Dizem que a velhice serve para descansar. E essa deve ser a premissa que muitos dos dirigentes da FIFA que agora estão a ser investigados e foram presos queriam que fosse verdade. Andrew Jenning tem 71 anos e dedicou os últimos 15 a investigar, em regime de freelance para a BBC, o caso da FIFA. Na manhã de dia 27 de Maio recebeu uma chamada, enquanto estava a dormir graças aos fusos horários diferentes: as autoridades suíças acabavam de entrar de rompante pelo Hotel de cinco estrelas Baur au Lac em Zurique, onde sete dirigentes do principal organismo de futebol (mais 16 este mês) estavam reunidos para o congresso que daria a reeleição de Sepp Blatter e que seriam detidos por suspeitas de corrupção. “Eu desliguei o telefone para tentar dormir mais um pouco, porque o que quer que esteja a acontecer às seis da manhã, ainda estará de pé à hora do almoço, não?” confessou com humor ao Washington Post.
Com metade de um século só a investigar casos de crimes de polícias corruptos, máfia italiana e mais recentemente desporto, Jennings foi o homem que começou a denunciar a teia de corrupção que envolve a FIFA. Primeiro em 2006 com o livro “Foul! The Secret World of_FIFA: Bribes, Vote Rigging and_Ticket Scandals”, e depois numa reportagem para a BBC, chamada “Panorama”. Seguiu-se, quatro anos depois, outro livro: “Omerta. Sepp Blatter’s FIFA Organised Crime Family”. Agora cada dado novo é rapidamente ligado às histórias do jornalista escocês. Quer um exemplo para perceber? O mesmo jornal em Junho, telefonou a Andrew que apelidou Blatter de dead man walking._Duas horas depois, o presidente demissionário da FIFA punha o seu lugar à disposição, pouco tempo após ter sido reeleito.
A relação com Blatter começou numa conferência de imprensa em Zurique em 2002, depois de voltar a ganhar a eleição para presidente. “Herr Blatter, já recebeu um suborno?”, perguntou-lhe na altura. Uma pergunta que se transformou no rastilho de toda a sua investigação. É que Jennings receberia nas suas mãos dezenas de documentos fundamentais para denunciar a corrupção que se tinha instalado naquele organismo.
A sua perseverança trouxe-lhe até alguns dissabores como expulsões de conferências ou agressões, mas também “bons amigos”. Seria acusado por difamação por Sepp, e até agredido por Jack_Warner, antigo vice-presidente da FIFA._Em 2009 passaria a trabalhar com o_FBI. “Eu dei-lhe os documentos que fizeram com que isto continuasse a ser investigado”, afirmou. O jornalista espera agora, feliz e quase reformado, assistir nos EUA ao julgamento destes executivos que terão recebido 137 milhões de euros em subornos. “Espero ter dinheiro para Nova Iorque, e que alguém me deixe dormir no sofá para poder dizer no Tribunal: olá malta, foi uma longa caminhada não foi?”.
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