Blacksea Não Maya. Uma família feliz que não faz kuduro de churrasco

Blacksea Não Maya. Uma família feliz que não faz kuduro de churrasco


DJ Kolt, DJ Noronha e DJ Perigoso são os membros desta formação natural da Margem Sul do Tejo. “Calor no Frioo” é o seu novo EP, pela Príncipe Discos.


Passamos a vida a falar de casamentos com sete pedras na mão. O início do fim; “Pessoal agora só vai dar para sair à sexta”; a embriaguez da tia afastada que nunca tínhamos conhecido tão louca; o facto de nos terem sentado numa mesa onde só conhecemos o nosso irmão – e talvez não nos apeteça levar com ele mais um dia; o roda-viva do bouquet e as piadas batidas do a-próxima-és-tu.

Pois bem, nem tudo é mau em casamentos. Já nem falamos do buffet que o nosso estômago nunca viu, nem sequer do bar aberto ou das amigas das primas com vestidos curtos. É que os casamentos são a prova dos nove para uma série de profissionais que buscam a afirmação pessoal. Pense-se nos fotógrafos – muitos vivem à custa das melhores poses familiares – ou até nos garçons que de bons serviços de catering podem voar para enormes restaurantes de luxo. Depois há os músicos, que nem sempre tocam Michel Teló, e que podem vir a tornar-se figuras de proa dos grandes festivais. Os Blacksea Não Maya ainda não lá chegaram mas para lá caminham. Em 2009, à boleia do DJ Joker – tio de DJ Kolt – fizeram das festas, batizado e casamentos o seu lugar de eleição, onde faziam remisturas de outros produtores e também dançavam. “No início de 2011 começámos a querer produzir, queríamos subir a escala. Fomos mandando música para o YouTube. Até que a Príncipe nos contactou e combinámos um encontro”, conta DJ Kolt. 

Blacksea Não Maya são os irmãos Kolt e Noronha, aos quais se juntou também o seu primo Perigoso, e que em 2013, ainda com a ajuda do tio Joker, editaram o seu EP de estreia “B.N.M. / P.D.D.G.”, pouco tempo após a Príncipe Discos os ter descoberto no YouTube. Agora chegam a “Calor no_Frioo”, segundo EP já sem a asa protetora de Joker, e que esclarece que os casamentos são coisa boa, embora talvez já só repitam a presença quando chegar a sua vez de dizer “sim”.

De paio pires para o mundo Esta família é do Bairro da Cucena, Paio Pires, Seixal, Margem Sul do Tejo. Foi aqui que os rapazes se iniciaram na dança, ainda que a relação não tenha sido duradoura. “Às tantas percebemos que a dança não era para nós, queríamos fazer mais. Nas festas e afins fomos traçando o nosso caminho, ouvindo outras coisas, mexendo em produção, evoluindo até que chegámos aqui”, explica Kolt e elemento mais velho da formação: 23 anos.

Só assim se explica que os Blacksea Não Maya tenham esta abordagem que não coincide com o kuduro convencional, nem sequer com o funaná de churrasco. A experiência nocturna fê-los chegar a esta sonoridade distinta, ao ponto de a Príncipe se ter referido a “Calor no_Frioo” como um EP “alien rumba para matinés de dança de salão”. Kolt aprova a caracterização. “Concordo perfeitamente. Dá para passar num casamento, mas também depende de quem for casar. É o nosso segundo EP mas é como se fosse a estreia porque é primeiro EP só nosso, sem a ajuda do meu tio. Os sons que lá estão vão, pelo menos, balançar qualquer coisa”.

É certo que os Blacksea Não Maya são mais conhecidos lá fora do que em Portugal, algo que os artistas querem combater. “Estamos a pensar lançar um vídeo gravado como deve ser, sem ser com a câmara do telemóvel que não fica grande coisa, não é a qualidade que nós queremos. Estamos também a pensar ter alguém na voz mas ainda não encontrámos, nós é um bocado difícil cantarmos. Queremos ter impacto em Portugal”. Vontade legítima. 

miguel.branco@ionline.pt