Passos Coelho dirigiu-se a António Costa como "primeiro-ministro", sem vírgula, e António Costa respondeu com uma saudação ao "deputado Pedro Passos Coelho". As relações parecem normalizadas na Assembleia da República: o PSD é hoje o maior partido da oposição ao governo liderado por António Costa. Para trás parece ter ficado a estratégia social-democrata de se referir ao governo socialista como "politicamente ilegitimo".Venha daí o confronto político.
O ex-primeiro-ministro, na primeira fila da bancada do PSD, foi o primeiro a interpelar Costa. A estratégia foi clara: obrigar o primeiro-ministro e o governo à defesa das regras europeias de disciplina orçamental (como o Tratado Orçamental) e alertar para o risco do governo socialista não respeitar a progressividade no fim dos cortes de rendimentos, sobretudo se essa reposição não "respeitar" o ritmo do crescimento da economia e for "artificial".
Sobre a manutenção do compromisso assumido pelo anterior governo de direita de manter no final deste ano o défice abaixo dos 3%, Passos sublinhou que "a grande razão porque ainda temos dúvidas tem que ver com o cumprimento da economia do último trimestre deste ano" e pediu uma clarificação: o draft (rascunho) do Orçamento para 2016 que vai ser enviado para Bruxelas vai fixar a meta do défice nos 2,8% do PIB? Costa, na resposta, garantiu que sim.
Sobre as condições enumeradas por António Costa em matéria de relançamento de investimentos (mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade), Passos não deixou de notar que o primeiro-ministro está a confundir "condições com objectivos". E reiterou que o país precisa de "exportações e de mais crescimento externo", lembrando ao novo governo que não pode voltar a olhar só para dentro (mercado interno) e esperar os quadros comunitários de investimento.
"Os verbos que este governo mais tem repetido são repor, reverter, revogar e eliminar. Ainda não vimos outras propostas", disparou Passos.. E de novo a critica: "Como é que compatibiliza os verbos com aquilo que são os objectivos que os investidores estão à espera de ouvir?".
Costa, na resposta, concordou que o "investimento externo é absolutamente essencial mas é preciso saber que investimento precisamos. Precisamos de investimento externo que crie nova riqueza e novos empregos. O que nós tivemos foi um investimento que se limitou a comprar aquilo que já existia".
E sobre os verbos de que falou Passos Coelho, o primeiro-ministro deixou a garantia: "vamos repor rendimentos, vamos reverter a asfixia na classe média e revogar os cortes nos funcionários públicos e assim teremos um caminho mais sólido para a economia portuguesa".
Passos sorriu.