– “Pai, já pensaste em aderir à Netflix?”
– “Net quem? Ainda nem me deste netos e agora falas-me de Netoflix…que raio é essa coisa?”
Seguir-se-ia uma gargalhada geral e uma não-resposta, um “deves achar que mudas assim de conversa e eu te dou troco”. Há pais assim, que, ainda que se saiba do que se está a falar, chutam para canto quando dá mais jeito, no fundo, não perdoam. Estou-a-ficar-velho-para-isso como salvação para tudo o que envolve mais dinheiro. Ainda que, esse mesmo pai, possa ter reconhecido, uns dias depois, que aquela coisa até compensa. Atenção: isto são tudo possibilidades.
O que já não parece estar tão ao sabor do vento, tão a cargo do destino, são as vontades natalícias deste pai, que, unidas a tantas outras, geram uma espiral de dá-cá-isso-ou-vou-gritar em torno do comando. Os miúdos só querem o Canal Panda, ou, se mais velhos, a saga “Harry Potter” de enfiada. A tia reformada não abdica do reality show, louca que está ainda é senhora para mudar para “Música no Coração”. Tudo isto enquanto o seu primo, após ter passado toda a tarde entre sonhos e camarões, sai porta fora para a borga de Natal. O irmão nerd aguarda pela hora de “O Senhor dos Anéis” enquanto roga pragas à performance de Nicolas Cage em “Dois Destinos”. O pai quer lá saber. Acende o charuto cubano, abre o whisky, espera que cada membro da família se decida retirar, e fica a brincar com o seu aparelho tecnológico que a mulher lhe deu. É aqui que está a diferença.
Talvez este Natal seja tão do rock que o tal pai, visto o novo brinquedo moderno – este Natal também pode ser aquele em que não há prenda tecnológica para ninguém -, ligue a Netflix para digerir a barrigada, modo sofá só para ele. Tem o último episódio de “Narcos” para ver – guardado propositadamente para este momento – e uma oportunidade para dar a “Jessica Jones”, que isso dos superheróis não costuma ser para ele. Esclarecido? A Netflix mudou o Natal, não há a volta a dar. O que se segue são as nossas sugestões para mudar o rosto desta época festiva. Algumas são novidades, outras são só porque não as pode perder. Flix Natal para si e para os seus.
A very murray christmas
Natal é praticamente sinónimo de musicais. E sim por norma ninguém gosta de musicais – a não ser a avó, aqui tem uma companhia ideal para conquistar. Mas este merece um desconto. “A Very Murray Christmas” é uma produção Netflix realizada por Sofia Coppola e com Bill Murray como anfitrião, ou Pai Natal, se assim o desejarem. A razão porque o deve ver? Simples: Bill Murray. E isto não se trata de preguicite jornalística, há coisas que se explicam a si próprias. Ainda assim – pois achamos que o leitor é merecedor – diga-se que o enredo segue a preocupação de Murray em torno do seu programa de televisão natalício. Uma enorme tempestade de neve atingiu Nova Iorque e este receia que ninguém consiga chegar ao Carlyle Hotel, local do acontecimento. Além de ter Sofia Coppola como realizadora, este filme conta ainda com George Clooney, Miley Cyrus, Paul Shaffer, Amy Poehler, Michael Cera, Chris Rock, quase todos a fazerem de si mesmos. Isto deve chegar para convencer a família toda a sentar-se em torno da televisão. Se não, já sabe, faça como o tal pai.
Abelha Maia
Talvez não seja o seu programa favorito de Natal, mas há males que vêm por bem. Com isto queremos dizer que este é o truque perfeito para a criançada adormecer e conseguir ver tudo o que lhe apetece. O melhor é que nem sequer é a série original, mas antes aquela que Daniel Duda decidiu fazer em 2012. Pelo menos é mais atual, menos possível de ouvir comentários caricatos dos miúdos como: “A imagem está estranha, papá”. Vá lá, dê o desconto, eles nasceram em 2008. E, mesmo assim já sabem que “Todos lhe chamam a pequena Abelha Maia”.
Making a murderer
Não se assuste com o título, esta série documental não tem assim tanto sangue, precisamente por adotar o estilo documentário. Tudo gira em torno da vida de Steven Avery, um homem de Manitowoc, Wiscosin, que esteve preso 18 anos injustamente. A família Avery é a única da cidade que trabalha com ferro-velho, todas as outras exploram a agricultura. Por isso – e por mais uma ou outra razão – os Avery vivem praticamente isolados, odiados pelos locais. Steven sempre foi um rapaz problemático, mas daqueles que assumem o que fazem mal e cumprem o seu castigo.
Foi preso por violação à mulher de um dos xerifes-adjunto de Manitowoc, tendo sempre, durante os 18 anos que esteve preso, rejeitado a condição de culpado. Até que uma análise de ADN atribui o crime a outro homem, tendo Steven sido libertado. Se isto fosse um filme talvez ficasse por aqui, mas não, foi apenas o princípio. Steven não vai ficar quieto sem querer responsabilizar quem lhe estragou a vida. E vice-versa no que ao departamento do xerife de então diz respeito. “Making a Murderer” pode nem sequer ser uma produção que combine com o Natal, mas e então? O Natal não pode ser só para os filmes maus mas que fazemos questão de ver. Há que arriscar no Ho Ho Ho.
Desligados
Este filme acabou de estrear na Netflix. Apesar de ser de 2012 é possível que não o tenha visto e vá por nós quando dizemos é uma falha significativa. Realizado por Henry Alex Rubin, “Desligados” é um cruzamento entre três histórias que sugerem o mesmo: há coisas na vida que demoramos a entender. Coisas como andarmos demasiado ocupados com o nosso umbigo Uma repórter que se envolve demasiado numa reportagem perigosa, um miúdo que conhece a realidade do mundo através de uma brincadeira de muito mau gosto de uns colegas de escola, um casal que vê os seus cartões bancários serem sabotados sem razão aparente. Com Jason Bateman, Hope Davis, Frank Grillo, Paula Patton, Alexander Skarsgard, Michael Nyqvist. No Natal, não se desligue.