. Os media gostam delas, o que ajuda e muito.

Adriano Moreira e Francisco Louçã: outro par em foco, embora não façam parelha. Um pela direita e o outro pela esquerda chegaram ao Conselho de Estado. São senadores e homens sábios que o tempo moderou e, no fundo, aproximou.

Marinho e Pinto e Rui Tavares: a terceira dupla. Apenas os une a circunstância de se terem tornado irrelevantes. Rui Tavares teve mesmo assim o mérito de perceber que havia hipótese de se conseguir entendimentos entre o PS e os partidos mais à esquerda.

Rui Rio: perdeu todos os “timings” possíveis para se candidatar a Belém com algumas hipóteses. Agora fala-se novamente de um possível interesse na liderança do PSD. Mas logo começaram os “sim mas também”. É verdade que a política é a arte do possível, mas não menos certo que também é do sim ou sopas.

José Sócrates: mostrou que é realmente um animal feroz tanto a atacar como a defender, esteja preso ou esteja solto. É sempre convincente quando apenas se ouve emocionalmente o seu discurso. Mas, quanto ao esclarecimento cabal do seu trem de vida, nenhuma explicação plausível foi dada, o que eticamente o condena. Formalmente, a Justiça ainda não conseguiu acusá-lo, apesar de ter uma máquina montada para o investigar. 2016 irá certamente mantê-lo presente na actualidade política, jurídica e mediática.

Maria Luís Albuquerque: pré-anunciada como uma estrela da política que podia mesmo chegar à liderança do PSD foi fogo-de-vista. Contas furadas. Défices excedidos. Anunciar uma devolução da sobretaxa que podia ir a mais de 30% e acabar em nada seria em qualquer país o fim de uma carreira política. Mas Portugal é realmente diferente.

Sérgio Monteiro: logo que chegou ao governo foi alvo de críticas por causa de negócios de privados que impingiu ao Estado. Saiu de fininho do executivo com uma choruda avença do Banco de Portugal para vender o Novo Banco. Notável! Oxalá não repita ali a trapalhada e os imbróglios que deixou nas privatizações da TAP e outros transportes públicos.

Carlos Costa: à primeira vista as suas resoluções de bancos parecem sempre a melhor via. Mas depois verifica-se que o Banco de Portugal que ele lidera acaba sempre por ter culpas no cartório por falta de efectiva fiscalização e de soluções proactivas de antecipação. Está cada vez mais isolado, mas é pessoa para resistir às investidas para que se demita e que virão de todos os lados na inevitável comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

Jornalista