As afirmações foram feitas na primeira ação de campanha a seguir ao Natal e elevam alguns degraus o tom contido dos comunistas na última semana. Apesar de chumbar a resolução que injetou 2,2 mil milhões de dinheiro dos contribuintes no banco, o PCP responsabilizou sobretudo o PSD e CDS.
Terá Edgar Silva se excedido, a falar para uma audiência operária, sobre um escândalo financeiro que põe em relevo a disparidade entre os milhões injetados em bancos falidos e a austeridade que tira dinheiro ao Estado Social e aos rendimentos dos trabalhadores? Questionada pelo i, a direção do PCP opta por não criticar o seu candidato.
“É conhecida a posição que o PCP adotou com o seu voto contra na votação do orçamento retificativo”, responde o gabinete de imprensa dos comunistas, à pergunta sobre se o PCP se revê nas declarações do candidato.
O Antigamente vs o tempo novo As palavras de Edgar Silva vieram na sequência de perguntas dos jornalistas ao candidato sobre a mensagem de Natal de António Costa. O primeiro-ministro tinha-se mostrado confiante num “tempo novo que traga prosperidade e crescimento”. Perante o otimismo socialista, o candidato a Belém foi cortante.
As medidas tomadas na intervenção do Banif “não são de um tempo novo, são da velha política, são da política do antigamente e o que menos Portugal agora precisa são das políticas do antigamente, do anterior a 4 de Outubro” – disse, à entrada de um convívio com apoiantes, na escola secundária de São Pedro da Cova, em Gondomar.
Nas declarações que fez, o ex-padre católico da Madeira, que o PCP quer ver Presidente da República, foi claro a identificar o PS com a política da direita. “Precisamos de medidas novas, que sejam de justiça social, que reponham direitos, que permitam reconquistar a dignidade, a esperança e a confiança. Portugal do que menos precisa são medidas à maneira do que o PSD e o CDS vinham a impor a Portugal, à maneira das receitas da ‘troika’ nacional e estrangeira”, afirmou.
Compreensão Nas declarações públicas em que o PCP explicou porque votava contra o orçamento retificativo que acomodou a intervenção no Banif, pelo contrário, tem havido o cuidado de separar as águas entre o PS e a direita.
João Oliveira admitiu que “depois do processo que foi percorrido, as alternativas de intervenção no Banco não eram muito favoráveis ao Estado”. Disse-o na conferência de imprensa em que anunciou o chumbo do PCP, por uma questão de princípio: “Não poderemos acompanhar um desfecho para o Banif que se traduza em mais uma fatura de milhar de milhões de euros a ser passada aos contribuintes pela falência de um banco”.
No mesmo registo do seu líder parlamentar, o deputado Miguel Tiago, no debate do retificativo, acusou “o Governo PSD/CDS” de autoria moral no “crime económico” que conduziu ao ‘buraco’ no Banif; mas poupou o Governo de Costa a adjetivos negativos, afirmando apenas que o PCP, ao contrário do Executivo socialista, “não acata” os “impedimentos” da União Europeia à integração do Banif na esfera pública.
Edgar Silva foi agora mais longe, mas em causa estava um dos temas que lhe faz subir o tom de voz e das críticas, o dos abusos do sistema financeiro. “O país está a ser saqueado e destruído pelos especuladores e agiotas”, “não podemos capitular”, disse na apresentação da sua candidatura, a 15 de Outubro.