Juros da FED. A era do dinheiro barato ainda não acabou

Juros da FED. A era do dinheiro barato ainda não acabou


Subida dos juros nos Estados Unidos não será seguida na Europa, onde a taxa do BCE e as euribor se manterão  baixas.


O aumento dos juros pela Reserva Federal dos Estados Unidos não deverá provocar alterações de fundo no preço do dinheiro na Europa, que vai continuar em mínimos históricos durante algum tempo. Os juros dos créditos no velho continente deverão ficar inalterados pelo menos no próximo ano, para alívio das famílias com empréstimos.

A FED anunciou anteontem a primeira subida das taxas de juros em quase uma década. A principal taxa com que os bancos se financiam junto do banco central americano passou para um intervalo entre 0,25% e 0,5%, depois terem ficado num intervalo entre 0% e 0,25% desde a crise financeira do subprime, que provocou uma recessão quase sem precedentes na economia americana e mundial.

Os juros baixos durante anos tinham um propósito: facilitar a circulação de dinheiro na economia. E, com maior ou menor desfasamento, vários bancos centrais em todo seguiram a opção da FED, incluindo o BCE. É por esse motivo que os consumidores portugueses vivem há vários anos com juros anormalmente baixos.

Mas quem temesse que a subida decidida esta semana viesse interromper este longo bálsamo deve ficar tranquilo. Pelo menos no próximo ano. “Vemos como pouco provável que o anúncio da Reserva Federal tenha impacto sobre a tomada de decisão do BCE”, diz ao i Enrique Diaz-Alvarez, diretor de risco da Ebury, uma consultora especializada no mercado cambial.

Para este economista, as taxas euribor – que tendem a oscilar em função da taxa do BCE e servem de referência para os créditos à habitação – vão também também permanecer “baixas no curto prazo”. Ontem, a generalidade das euribor mantiveram-se inalteradas. As de três e seis meses, as mais utilizadas no crédito para habitação, estõa em terreno negativo.

Numa análise à decisão da FED, a gestora de activos Blackrock  também desdramatizou a subida do juros: “Embora as taxas já não estejam a zero, permanecem extremamente baixas e vão provavelmente ficar baixas durante algum tempo”.

Economias divergentes A estabilidade dos juros na Europa explica-se pela divergência entre as economias da Europa e dos Estados Unidos. Do outro lado do oceano, há claros sinais de dinamismo económico, quando o velho continente está com um crescimento anémico e com o desemprego ainda elevado em muitos países. 
No início do mês, o BCE anunciou a ampliação do programa de compra de activos que tem levado a cabo nos últimos anos e baixou as previsões de inflação e de crescimento, por isso é pouco expectável qualquer alteração nas taxas de juro a curto prazo.

Como as taxas a que os bancos emprestam dinheiro entre si e aos consumidores reflectem a taxa directora do BCE, não será tão depressa que as famílias vão viver os dias agitados de 2008, em que o BCE tinha os juros em 4,5%, as euribor dispararam com os receios no mercado e as famílias viveram dias desesperados para pagar os juros galopantes do crédito da casa.

Mais do que efeitos nos juros europeus, a decisão da FED tem de facto impacto nos mercados, mas sobretudo a nível cambial – e indirectamente nas trocas com o exterior de cada país. As oscilações das divisas tendem a seguir o sentimento de confiança dos investidores e, como a decisão da Fed mostra confiança na recuperação económica,  a decisão “deve levar a um enfraquecimento gradual do euro contra o dólar no próximo ano”, antecipa Enrique Diaz-Alvarez. A paridade entre as duas moedas é agora vista como o cenário mais provável, o que trará efeitos mistos numa economia aberta como a portuguesa (ler ao lado).

O discurso confiante da presidente da FED ajudou ao sentimento do mercado. Janet Yellen frisou que a decisão de aumentar os juros marca “o fim de um período extraordinário” anos com taxas próximas de zero, em que o propósito é “apoiar a recuperação da economia depois da pior crise financeira desde a Grande Depressão”.