Banca já perdeu perto de 7 mil trabalhadores. Só Banif dispensou 1100

Banca já perdeu perto de 7 mil trabalhadores. Só Banif dispensou 1100


Candidata a sindicato do sector diz que há demasiada intervenção da classe política nos bancos portugueses.


A banca já despediu cerca de sete mil trabalhadores nos últimos quatro a cinco anos. O número foi avançado pelo Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) e no caso do Banif já foram dispensados 1100 colaboradores desde 2012 no âmbito do plano de reestruturação da instituição financeira liderada por Jorge Tomé.
A verdade é que os números em relação ao Banif podem não ficar por aqui, já que continua tudo de olhos postos em relação ao futuro do banco. O banco já terá recebido propostas de compra, mas ainda não se sabe mais pormenores nem em relação ao número de interessados nem ao modelo de compra.

No início desta semana, a instituição financeira já tinha garantido a existência de seis interessados, europeus e americanos, na compra da participação de 60,5% que o Estado detém no Banif. Os bancos espanhóis Santander e Popular e o fundo norte-americano Apollo, que comprou a Tranquilidade (seguradora do Novo Banco), são três dos seis candidatos.

Mas enquanto o impasse continua a candidata à lista A ao Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), Ana Cristina Gouveia tece duras críticas em relação à actuação do Banco de Portugal. “O Banco de Portugal é o principal responsável pela situação do Banif e os contribuintes não têm de pagar a factura pelas falhas do órgão regulador”, revela. No entender da responsável, “mais uma vez, o Banco de Portugal não está a cumprir o seu papel”. Ana Cristina Gouveia criticou ainda a intervenção “demasiada” da classe política no sistema financeiro português. “Há sempre intervenção da classe política mesmo em bancos privados, o que não é justificável”.

Ainda esta semana, o primeiro-ministro afirmou que o custo para os contribuintes resultantes da “salvação” do Banif dependerá da solução final do processo em curso no banco. Sobre os depositantes, António Costa afirmou que “têm todas as razões para estarem plenamente confiantes na integridade dos seus depósitos, independentemente dos seus montantes”. “Quanto ao dinheiro público investido no banco, isso dependerá muito da solução final. Não posso dar a mesma garantia”, afirmou.

O Banif encontra-se em processo de venda acelerada, procurando um comprador para a posição estatal de 60,5% do capital, de forma a dar por concluída a investigação aprofundada da Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia, que averigua se a ajuda estatal recebida em 2012, de 1,1 mil milhões de euros, vai contra as regras concorrenciais comunitárias. Caso não haja comprador, a situação do banco torna-se insustentável.

Já o SNQTB garante que “acompanha muito de perto a situação e as notícias que têm sido divulgadas, aguardando porém que as entidades que intervêm neste processo, quer a nível nacional, quer europeu, se pronunciem e anunciem as medidas que serão tomadas, para que a direcção do sindicato as analise cuidadosamente e intervenha em conformidade”.

O sindicato já pediu uma reunião com a administração do Banif, prevendo que possa ocorrer nos próximos dias e lembra que tanto o banco liderado por Jorge Tomé como o Novo Banco estão a causar “apreensão” entre os trabalhadores das duas entidades. “Em ambos os casos o sindicato manifesta a sua preocupação com os postos de trabalho, com o encerramento de agências e políticas de mobilidade, recordando que todo o sector financeiro pode ser reputacionalmente afectado por decisões que sejam tomadas com menor ponderação do que a exigível”, esclareceu.

Acções suspensas A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) suspendeu ontem as negociações das acções do Banif e quer informações sobre a empresa e o processo de venda em curso. “O conselho de administração deliberou suspender a negociação em mercado regulamentado dos valores mobiliários emitidos pelo BANIF – Banco Internacional do Funchal, S.A., até à prestação de informação relevante relativa ao processo de venda voluntária do mesmo”, indica o comunicado da CMVM emitido esta quinta-feira.

Contactado pelo i, o gestor da XTB, Pedro Ricardo Santos, admite que a medida peca por ser tardia por parte do mercado de capitais em Portugal. “Fruto do processo em curso para venda da posição do Estado no Banco, a CMVM decidiu agora suspender a negociação das acções do Banif. A verdade é que, até agora, não são conhecidas quaisquer propostas reais. No limite, caso não se encontre nenhum interessado, o processo de resolução será o mais provável. Face a essa forte possibilidade, a suspensão da acções deveria já ter sido decidida há alguns dias”, salienta.

A suspensão foi ditada pouco depois das 14h00 (hora de Lisboa) e, na altura, os títulos da instituição financeira seguiam a valorizar 45,45% para 0,0020 euros. Aliás, os títulos mantiveram ontem sempre uma tendência positiva. Esta subida segue os ganhos dos dois dias anteriores, depois da forte queda de segunda-feira.