Segundo apurou o i, a ex-ministra da Agricultura, a quem Paulo Portas entregou a coordenação do programa eleitoral do CDS para as legislativas de outubro, reiterou internamente a sua disponibilidade para liderar o partido à medida que Portas foi pré-anunciando que poderia não se recandidatar à liderança do CDS, o que acabou confirmado ontem à noite na reunião da Comissão Política.
As tropas estão longe de estar no terreno mas a ex-ministra já se posiciona na linha de partida para a sucessão de Portas, agora que o CDS regressa à oposição como quarta força política no parlamento, sem o seu histórico líder (eleito em 1998) e depois de quatro anos de governo em coligação com o PSD. Em maio, ao Observador, a então ministra garantia estar ao “serviço do seu partido para o que for necessário” e adiantou que “se for necessária para isso [líder], também estarei disponível”.
A mensagem não foi inocente. Sempre que a sucessão de Portas agitou o CDS nos últimos meses lá estava Cristas a não deixar fechar a porta a uma candidatura à presidência do CDS e a falar para dentro. Até porque não é líquido que todos os setores do partido estendam a passadeira vermelha à jurista, já que poderão mobilizar uma candidatura própria. Pedro Mota Soares, João Almeida ou Nuno Melo – próximos de Portas e com experiências governativas, à exceção de Nuno Melo, que é eurodeputado – integram a lista de putativos sucessores, embora nenhum se tenha posicionado de forma clara para suceder a Portas, pelo menos para já.
Partido de um homem só?
A Comissão Política do CDS esteve reunida ontem à noite. À entrada para a reunião já havia a expectativa de que Portas iria anunciar que não será candidato ao congresso que deverá ser marcado para meados de abril e no qual será eleito o líder do partido para os próximos dois anos (até 2018). O que se veio a confirmar, sem surpresa.
Durante o início de dezembro Portas esteve a ouvir os seus colaboradores mais próximos e o seu núcleo duro, numa esplanada na zona de Belém, precisamente sobre a liderança do partido. O pano de fundo era o futuro e o calendário: uma vez reconduzido líder dos centristas, Portas, eleito pela primeira vez em 1998, completaria no final do mandato, em 2018, 20 anos à frente do CDS, embora com uma interrupção entre 2005 e 2007, período no qual Ribeiro e Castro assumiu a liderança.
Há muito que a substituição de Paulo Portas na liderança do CDS pairava sobre o Caldas. Este ano, em cima das legislativas, Pires de Lima, ex-ministro da Economia, afirmou ao Expresso que “só nos partidos menos democráticos é que os líderes se perpetuam independentemente dos resultados”. Portas, sem qualquer incómodo, lembrou que “o CDS tem várias mulheres e vários homens que são políticos de primeira categoria e que terão certamente um grande papel no futuro”. Em 2014, no congresso que o reelegeu para mais um mandato, o último, frisou que “já lá vai o tempo em que o CDS era injustamente classificado como um partido de um homem só. Hoje chegou o tempo de toda a gente achar que há no CDS imensos sucessores para o tal homem só”. E os sucessores vão desfilar, um a um, nos debates quinzenais com António Costa no parlamento até ao congresso. Assunção Cristas não irá perder a oportunidade para convencer o partido, agora que Paulo Portas decidiu interromper a contagem como líder do partido ao qual acrescentou as suas iniciais: CDS-PP (Partido Popular).