Gisela Pulido. Tenho 10 títulos aos 21 anos e tu?

Gisela Pulido. Tenho 10 títulos aos 21 anos e tu?


A espanhola tem tantos títulos no kitesurf que pondera fazer a sua primeira pausa numa carreira que começou… aos dez anos.


Aos 21 anos a malta quer é festa e Erasmus. Sem preocupações ou responsabilidades, os jovens só pensam em viver la vida loca. O Ricky Martin quis que fosse assim em 1999, e foi mesmo. É ir às universidades portuguesas e perguntar, se encontrar algum aluno, claro. Só que há quem tenha outras ambições como tornar-se a campeã mais nova do mundo em kitesurf aos dez anos, ou somar outros dez, mas em títulos, aos 21._Gisela Pulido acaba de se sagrar campeã mundial da modalidade em freestyle, depois de no ano passado ter perdido o título. A Federação Internacional de Vela deu-lhe a garantia, depois da organização do Mundial deste ano não ter incorporado quatro provas (Argentina, China e África do Sul), deixando na incerteza esta conquista. A confirmação chegou esta semana, a “Sargento Pulido”, como chamam os amigos, já é uma lenda viva e é ela quem comanda as ondas como ninguém.

O ano passado em Agosto, depois de uma decisão polémica,_Gisela perdeu o primeiro lugar para a sua maior rival, a polaca Karolina Winkowska, de 25 anos, depois dos juízes terem exigido a repetição da última ronda. A Virgin adquiriu os direitos da competição, e o seu dono, o multimilionário Richard_Branson tinha a ideia de mudar as normas de classificação para a tornar mais competitiva.  As provas tornaram-se maiores. Só que Pulido não arredou o pé da prancha, subiu ao pódio em cinco provas, ficando em primeiro na última na Alemanha durante o verão deste ano, derrotando as suas opositoras, e vingando-se de uma injustiça que até hoje ainda não teve explicação. “Não tive medo, porque sabia que tinha saído como vencedora, esta entrada da Virgin trouxe muitos interesses e questões políticas, mas nós desportistas estamos à margem disso, apesar de nos afectar”, confessou ao jornal espanhol a “Marca” esta semana.

De pequena torceu a onda Esta rapariga de Barcelona sagrou-se campeã mundial com apenas dez anos quando o kitesurf era ainda pouco conhecido e profissional. Com menos um ano já subia ao primeiro lugar nos campeonatos da Europa de juniores de 2003 na categoria sub-18, e em segundo na categoria sub-21. O talento já tinha nascido com ela, ganhou músculo e destaque, depois de ter feito um simples acordo com o pai: só pode competir se estiver entre as mulheres. “Ai é?” Poderá ter pensando, como faria qualquer criança rabugenta. Primeiro classifica-se em 3.º na etapa KPTW em_França._Mais umas vitórias no bolso e chega Novembro, o mês que nunca mais esquecerá, quando entrou para o livro do Guiness como a “mais jovem campeã mundial do desporto” e mais nove títulos. Hoje tem uma certeza: “ é impossível que em 2105 uma chica de dez anos possa competir no Mundial”, graças à exigência e às manobras cada vez mais arriscadas. Ela fê-lo há uns anos, mas como? “A minha felicidade passa por competir e ser a melhor do mundo, ninguém te obriga, fazes isto porque queres, não é um esforço, é uma sorte poder viajar por todo o mundo e dedicar-me ao que mais gosto de fazer”, desabafou.

Pronto, pronto, o jovem leitor pode pousar a prancha – e parar de se sentir mal – porque Pulido pretende fazer a sua primeira grande pausa e saborear uma vida normal. “Quero descansar e desfrutar do Natal com a família depois de um ano difícil para todos. mas não me imagino sem competir”, piscando o olho os Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio_(noutra modalidade, a race) e uma das manobras mais arriscadas, a “double hand pass” que requer muita dedicação e tem um alto risco de lesão.

Aaaah, afinal o leitor sempre pode ir tentar surfar uma onda no Guincho, mas não faça esta última manobra, por favor. Corre o risco de não poder fazer Erasmus e ainda deixa o_Ricky Martin desiludido e depois não há vida loca para ninguém. Ou de não conseguir tornar-se uma lenda viva do kitesurf. É escolher.

jose.capucho@ionline.pt