Somos muito os livros que lemos


A leitura é fundamental para formas as pessoas como cidadãos e gente de corpo inteiro,é preciso contrarias uma cultura baseada nas redes sociais e no imediatismo.


“Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse ponto.”Edgar Allan Poe

Recentemente, quando me encontrava dentro das instalações de uma das livrarias de referencia de Lisboa, cruzei-me com um ex-aluno, que confesso já não via desde há  sete anos, quando, com a conclusão da licenciatura, se fez à vida. Esse encontro casual, aconteceu, com o ouvir de uma voz a dirigir-se a mim, dizendo, “…Boa tarde professor. Não se lembra de mim?…”. A voz pereceu-me meio familiar. A cara e o cabelo nem tanto. Ao perceber, o meu bloqueio, a mesma pessoa,  disse o nome, o ano, o curso e a turma de 2008.

Mas fez mais. Recordou-me que era o meu aluno de uma turma, que trabalhava há  época nos serviços do lixo de uma grande autarquia e que muitas vezes se sentava nas filas de trás, por não ter tido tempo de se arranjar como outros, para estar nas aulas. “…Professor, sou o aluno que mudava o fato do lixo na casa de banho da universidade. E lembra-se, sou o aluno que estudava só por fotocópias. Porque na altura não tinha dinheiro para comprar livros. Aliás professor, penso às vezes em si.

Porque o senhor chegou a emprestar-me livros e até a oferecer-me alguns livros escritos por si.” Confesso que fiquei sem saber o que lhe dizer. Recuei no tempo e lembrei-me bem de tudo o que me estava a descrever. Um dos alunos que mais dificuldades tinha de meios, mas um dos poucos que nunca faltava, um dos que mais se esforçava e intervinha. E um dos mais correctos. Mas, ele ali à minha frente, de relance,  parecia outra pessoa. A cara, o cabelo, a forma de vestir. Depois de lhe dizer, que me lembrava bem dele, perguntei-lhe, então e agora o que está a fazer? Ele respondeu-me “…Olhe professor.

Estou a dar apoio aos serviços jurídicos e administrativos da autarquia. Entrei por concurso após acabar o curso. Casei-me e vou ser pai…”. Mas disse-me mais. “…E vim aqui ver livros e ver o que vou comprar para o Natal…”. “…Sabe, professor, desde que passei a ter dinheiro para comprar livros, compro alguns e gosto cada vez mais, porque somos muito os livros que lemos…”. Esta sua ultima frase não me sai da cabeça. Dita ainda por cima, por uma pessoa, que se esforçou e fez tantos sacrifícios, para estudar, para se licenciar e que eu testemunhei, que para ele ter qualquer livro, era e foi, durante tantos anos, um luxo. Não escondo, que fiquei, por um lado muito satisfeito, por ver uma pessoa realizada, com um projeto de vida, que soube utilizar o seu “passaporte” académico convenientemente e por outro lado fiquei meio emocionado, por perceber que soube valorizar muito do que eu e outros colegas lhe transmitimos. E a frase, “…Somos muito os livros que lemos…”, tem tanto de simples, como de certeira.

Ainda por cima num país, como o nosso, em que infelizmente os índices de leitura são baixos, em termos comparativos com outros países europeus. E num quadro, infelizmente, cada vez mais negro, ao nível da valorização da leitura, dos livros, dos jornais, das revistas, da própria escrita.  Aliás, os últimos estudos, sobre estas matérias, dizem-nos que existem menos editoras e que se vendem menos livros. Tudo consequências da desvalorização que a nossa sociedade promove cada vez mais ostensivamente contra a leitura e os livros, e os jornais e as revistas; em detrimento do generalismo e da mediocridade, que se afirmam nas redes sociais, em que impera uma obsessão  anti-leitura e anti-livros,  enquanto instrumentos para a estruturação de cada um dos cidadãos, na sua formação cívica, profissional, académica e  até científica. E de facto é verdade: nós, todos, somos muito os livros que lemos. Para com liberdade, formar-mos opinião, apreendermos conhecimento, usarmos o nosso espírito critico, participarmos na vida coletiva,  propormos soluções, e como cidadãos de corpo inteiro podermos ser dignos da utilização do saber, como arma de transformação das nossas sociedades.  

Por isso, em tempo de Natal, eu continuo fiel ao hábito de sempre: ofereço livros. E gosto que me ofereçam livros. Agradeço aos que me trouxeram ao mundo, há 50 anos, terem-me sempre proporcionado o hábito dos livros, dos jornais e das revistas, estarem sempre perto de mim.


Somos muito os livros que lemos


A leitura é fundamental para formas as pessoas como cidadãos e gente de corpo inteiro,é preciso contrarias uma cultura baseada nas redes sociais e no imediatismo.


“Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse ponto.”Edgar Allan Poe

Recentemente, quando me encontrava dentro das instalações de uma das livrarias de referencia de Lisboa, cruzei-me com um ex-aluno, que confesso já não via desde há  sete anos, quando, com a conclusão da licenciatura, se fez à vida. Esse encontro casual, aconteceu, com o ouvir de uma voz a dirigir-se a mim, dizendo, “…Boa tarde professor. Não se lembra de mim?…”. A voz pereceu-me meio familiar. A cara e o cabelo nem tanto. Ao perceber, o meu bloqueio, a mesma pessoa,  disse o nome, o ano, o curso e a turma de 2008.

Mas fez mais. Recordou-me que era o meu aluno de uma turma, que trabalhava há  época nos serviços do lixo de uma grande autarquia e que muitas vezes se sentava nas filas de trás, por não ter tido tempo de se arranjar como outros, para estar nas aulas. “…Professor, sou o aluno que mudava o fato do lixo na casa de banho da universidade. E lembra-se, sou o aluno que estudava só por fotocópias. Porque na altura não tinha dinheiro para comprar livros. Aliás professor, penso às vezes em si.

Porque o senhor chegou a emprestar-me livros e até a oferecer-me alguns livros escritos por si.” Confesso que fiquei sem saber o que lhe dizer. Recuei no tempo e lembrei-me bem de tudo o que me estava a descrever. Um dos alunos que mais dificuldades tinha de meios, mas um dos poucos que nunca faltava, um dos que mais se esforçava e intervinha. E um dos mais correctos. Mas, ele ali à minha frente, de relance,  parecia outra pessoa. A cara, o cabelo, a forma de vestir. Depois de lhe dizer, que me lembrava bem dele, perguntei-lhe, então e agora o que está a fazer? Ele respondeu-me “…Olhe professor.

Estou a dar apoio aos serviços jurídicos e administrativos da autarquia. Entrei por concurso após acabar o curso. Casei-me e vou ser pai…”. Mas disse-me mais. “…E vim aqui ver livros e ver o que vou comprar para o Natal…”. “…Sabe, professor, desde que passei a ter dinheiro para comprar livros, compro alguns e gosto cada vez mais, porque somos muito os livros que lemos…”. Esta sua ultima frase não me sai da cabeça. Dita ainda por cima, por uma pessoa, que se esforçou e fez tantos sacrifícios, para estudar, para se licenciar e que eu testemunhei, que para ele ter qualquer livro, era e foi, durante tantos anos, um luxo. Não escondo, que fiquei, por um lado muito satisfeito, por ver uma pessoa realizada, com um projeto de vida, que soube utilizar o seu “passaporte” académico convenientemente e por outro lado fiquei meio emocionado, por perceber que soube valorizar muito do que eu e outros colegas lhe transmitimos. E a frase, “…Somos muito os livros que lemos…”, tem tanto de simples, como de certeira.

Ainda por cima num país, como o nosso, em que infelizmente os índices de leitura são baixos, em termos comparativos com outros países europeus. E num quadro, infelizmente, cada vez mais negro, ao nível da valorização da leitura, dos livros, dos jornais, das revistas, da própria escrita.  Aliás, os últimos estudos, sobre estas matérias, dizem-nos que existem menos editoras e que se vendem menos livros. Tudo consequências da desvalorização que a nossa sociedade promove cada vez mais ostensivamente contra a leitura e os livros, e os jornais e as revistas; em detrimento do generalismo e da mediocridade, que se afirmam nas redes sociais, em que impera uma obsessão  anti-leitura e anti-livros,  enquanto instrumentos para a estruturação de cada um dos cidadãos, na sua formação cívica, profissional, académica e  até científica. E de facto é verdade: nós, todos, somos muito os livros que lemos. Para com liberdade, formar-mos opinião, apreendermos conhecimento, usarmos o nosso espírito critico, participarmos na vida coletiva,  propormos soluções, e como cidadãos de corpo inteiro podermos ser dignos da utilização do saber, como arma de transformação das nossas sociedades.  

Por isso, em tempo de Natal, eu continuo fiel ao hábito de sempre: ofereço livros. E gosto que me ofereçam livros. Agradeço aos que me trouxeram ao mundo, há 50 anos, terem-me sempre proporcionado o hábito dos livros, dos jornais e das revistas, estarem sempre perto de mim.