Usa-se muito a palavra «ética» para as mais variadas circunstâncias: ética na política, no desporto, nas relações humanas. Por vezes, o termo é mal usado pelo que é conveniente defini-lo bem: ética é à parte da filosofia que versa sobre os valores e os princípios ideais do comportamento humano perante a sociedade. A palavra vem do grego “ethos”, que significa «aquilo que pertence ao carácter». Hoje, que tão facilmente se fazem ataques ao carácter das pessoas, é bom pensar no que isso representa.
A ética é diferente da moral: esta fundamenta-se na obediência a costumes e hábitos recebidos e que variam muito de grupo social para grupo social e de época para época, a ética, ao contrário, busca fundamentar e classificar as ações exclusivamente pela razão e pelo conceito do certo e do errado, numa perspetiva de leitura do Bem e do Mal, em termos do próprio, mas sobretudo dos outros e do tecido social.
A ética também não deve ser confundida com a lei, embora a lei, já que estabelece o que é certo e errado para um determinado ato, tenha de ter, na sua base, os princípios éticos. Contudo, ao contrário do que ocorre com a lei, nenhuma pessoa pode ser obrigada, seja pelo Estado, seja por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas, embora possa ser censurado moralmente e até votado ao ostracismo.
Ouvimos e lemos muitos “velhos do Restelo” afirmarem que “o mundo está perdido, pela falta de ética”. Sempre duvidei dos missionários, dos profetas da desgraça e dos fundamentalistas. Qualquer fenómeno tem o verso e o reverso. E entender o Bem, em nós próprios, nas relações interpessoais e na sociedade ou na tecnologia e nas redes sociais, é também compreender onde o Mal se pode esconder, nesses mesmos ecossistemas. E, assim, evitar o “dark side of the force”.
Ética e moral são adquiridas e não inatas, e são próprias do ser humano, que cria uma natureza moral sobre a sua natureza instintiva. Uma pessoa só pode falar da sua ética quando se orienta por princípios e convicções, coerência e consistência, e quando admite a existência do Bem, mas também do Mal, enquanto entidades nosológicas. O Mal existe, e todos nós (e não apenas os outros) podemos ter atos de mesquinhez, baixeza, indignos ou mesmo criminosos.
É função inalienável dos educadores transmitirem uma conduta ética, como matéria que faz parte da aprendizagem e do tirocínio de vida.
A ética ensina-se transmitindo, não um discurso verbal, teórico, por muito bonito que seja, mas sim o que se é e como se age – os comportamentos – , que, em grande parte, serão baseados no que se observa no quotidiano, no que vivencia e no juízo de valor que se faz sobre as pessoas que nos circundam… e nos comportamentos que estas têm. As noções de «respeito», «ofensa», «dignidade», «verticalidade», «honestidade» ou outros conceitos abstratos similares só serão compreendidos depois de haver hipótese de os ver exemplificados e demonstrados, bem como de os exercitar e corrigidos quando surgem quaisquer desvios importantes a essas mesmas regras éticas e de conduta. Só assim ser fará luz e poderemos sentir de que lado da “força” estamos.
Daí a importância de, ao ver a saga Star Wars, que já surgiu há 38 anos (e, da qual, confesso, sou fã!), percebermos que há nela muito mais do que efeitos especiais e emoções: há uma demonstração da realidade social, da luta antropológica milenar do ser humano e dos conflitos éticos e opções que, cada um terá de tomar. De que lado da “força” estamos? De que lado queremos estar?
“May the force be with you!”, de preferência no “right side”, são os meus votos para 2016. Mas a opção será, sempre, vossa. É esse o nosso livre arbítrio, a nossa responsabilidade, mas também a nossa maior liberdade.
Pediatra, Escreve à terça-feira