Moulinex. E se o Darth Vader gostasse de electrónica?

Moulinex. E se o Darth Vader gostasse de electrónica?


Estaria, por certo, amanhã no Lux Frágil para a “Black Balloon XXV: Star Wars by Moulinex”. Um dia depois da estreia do novo capítulo da saga “Star Wars” o músico protagoniza uma noite em torno dos temas icónicos da criação de George Lucas. 


Este texto não foi escrito há muito tempo, nem vem de uma galáxia muito, muito distante. Na verdade foi escrito ontem sobre coisas que se passaram – aí sim – há bastante tempo. Isto se considerarmos que 1977 está assim tão longe. É melhor não começar a fazer contas em anos-luz ou nunca mais saímos daqui. Falamos deste ano por ser o ano de estreia de “Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança”, o primeiro capítulo da saga e responsável pelo início do fenómeno que fez desta uma das grandes referências da cultura popular a nível internacional. 

Em 1977, Moulinex ainda não era nascido para poder ser fã de “Star Wars”, mas assim que o deixaram – ou que o fizeram sócio, não conseguimos apurar ao certo – Luís Clara Gomes nem hesitou. “Lembro-me perfeitamente de ver o Episódio IV. Tinha seis anos, foi em 1990 e lembro-me de o ter visto numa televisão a preto-e-branco”, conta. Mais cool era impossível. Tendência que o acompanhou até aos dias de hoje, ou afinal que nome se pode dar a alguém que um dia depois da estreia do último capítulo da saga vai ao Lux Frágil dar um concerto com repertório “Star Wars”? Cool talvez seja curto. Chame-se antes nerd, que Moulinex não leva a mal. “Black Balloon XXV: Star Wars by Moulinex” acontece amanhã no Lux Frágil pelo que pedimos a quem vá hoje ver o filme que tenha cautela com os spoilers amanhã. Agradecidos.

Apesar de ser um fã incondicional, Moulinex confessa que esta ideia nunca lhe tinha passado pela cabeça. Foi Pedro Ramos, da Radar, organizador do conceito Black Balloon que o convidou para o efeito. “Já tinha pensado propor-lhe um disco clássico para interpretar mas nunca me tinha ocorrido o ‘Star Wars’. Ele desafiou-me, meio a atirar barro à parede a ver se pegava, achei logo uma óptima ideia e disse-lhe: ‘Vamos embora’. Claro que é uma responsabilidade enorme estar a interpretar o meu compositor favorito e algo que faz parte da minha infância e do imaginário de tanta gente, ainda há milhões de adultos a viver aquilo como se fossem crianças e por isso não quero defraudar”.

Materializar “Star wars” em música Como assim? Pergunta o leitor e com toda a legitimidade. Moulinex vai subir a palco com uma pequena legião de músicos – com ele são 9 – que lhe vai permitir ter bateria, guitarras, metais, flauta, tudo quanto sirva para recuperar a paleta sonora que John Williams tratou de dar à saga. E aqui, o tal Episódio IV que é o primeiro assume enorme preponderância. “O Episódio IV é aquele onde ficam definidos a maior parte dos temas. São tudo leitmotifs herdados da ópera pelo John Williams, ou seja, há um motivo central para o tema do Star Wars, há um motivo central para o ‘The Force’, há um motivo central para a ‘Princesa Leia’, tal como para a ‘Marcha Imperial’. Todos estes temas perduram ao longo da saga”, explica o artista. 

Na sexta-feira a noite não vai ser bem de Moulinex. É mais de George Lucas como se ele fosse um talentoso músico português que faz da electrónica a sua forma de unir galáxias e de atenuar as assimetrias entre o bem e o mal, a electrónica para o bem e o para o mal, ora veja: “Tenho sempre uma vantagem, ou limitação, quando tenho que interpretar alguma coisa. Como tenho o meu estilo definido espera-se sempre que seja uma coisa dançável, isso facilita-me a vida. Houve um arranjo feito nos anos 70 por um professor de disco, que interpretou a música do ‘Star Wars’ em versão disco, foi nisso que me baseei para fazer o nosso espectáculo. Mas é claro que introduzi alguma electrónica mais moderna e orgânica”. 

No cinema ser criança Luís Clara Gomes arrepende-se de nunca mais ter visto um filme com a ingenuidade de quem, aos seis anos, se sentou em frente a uma televisão e descobriu que o DarthVader é bem mais fascinante que o Pai Natal. Com o tempo, a consciência começa a dar sinais de vida, ouvem-se opiniões na rua, expectativas que trocam as voltas e nos impedem de consumir o que quer que seja sem que um qualquer preconceito nos invada. Vá lá que Moulinex sabe ao que vai, quem é, onde quer estar, mesmo em relação a “Star Wars”. “Já tenho bilhete para a estreia, queria ir hoje [ontem], mas como tenho que ensaiar não deu. Vou na terça-feira, só consegui bilhetes em IMAX 3D para esse dia. Não gosto nada de ver as coisas na estreia, se pudesse fazia como aquele senhor em Los Angeles que comprou todos os bilhetes numa sala para ver o filme sozinho. Eu partilho desta visão, o barulho das pipocas irrita-me”, avisa sem ignorar o facto de estar “rodeado de pessoas que sabem respeitar as regras dos spoilers”. Esperemos que Luís tenha a certeza do que está a dizer, pela nossa parte – que tendo esta profissão sabemos bem do que falamos – ficou feito o alerta. 

A par disto, quisemos também saber a opinião de Moulinex no que ao enorme sucesso da saga diz respeito, os motivos, a lógica que dita que já existam salas de cinema esgotadas até à próxima semana. A resposta vai assim: “O ‘Star Wars’ está para a ficção científica como a Bíblia está para a religião. Foi uma miscelânea daquilo que melhor funcionava na ficção científica, nas sagas e nos mitos, da mesma maneira que a Bíblia foi um best-of das boas partes de todas as religiões”. Se alguém se quer ofender espere só mais uma segunda para uma outra comparação que, para o músico, explica bem a loucura em torno disto: “Se retirarmos a parte da ficção científica da história e pensarmos nisto como um conto clássico do bem contra o mal…é um enredo clássico. Ainda no outro dia encontrei um site que trocou os nomes das personagens do ‘Harry Potter’ pelos nomes das personagens do ‘Star Wars’ e a história era bastante semelhante”. Esperemos que Darth Vader nunca se lembre de ir para Hogwarts.