Grammy. Os prémios onde Portugal é ópera (remix)

Grammy. Os prémios onde Portugal é ópera (remix)


Não. Não sabemos a receita secreta dos Pastéis de Belém. Não vamos mandar vinho do Porto ao amigo de erasmus da nossa prima afastada. Também não nos vamos meter a escrever linhas insultuosas para a irmã do Cristiano Ronaldo – a propósito, ele é da Madeira, o primeiro clube onde jogou foi o CF Andorinha…


O problema da balança comercial portuguesa é tão antigo que um parágrafo quase chega para enumerar todos os portugueses com renome internacional. As nossas exportações parecem sempre curtas. Na música, por exemplo, há quem dê cartas – ou será normal a pessoa que escreve esta página estar num pub em Bruxelas e começar a ouvir “Wegue, Wegue, wegue..”? Ainda assim, no veículo musical, os nomes não se decoram tão facilmente, a fama não se propaga aos quatro cantos do mundo como no futebol e na gastronomia. Acontece que quase todos os anos há quem tenha o seu momento de fama através dos Grammy Awards. Compatriotas que posam no red carpet e que não são obrigados a parar pelos fotógrafos, mas que, ainda assim, nos podem encher de orgulho. A cerimónia da 58ª edição dos Grammy só acontece em 2016, embora já se possa encontrar os nomeados. Entre eles três portugueses: André Allen Anjos (conhecido pelo seu projecto Remix Artist Collective ou apenas RAC) e os cantores de ópera Fernando Guimarães e João Fernandes, através de um espectáculo que fizeram com a orquestra Boston Baroque. Altura de os conhecer melhor.

Foi em Portland, nos EUA, que André Allen Anjos se fixou para criar RAC. Estávamos em 2007 e a ideia do portuense é perfeitamente visível no nome: criar remisturas de tudo o que fosse música, sem preconceitos em torno do estilo, de nomes como The Shins, Radiohead, Lady Gaga, Bloc Party. Começou por fazê-lo a meias, com Aaron Jasinski, Chris Angelovski, mais tarde com Andrew Maury e Karl Kling, mas depressa o projecto se tornou apenas seu. Em 2014 lançou o seu disco de estreia “Strangers”, de onde se pode extrair a sua faixa – original, curiosamente – mais conhecida “Let Go” com Kele Okereke, dos Bloc Party, e MNDR. Ainda assim, foi por “Say My Name”, um remix da dupla electrónica Odesza, feita a meias com a cantora inglesa Zyra. Foi nomeado na categoria Remistura e está ao lado de nomes como CFCF, Fatum, Kaskade e Dave Audé.

 Nem só na electrónica Portugal anda a dar cartas. Falamos de ópera, manifestação artística que sempre parece não fazer parte do nosso mundo, de tão exclusiva que é. Enganamo-nos e esta nomeação pode bem ser o empurrão que desperta o interesse. Nomeados para Melhor Gravação de Ópera, Fernando Guimarães e João Fernandes participaram na peça “Il ritorno d’Ulisse in Patria”, de Claudio Monteverdi. Feita pela orquestra Boston Baroque, sob a direcção do maestro Martin Pearlman, a peça foi gravada em 2014, editada pela Linn Records, e Fernando Guimarães, tenor português, interpreta Ulisses, protagonista. João Fernandes, baixo, também faz parte do elenco.

Jovem que estudou ópera em Londres, onde recebeu o European Premier Prix, alavanca que o permite actualmente ser presença assídua dos maiores palcos de ópera mundial. Fernando Guimarães formou-se no Porto, tendo recebido, em 2007, o Prémio Jovens Músicos da RDP. A sua carreira já é extensa tendo colaborado com as formações L’Arpeggiata, Orquesta Barroca de Sevilla, Ludovice Ensemble, entre outros. Isto não é a Bola de Ouro, mas podemos começar a fazer figas.