Praxes. 80% dos alunos não denunciam abusos

Praxes. 80% dos alunos não denunciam abusos


60% dos estudantes portugueses admitiram que as práticas trouxeram consequências psicológicas, revela inquérito da rede Universia.


A grande maioria dos alunos universitários portugueses que já foram alvo de praxe admite que ficou com sequelas psicológicas e que, mesmo perante abusos, não fez denúncias. As conclusões surgem no inquérito da rede Universia, que analisou as respostas de quase 2500 estudantes ibero-americanos entre os 16 e os 26 anos.

A tradição das praxes universitárias tem-se mantido activa ao longo dos anos, e Portugal revela nesta sondagem que é uma prática muito comum, com 73% dos inquiridos a assumirem que foram praxados na universidade. No caso dos restantes jovens ibero-americanos, o número passa para valores médios de 25%.

A maioria dos alunos portugueses (59%) confessa que as praxes académicas tiveram consequências psicológicas. E 20% destes jovens dizem mesmo que foram estes rituais que motivaram o abandono escolar. Além disso, 60% dos alunos portugueses já se sentiram intimidados por colegas, mas 80% não denunciaram as situações de bullying de que dizem ter sido alvo.

As “brincadeiras pesadas” são as praxes mais frequentes. Depois destas, os estudantes indicam a perseguição verbal, a violação da intimidade e da imagem ou a discriminação por raça ou religião como práticas mais comuns. No entanto, enquanto 53% dos jovens ibero-americanos dizem nunca ter sofrido uma “brincadeira pesada”, em Portugal estas são mais frequentes.

A forma como as instituições de ensino superior lidam com a praxe também foi analisada, concluindo-se que 41% dos jovens inquiridos consideram que as universidades ou politécnicos não dão a atenção devida a este tipo de situações. No caso português, o número baixa para os 31%.

Recorde-se que as praxes abusivas motivaram no ano passado 80 queixas denunciadas no correio electrónico que o Ministério da Educação criou para esse efeito. Das oito dezenas de acusações, 45 foram “acompanhadas junto das reitorias/presidências das instituições de ensino superior” e as restantes 35 “não se enquadravam no âmbito da campanha”.

No ano lectivo anterior, a tutela lançou uma campanha de sensibilização no ensino superior contra as praxes agressivas e violentas, composta por 700 cartazes e 60 mil folhetos com o objectivo de informar os caloiros “acerca do carácter voluntário da participação na praxe, frisando que nenhum estudante pode ser discriminado por decidir não participar”. Nessa altura, adicionalmente, foi criado um endereço de correio electrónico, praxesabusivas@mec.gov.pt, que continua activo, para recolher denúncias de abusos.

K. C.