“A todos, um Bom Natal…”


Prefiro cartões de Boas Festas ou um telefonema de viva voz… mas mesmo por SMS o que interessa é a intenção e o gesto de quem o envia.


Ao escrever este texto, que sai a 22 de Dezembro, pensei em abordar o tema que todos os cronistas elegem: o Natal. Mas «como», ou seja, o que dizer? Boas festas? Contribuir para o optimismo colectivo desta quadra natalícia? Ou “zurzir” no consumismo natalício, como também é hábito?

A idade já me permite algumas liberdades e, assim, resolvi declarar que gosto do Natal, e que isso não tem a ver apenas com as excelentes recordações de infância, o ritual da árvore e do presépio com os meus pais, ou a distribuição de presentes depois da missa do galo. Até porque, de criança a adulto, muita coisa mudou incluindo a minha relação com a Igreja e com a família.

Mas gosto do Natal porque ainda acredito que as pessoas são intrinsecamente boas, e que a humanidade caminha para estádios de desenvolvimento cada vez melhores, mesmo com ameaças do daesh ou crimes dos mais variados tipos.

Há quem desdenhe do envio de cartões de Natal, por despersonalizados quando remetidos a partir de uma lista de emails. Mas mesmo que seja escrever um só e fazer send to undisclosed recipient representa um momento em que pensamos em alguém. Uma pessoa é sempre uma importância. Escrever um cartão e enviar pelos CTT, “à maneira antiga”, a pensar no outro como pessoa singular, e assim rever amizades, afectos e carinhos, terá provavelmente um significado mais amplo, mas não reduzamos as intenções dos outros a meros estertores de um mundo artificial.

Compram-se muitos presentes. Mas mesmo com exageros, significa que pensamos nas pessoas, porque leva dois nomes: o de quem dá e o de quem recebe. O que personaliza, duplamente.

Visitamos amigos, telefonamos a outros, enviamos mensagens nas redes sociais. Mesmo que o pensamento seja fulgurante, não é bom saber que alguém pensou em nós por um milissegundo? Ainda bem que há luzes nas avenidas e é só é pena que haja pouca música nas ruas, como em algumas cidades europeias.

Está a faltar no nosso país uma injeção de crença. É bom acreditar nas pessoas e ensinar às crianças que é bom acreditar nas pessoas. Os cartões de Boas Festas, os sorrisos dos que se entrecruzam nas ruas, as iluminações, os concertos nas Igrejas, os presentes têm um significado que nenhum bota-abaixo pode derrubar.

Mais do que o Natal toma, preocupa-me, sim, aqueles a quem ninguém envia um SMS porque nem têm telemóvel, os que não recebem uma visita porque vegetam num lar, ou as pessoas que são pobres, espezinhadas e humilhadas, e para quem o Natal não existe.

Preocupa-me, sim, que a época natalícia e o Ano Novo não sejam entendidos como um momento óptimo para uma reflexão imensa, que produza melhorias e acertos, e que nos faça uma revalorização e de quem somos. Temos amigos e pessoas que nos amam e a quem amamos, mas muito há para fazer e não temos feito tudo o que devíamos.

Preocupa-me que pensemos que o material pode substituir o afetivo e o espiritual. Preocupa-me que deixemos, depois dos momentos quentes do Natal, as coisas andarem com lassidão e indiferença, e que sejamos pouco exigentes e pouco rigorosos com os governos, autarcas, o patrão, colegas, familiares e connosco próprios.

É por isso que, todos os anos, deveríamos ter um presente para nós próprios. Uma coisa simbólica que gostemos de dar e que gostemos de receber. Um presente simples mas especial, porque temos de nos ver como pessoas especiais. Porque só fazendo as pazes connosco é que conseguiremos ser melhor para os outros, e encontrar dentro de nós o Pai Natal que deseje, a nós próprios – e aos outros, como todos os leitores -, um excelente e feliz Natal. E um excelente e feliz 2016.

Pediatra, Escreve à terça-feira

“A todos, um Bom Natal…”


Prefiro cartões de Boas Festas ou um telefonema de viva voz… mas mesmo por SMS o que interessa é a intenção e o gesto de quem o envia.


Ao escrever este texto, que sai a 22 de Dezembro, pensei em abordar o tema que todos os cronistas elegem: o Natal. Mas «como», ou seja, o que dizer? Boas festas? Contribuir para o optimismo colectivo desta quadra natalícia? Ou “zurzir” no consumismo natalício, como também é hábito?

A idade já me permite algumas liberdades e, assim, resolvi declarar que gosto do Natal, e que isso não tem a ver apenas com as excelentes recordações de infância, o ritual da árvore e do presépio com os meus pais, ou a distribuição de presentes depois da missa do galo. Até porque, de criança a adulto, muita coisa mudou incluindo a minha relação com a Igreja e com a família.

Mas gosto do Natal porque ainda acredito que as pessoas são intrinsecamente boas, e que a humanidade caminha para estádios de desenvolvimento cada vez melhores, mesmo com ameaças do daesh ou crimes dos mais variados tipos.

Há quem desdenhe do envio de cartões de Natal, por despersonalizados quando remetidos a partir de uma lista de emails. Mas mesmo que seja escrever um só e fazer send to undisclosed recipient representa um momento em que pensamos em alguém. Uma pessoa é sempre uma importância. Escrever um cartão e enviar pelos CTT, “à maneira antiga”, a pensar no outro como pessoa singular, e assim rever amizades, afectos e carinhos, terá provavelmente um significado mais amplo, mas não reduzamos as intenções dos outros a meros estertores de um mundo artificial.

Compram-se muitos presentes. Mas mesmo com exageros, significa que pensamos nas pessoas, porque leva dois nomes: o de quem dá e o de quem recebe. O que personaliza, duplamente.

Visitamos amigos, telefonamos a outros, enviamos mensagens nas redes sociais. Mesmo que o pensamento seja fulgurante, não é bom saber que alguém pensou em nós por um milissegundo? Ainda bem que há luzes nas avenidas e é só é pena que haja pouca música nas ruas, como em algumas cidades europeias.

Está a faltar no nosso país uma injeção de crença. É bom acreditar nas pessoas e ensinar às crianças que é bom acreditar nas pessoas. Os cartões de Boas Festas, os sorrisos dos que se entrecruzam nas ruas, as iluminações, os concertos nas Igrejas, os presentes têm um significado que nenhum bota-abaixo pode derrubar.

Mais do que o Natal toma, preocupa-me, sim, aqueles a quem ninguém envia um SMS porque nem têm telemóvel, os que não recebem uma visita porque vegetam num lar, ou as pessoas que são pobres, espezinhadas e humilhadas, e para quem o Natal não existe.

Preocupa-me, sim, que a época natalícia e o Ano Novo não sejam entendidos como um momento óptimo para uma reflexão imensa, que produza melhorias e acertos, e que nos faça uma revalorização e de quem somos. Temos amigos e pessoas que nos amam e a quem amamos, mas muito há para fazer e não temos feito tudo o que devíamos.

Preocupa-me que pensemos que o material pode substituir o afetivo e o espiritual. Preocupa-me que deixemos, depois dos momentos quentes do Natal, as coisas andarem com lassidão e indiferença, e que sejamos pouco exigentes e pouco rigorosos com os governos, autarcas, o patrão, colegas, familiares e connosco próprios.

É por isso que, todos os anos, deveríamos ter um presente para nós próprios. Uma coisa simbólica que gostemos de dar e que gostemos de receber. Um presente simples mas especial, porque temos de nos ver como pessoas especiais. Porque só fazendo as pazes connosco é que conseguiremos ser melhor para os outros, e encontrar dentro de nós o Pai Natal que deseje, a nós próprios – e aos outros, como todos os leitores -, um excelente e feliz Natal. E um excelente e feliz 2016.

Pediatra, Escreve à terça-feira