Desde o princípio das crises financeiras os portugueses já tinham enterrado no sistema bancário cerca de 17 mil milhões. Com o estoiro do Banif há que juntar mais 4 mil milhões para as primeiras impressões. A isso podemos somar uma necessidade de 400 milhões da CGD.
O Banif é, no mínimo, outro BPN e à cabeça custou mais que o BES. Querem, porém, consolar os pacóvios dos contribuintes com a ideia de que neste caso não há crime. Se quem permitiu (por falha na supervisão ou na gestão) que as coisas chegassem a este ponto não tem responsabilidade civil ou criminal, então estamos desgraçados. Há, no entanto, uma forte (ir)responsabilidade política. E essa é do governo anterior que escondeu a situação para não estragar o foguetório de uma saída limpa com direito a um ridículo relógio decrescente no Largo do Caldas. E, claro, para tentar ganhar as eleições.
Como sempre que há casos destes vai-se constituir uma comissão de inquérito parlamentar. Por aí estamos todos descansados. Sabemos que não servirá para prevenir nada, como aconteceu com a do BPN e, sobretudo, a do BES que basicamente deu boas audiências a canais de cabo e revelou novos talentos políticos, ao jeito da Voz de Portugal. Quem se vai dar mal é o governador Carlos Costa. Será abandonado pela antiga maioria e acossado pela nova que vai jogar tudo para que ele se demita do seu cargo inamovível.
Um facto incontroverso é que o Banif foi sempre um ponto de arranjos de lugares opíparos para dirigentes do PS, PSD e CDS que tinham normalmente a fantástica coincidência de pouco perceberem de banca conforme está à vista. Excepção feita para um administrador do Banif que era tão bom que saltou para o Banco de Portugal onde nada fez para evitar esta bancarrota.
A história recordará que para supostamente salvar o Banif (que chegou a ter acções a valer menos de um milésimo de euro) se proclamaram verdadeiras patranhas. A mais monumental era que a Guiné Equatorial, recém-enfiada na CPLP, iria salvar o banco com uma injecção de capital. Foi o que se viu. Nem um tostão furado quanto mais um cêntimo de euro. Com a queda do petróleo aquela Guiné juntou-se a outros produtores africanos que julgavam ser Arábias Sauditas. Colapsou e arrastou empresas de todo o tipo. Uma coisa é ter dinheiro nascido debaixo do chão. Outra é saber gerir e multiplicar essa riqueza. Há poucas “noruegas” e emirados no mundo capazes de criar fundos soberanos de excelência.
O caso Banif voltou a mostrar que, em Portugal, o governo (o anterior) e o Banco de Portugal só actuam depois das catástrofes. São reactivos e não proactivos. Há países como a Inglaterra, a Bélgica, a Espanha e até a Grécia em que, com as mesmas regras, os governos e os reguladores não hesitaram em avançar em vez de andarem num passa-culpas permanente e vergonhoso.
A decisão de vender o banco e arcarmos com 4 mil milhões de prejuízos teve de ser tomada de repente para não cairmos na nova regulação que entra em vigor em Janeiro. Se esta sova que levámos em cima é a solução benigna, então imagine-se o que será da próxima vez. Aterrador!
No meio do caos António Costa deu bons sinais. Pressionado pela bomba relógio que recebeu, actuou depressa e com firmeza. Minorou os danos. A opção de venda ao Santander tem de ser vista positivamente. O Santander não vem da Guiné, não pertence a um obscuro negociante chinês, a um milionário russo ou a um fundo de pensões que compra e aliena depois de despedir metade das pessoas. Aliás, antes da venda o primeiro-ministro teve outra intervenção corajosa ao dar garantias aos depositantes e ao explicar sem rodeios que os contribuintes iam pagar a prenda que lhes deixaram no sapatinho. Além disso, Costa não se escondeu atrás do regulador nem sacudiu a água do capote como outros fizeram aquando do BES. Mostrou sangue frio, mas, verdade se diga, falta saber se a solução encontrada foi mesmo a melhor. Para já parece que sim. Mas também parecia com o BES e com o BPN. E foi o que viu.
Era bom, entretanto, que as autoridades, governo e Banco de Portugal, viessem a público dizer como vai o estado de saúde da Caixa Económica e do Montepio no seu todo. A campanha eleitoral para os órgãos sociais foi uma vergonha com ataques e insinuações graves quanto à gestão de Tomás Correia que foi reeleito triunfalmente. Um ponto de situação seria muito útil para memória futura.
Nota: na edição da semana passada fui identificado por lapso como editor-executivo. A única ligação que mantenho ao jornal e ao grupo é a de cronista e de membro do conselho editorial que desempenho sem nenhuma contrapartida. A todos os que seguem no i e no Sol desejo que tenham a felicidade de descobrir a fórmula que salva jornais. Aos que saíram desejo que encontrem vias alternativas e de sucesso. Todos merecem.
Jornalista