Olímpia Feteira. ‘Desde que Duarte Lima foi condenado no BPN deixei de receber ameaças’

Olímpia Feteira. ‘Desde que Duarte Lima foi condenado no BPN deixei de receber ameaças’


A herdeira do milionário Lúcio Feteira conta as promessas que o pai fez e nunca cumpriu e ainda o que pensa de Rosalina Ribeiro 


É a cabeça de casal de uma das maiores heranças do país, mas comprou há pouco tempo uma Renault 4L para se deslocar quando está na casa de férias, na margem sul do Tejo. Já em Lisboa, Olímpia Feteira Menezes desloca-se num Nissan com vários anos. Depois de um período de grande mediatismo, decidiu afastar-se dos holofotes para preservar a sua intimidade, mas agora aceitou contar (quase) todos os segredos desta herança ao i: Michel Cannals, arguido na Operação Monte Branco e gestor de Lúcio Feteira na UBS, não queria dar-lhe informação sobre as contas do pai, recebeu ameaças em Lisboa e acredita que a queriam calar para sempre. Numa altura em que já não acredita que vai conseguir recuperar todo o dinheiro deixado pelo pai, revela o seu único medo: morrer de forma violenta.

É a cabeça de casal de uma herança que parece não ter fim. Ao fim destes anos já sabe quanto dinheiro o seu pai deixou?

Não. Nunca consegui saber porque faltam elementos do gestor das contas nos Estados Unidos da América, sobretudo no Chase Manhattan. A pessoa que tinha essas funções tem conseguido escapar de ser questionado.

Esse gestor é Higino Thomas Roiz, que chegou a ser investigado pela polícia brasileira (dadas as ligações a Rosalina Ribeiro)?

É… Mas eu prefiro não falar em nomes em concreto.

Mas nos outros países já foi feito o cálculo…

Em Portugal já, na Suíça e no Brasil também, até o que foi retirado por Rosalina. Mas nos Estados Unidos e possivelmente na Suíça é mais difícil saber ao certo porque eram coisas que estavam centradas nas mãos do Michel Cannals [principal arguido na rede suíça de branqueamento de capitais investigada na Operação Montebranco] e de um gerente de contas dela no BCP.

Em relação a Portugal Suíça e Brasil, pode dizer-me por alto de que valores estamos a falar?

Não arrisco para já números. Estamos a falar milhões.

Em que banco tinha o seu pai contas?

Na UBS, no Chase Manhattan, e em Portugal era o depositante número 6 do Banco do Brasil e trabalhava ultimamente com o BCP.

Durante estes anos foi falar com os gestores de conta dele saber o porquê destas dificuldades, nomeadamente na Suíça, onde Michel Cannals era o gestor?

Sabe, o meu pai morreu com uma idade muito avançada e os seus amigos e pessoas próximas – como os diretores dos bancos – praticamente tinham falecido todos. Existe um que vive na Côte D’Azur, mas é o único. Não tenho tido acesso a quem teve o dossier dele nos vários bancos, essa foi uma das dificuldades. Além de que há coisas e documentos que foram mesmo destruídos.

Mas já falou com Michel Cannals…

Sim. Ele primeiro fez uma grande resistência para me dizer quais os montantes em causa, são acções de tudo e mais alguma coisa carteiras muito diversificadas. Tivemos uma grande luta e ele inclusivamente quis ver se me despachava para Portugal, mas eu não saí dali porque tinha a responsabilidade de trazer tudo. Aí deu-me os dados até 30 de Novembro do ano em que o meu pai morreu, mas faltava ainda os movimentos feitos desde essa data até ao dia da morte, 15 de Dezembro.

E conseguiu?

Ele fez alguma pressão mas lá acabou por entregar. Entregou-me pessoalmente. Num desses encontros até me pediu um cigarro, uma coisa surreal.

Quantos processos existem?

Há pouco tempo ganhámos um, relativo ao desvio do BCP – deste banco Rosalina levantou dinheiro de contas que estava à ordem, cerca de 400 mil euros. O processo já transitou em julgado e só falta executar, têm de ser os herdeiros a pagar. Além disso, em Portugal existe ainda o processo do inventário e um processo-crime contra Duarte Lima, por este não ter justificado a recepção dos milhões recebidos das contas de Rosalina.

E no Brasil?

No Brasil praticamente extinguimos tudo o que havia antigamente. Ganhámos a célebre união estável que Rosalina tentou, foi o osso mais duro de roer, mas conseguimos. E, neste momento, temos o processo do inventário e estamos a terminar. Surgiu agora um processo do afilhado, posto por ele.

Não foi posto por si?

Não, nunca pus nenhum processo. A lei é linear. Como ele só disse quais eram os bens dela e não as dívidas. Quando descobriram arrestaram tudo. Ele era o único herdeiro lá. E descobriram as dividas no âmbito do processo do arresto de Rosalina.

Houve falta de diálogo com Armando Carvalho, o herdeiro de Rosalina no Brasil?

Ele nunca se aproximou de nós. Da última vez que estive no Brasil disseram-me que perguntou se eu estaria disposta a recebê-lo para falarmos. Eu disse que sim, mas não tive qualquer resposta. Ele está a ver mal as coisas. Ele não tem poder sobre a herança da Rosalina, a herança está congelada neste momento, foi arrestada uma vez que servirá para pagar as dívidas dela.

Mudando de assunto, como foi viver parte da sua vida afastada do seu pai?

Só estivemos afastados desde o aparecimento da Rosalina. Isso aconteceu quando eu estava a trabalhar na Covina [empresa principal de Lúcio  Feteira] e o meu pai era administrador da empresa, mas de resto ele sempre me acompanhou. Mesmo as guerras que acabaram por existir entre ele e a minha mãe [Olímpia é filha de uma relação extraconjugal] passaram-me ao lado, não era comigo. Ele viajou comigo e com o meu irmão [filho de Maria Adelaide, mulher de Lúcio Feteira]. As guerras que havia eram com a minha mãe.

E quando é que a Rosalina entrou na vida dele?

O meu pai tinha 78 anos e eu já estava na Cofina, tinha 30 e tal.

E é aí que ele se desliga de si?

Ele não, ela é que foi cavando à volta dele, dos grandes amigos, da família, o afastamento. Tentou isolá-lo e ele já estava fragilizado, não tinha a energia que se tem aos 40 anos – sei-o hoje por experiência própria. A mulher da vida dele [Maria Adelaide] ainda estava viva e eu comecei logo a ver onde Rosalina queria chegar quando ela começou a criar fossos, problemas e discórdia entre todos.

Como foi a sua relação com a mulher do seu pai?

Foi óptima, ela inclusivamente gostava imenso de mim. Eu e o meu filho íamos lá jantar a casa muitas vezes. Foi sempre uma relação cordial.

Mas ficaram-lhe mágoas do que o seu pai fez em vida?

É mais um lamento. Lamento que um homem com a inteligência dele, com as capacidades dele, se tenha deixado influenciar e ir tão para o fundo com uma mulher daquelas. Uma mulher que nem sequer tinha condições para o acompanhar, que não tinha cultura. Ela não queria saber das histórias que ele contava porque não percebia, aliás via-se que eles não tinham um diálogo normal. Nós os dois tínhamos diálogos muito maiores. Lamento e houve várias pessoas, entre as quais amigos, que o tentaram chamá-lo à realidade.

Diz que Rosalina o isolou. Mas como?

Assustou-o, sobretudo, dizendo que a família lhe fazia não sei quantas coisas e que o metia num lar. E nunca ninguém pensou em tal.

O seu pai teve muitas mulheres na sua vida. Conheceu mais algumas?

Algumas…

E como é que a Olímpia lidava com essa característica dele?

Eu era distante, não era mal-educada – até porque ele não me consentiria – mas via aquilo como um destino fatal…

E como é que ele as apresentava?

Como amigas. Dizia sempre: “Esta senhora é muito bonitinha”. A gente já sabia onde aquilo ia parar (risos). Mas tenho pena que ele se tenha aviltado tanto na relação com a Rosalina e falo disto porque até o próprio testamento dele mostra que ele não teve ninguém ao seu lado para o chamar a atenção sobre a asneira que estava a fazer.

Que asneira?

Então ele faz uma fundação com o nome “Família Feteira” e a herança vai toda parar à família Dâmaso dos Santos?! Então para isso que chamasse à fundação Lúcio Feteira, agora “Família Feteira” não. Não houve um único sobrinho dele – e ele gostava deles – que recebesse um chavo.

Mas quem são os Dâmaso dos Santos?

A família da mulher era descendente do Dâmaso dos Santos.

Portanto foi muito mais para a família de Maria Adelaide?

Foi tudo para a família da mulher, ele estava convencido que era eterno e que morreria depois da mulher. Bastou isso para inverter tudo, passaram a ser os sobrinhos da senhora dona Adelaide a receber a herança. Ainda que a fortuna venha toda do lado dos Feteira.

Fala-se muito do seu pai e não tanto da sua mãe, mas ela era mais próxima de si. Como vê que hoje o seu pai esteja muito mais presente na sua vida por todos estes problemas?

Não penso nisso. Ela esteve presente sempre. E manteve até ao fim um desprezo e uma atitude para com o meu pai bastante grave. Com a minha mãe não se brincava, ou por ser filha de um oficial ou por outro motivo, ela punha tudo na linha.

Mas porquê essa raiva toda?

Porque o meu pai a enganou. Pura e simplesmente… Fizeram uma peregrinação cheia de promessas e depois ele não cumpriu nada. Ela tem uma grande ascendência e ela não aceitava essas falhas e além disso tinha uma personalidade muito forte.

Mas que promessas? De que se iria divorciar de Maria Adelaide?

Exactamente. Nesse ponto o feitio da dona Adelaide não tinha comparação com o da minha mãe. A dona Adelaide ia aceitando o que ele ia fazendo. A minha mãe nunca o perdoou. E quando estava já muito doente, ele queria fazer uma das cenas canalhas dele e ir lá vê-la. Eu disse-lhe para não ir, que ele não podia ir irritar ainda mais uma pessoa que já estava com um sofrimento horrível.

E ele?

Para ele tudo aquilo era normal. Ele tinha uma filosofia de vida muito própria.

Disse que as guerras eram entre eles mas levou com algumas por tabela, não?

Sim, muitas sobraram para mim. Apanhava por tabela. Ainda que tenha tentado sempre manter-me à parte das guerras e das trocas de cartas entre eles.

E a mulher dele nunca o pressionou para mudar?

Sim, mas tinha um feitio diferente. O que ele fez com a minha mãe – de prometer coisas e não cumprir – também fez com a senhora dona Adelaide. Por exemplo, quando o cadáver do meu irmão veio para Portugal ele jurou-lhe que iria afastar a Rosalina. Depois foi o que se viu, ainda piorou…

Esta herança trouxe-lhe os problemas normais do dinheiro e o homicídio de Rosalina baralhou ainda mais o que já era complicado. Como lidou com as suspeitas que recaíram sobre si?

Fiquei tranquila. Eles também não podiam condenar sem provar. Não havia ligação nenhuma, não havia hipótese de nada, as minhas viagens ao Brasil foram todas marcadas e toda a gente sabe onde eu vou e com quem estou. Não conheço jagunço nenhum, era absurdo. E mais, era ainda mais absurdo eu querer a morte dela numa altura em que tinha as provas dos roubos dela. E provas escritas. O resto era a justiça que tinha de tratar.

Não gostava de Rosalina e sempre disse que foi a mulher que estragou a vida do seu pai, mas não ficou impressionada com os contornos desta morte?

Ah, isso olho como um ser humano, deve ser terrível ser morta daquela forma. Impressiona-me, não por ser a Rosalina Ribeiro, mas por ser um ser humano.

A polícia brasileira investigou-a, depois decidiu chamá-la ao Rio de Janeiro para interrogá-la de uma forma dura. Como foi essa sensação?

Estava absolutamente calma e tranquila. E mesmo a postura da polícia não chegou sequer a ser ofensiva. Eles não sabiam se eu era um santo ou um diabo e portanto vi tudo aquilo como normal. E houve respeito.

Há acusações mútuas: A Olímpia acusava a Rosalina de desvios de dinheiro e Rosalina acusava-a de dilapidar património do espólio antes da conclusão do inventário. Como vê esta acusação?

Não, não, nada. A primeira venda foi em 2007, quando se resolveu o problema com o Sousa Cintra.

E havia um processo em Lisboa em que Rosalina tinha de vir depor em Dezembro de 2009, ou seja poucos dias depois de ter sido assassinada…

Era o processo da Suíça e nós tínhamos um documento que ela tinha assinado dizendo que o dinheiro desviado era dela.

Antes de ligar o gravador disse-me que tinha provas fortes que nunca foram tornadas públicas e que provam que nada teve a ver com esta morte e que nem ganhava nada com isto. Quais são?

São três coisas que vou guardar até ao fim, mas vou-lhe dar o exemplo de uma. Eu mandei fazer uma investigação ao desaparecimento da Rosalina quando soube que não se sabia do paradeiro dela.

Pediu a detectives que a investigassem?

Sim, foi pedida a uma firma especializada. Eu quando passo por aquela rua de Lisboa [onde fica a empresa de detectives] ainda tremo. Eu nem sabia que aquilo existia, mas graças a Deus tenho amigos que me deram a conhecer e cheguei lá.

Qual era o seu objetivo?

Queria saber onde ela estava, desconfiava que pudesse ter fugido para não comparecer em tribunal.

E quais foram as conclusões?

Eles concluíram que ela não tinha regressado para Portugal, que não estava no Algarve onde ela passava períodos grandes.

Mas essa investigação estendeu-se ao Brasil?

Não, só aqui em Portugal. Eu tinha estado no Brasil uma semana antes de ela ser assassinada porque tinha várias coisas para ser tratadas e aproveitei porque o meu filho tinha lá uma conferência.

Sim…

Ela tinha sido chamada a depor pelo tribunal português e tinha saído pouco antes para o Brasil com autorização – sim, porque estava com Termo de Identidade e Residência. Eu soube do seu desaparecimento, mas não sabia se ela estava ainda lá ou se já tinha voltado. Sabia era que ela tinha de ir ao tribunal porque desta vez não se poderia limitar ao silêncio, como fazia sempre. Desta vez havia documentos, e com a assinatura dela. Tinha mesmo de falar. No processo consta que o advogado dela pediu para prolongar a estada dela no Brasil.

Mas vamos por partes, se sabia que ela estava no Brasil porque faz uma investigação ao seu paradeiro em Portugal?

Porque poderia ter saído do Brasil para Portugal ou Espanha, vinda por Madrid. Mas estar escondida em algum sitio. Foi uma surpresa total quando recebi a notícia de que tinha sido morta. Uma surpresa total. Esta era uma altura em que tudo estava calmo, esperava-se apenas o processo.

Alguma vez ponderou por um ponto final nesta guerra, alguma vez pensou em desistir e aproveitar para viver a vida? Até porque o dinheiro que sobra é muito…

Não. Sabe, o dinheiro, eu já nem tenho esperança que se venha a recuperar na íntegra. Se se recuperar é uma parte pequena. Não luto pelo dinheiro, é por uma questão de justiça.

Que justiça?

Sabe, Rosalina foi uma pessoa que toda a vida foi má, particularmente para o meu pai. Privou-o de ter uma velhice decente quando ele tinha possibilidades de ser assistido por enfermeiros, como aconteceu com a mulher dele. Mas a Rosalina nunca lhe proporcionou isso, era o motorista que tratava do meu pai. Isso era uma das coisas que mais me impressionava.

Mas o que lhe tem custado tudo isto?

Tem-me custado caro, isso tem. Mas eu prezo a justiça e essa seria a minha grande vitória. E já foi uma grande vitória ter tido a oportunidade de provar o que ela fez, mas apareceu o Duarte Lima que é uma pessoa que já provou ter mau carácter – atingindo até o próprio filho.

O que sente hoje da Justiça portuguesa?

Uma grande desilusão, não vou dizer mais nem vou contar mais coisas porque também não quero que me comecem a ver de ponta. Mas o que eu entendia que devia ser justiça não existe, os processos não andam: ficam anos. O sistema que usaram, a mudança constante de inspetor no processo do crime de desvio por parte de Rosalina [que terminou com a morte de Rosalina] não se entende.

E da Justiça brasileira?

No Brasil ainda compreendo, porque lá nada tem pressa. Quando se diz que é amanhã é para a semana. Lá é uma norma, a filosofia é completamente diferente. Tenho, por isso, de encarar com outra naturalidade o que se passa.

Já agora, vai estar presente no julgamento de Duarte Lima no Brasil, que deverá ser em Março?

Não sei se vou estar, só se houver interesse que esteja presente. Mas o meu advogado vai estar de certeza.

Já que tocou no assunto, como vê hoje os advogados?

Não entendo algumas coisas. Digo-lhe que um pouco da minha desilusão com a Justiça se estende aos advogados.

Alguma vez alguém lhe pediu dinheiro para fazer justiça?

Não, isso não. Mas houve pessoas que avançaram e que tinham o intuito de me pedir dinheiro, mas isso comigo não seria possível.

Pessoas ligadas à justiça?

Figuras de peso que me contactaram por intermédio de amigos para agilizar os processos. Mas eu nunca procurei influências e sempre percebi que era possível levar um lápis daqui para aqui [pega num lápis que estava em cima da mesa e faz o movimento] mas que isso tinha um preço. E vem de baixo para cima.

E ameaças recebeu nos últimos tempos?

Ultimamente, desde que começou o processo do Duarte Lima relativo ao BPN – e também com a acusação no Brasil – passei a ter mais sossego. Mas de facto tive períodos complicados. Eu considero que tenho um defeito excelente: é ser inconsciente, não sou corajosa, sou inconsciente. Muitas das coisas passaram-me tão ao lado que até deve ter causado alguma admiração a quem me queria intimidar…

Então houve ameaças?

Houve várias e algumas bastante desagradáveis, mas fui lidando com elas com alguma naturalidade. Ainda tive de ir à polícia e fazer, por duas vezes, participações. Uma delas foi na esquadra de Belém e outra foi um caso mais grave.

Mais grave?

Sim, cheguei a ver a minha vida andar para trás.

Viu pessoas perto de si?

Eu via pessoas com regularidade. Havia um carro que estacionava perto da minha casa e ficava lá a vigiar-me. Era permanente. Num dia, havia obras na rua e um tapume, e quando cheguei vi essa pessoa que me vigiava escondida nesse tapume. Corri para a esquadra de Belém e disse à polícia que não voltaria para casa.

E o que aconteceu?

O individuo, para aí com 40 anos, foi chamado à esquadra para depor e falou de coisas do Brasil, mas coisas muito baralhadas. Ele era português mas falou de coisas do Brasil.

O quê em concreto?

A polícia teve dificuldade de entender o que ele disse, mas uma coisa é certa ele admitiu que estava a vigiar-me. A partir daí nunca mais lá pôs os pés.

E foi a única ameaça?

Não, houve umas mais graves. O meu advogado um dia foi avisado de que tinham vindo de Belo Horizonte dois jagunços para Portugal e que a missão deles era fazer-me mal. Na altura o doutor José António Barreiros participou à polícia e como eu estava também prestes a aterrar em Lisboa quando surgiu o alerta ele foi-me buscar ao aeroporto com seguranças. Tive uma grande recepção e eles estavam armados.

Mas de onde veio esse alerta?

Desculpe, mas não posso dizer.

E o que aconteceu depois?

Tive de ir dormir a um hotel, não pude ir para casa. E o guarda-costas ficou a dormir no mesmo hotel. Se abria a porta para ir tomar o pequeno-almoço aparecia-me logo o guarda-costas (risos). Tive de ir trabalhar, reuniões com clientes com o guarda-costas atrás.

Disse ainda há pouco que desde que Duarte Lima foi condenado em Portugal e acusado no Brasil que as coisas acalmaram para si. Acha então que foi Duarte Lima que estava por trás disso tudo?

Não podia ser mais ninguém. É que não podia ser mais ninguém. Assim ele deixaria de ter alguém pela frente, era óptimo. Os outros herdeiros não se preocupariam com nada disto.

Por essa lógica, o objectivo seria calá-la?

O ideal seria calar-me, como a polícia acredita que fez com a outra. Mas em Portugal não seria assim tão fácil. Acho que, sobretudo, era para me intimidar. Foram anos e psicologicamente foi muito desgastante.

Tem medo de morrer?

De forma violenta gostava que não fosse. Agora, todos temos a nossa vez, o que é que eu hei-de fazer…