Portugal continua no grupo dos países com desenvolvimento humano considerado muito alto e tem uma pontuação global de 0.83 (numa pontuação dada de 0 a 1). Estes dois indicadores podiam chegar para que a divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano fosse uma boa notícia para os rankings nacionais, mas basta uma comparação com os anos anteriores para que se denote um desaceleramento no crescimento. Em 2009, por exemplo, Portugal ocupava o 34º lugar da lista. Além disso, na década de 90 o crescimento era de 0,97% ao ano e actualmente fica-se pelos 0,33%.
Estes são números que fazem com que Portugal fique atrás de países que também tiveram intervenção da troika internacional: a Irlanda está em 6º lugar e a Grécia na 29º posição. A liderar o ranking, que faz parte do relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), está a Noruega, com a Austrália, a Suíça, a Holanda e a Alemanha a ajudarem a compor o top cinco. Do lado oposto da tabela estão países como o Burundi, Chade, Eritreia e República Centro-Africana.
Desemprego Quando se fala de desemprego, o caso português é apontado pela ONU como um dos mais preocupantes. Para isso contribui a análise feita aos dados de offshoring e que dão conta que a contratação além-fronteiras é responsável por quase 55% de todas as perdas de empregos em Portugal. Os autores sublinham que “enquanto o offshoring parece benéfico para desenvolver regiões de alguns países, tem consequências para os trabalhadores de países desenvolvidos.”
Ainda no capítulo sobre o desemprego, Portugal volta a ganhar destaque, desta vez quando se fala no número de jovens sem trabalho. Em 2014, 35% dos jovens portugueses entre os 15 e 24 anos estavam desempregados. O relatório faz ainda uma caracterização desta faixa etária, para que se perceba a dimensão do problema. “Hoje, mais de metade da população mundial tem menos de 30 anos. Esta população é tendencialmente mais saudável, tem melhor educação e consegue tirar melhor partida das tecnologias de comunicação que permitem interagir numa sociedade global. Por isso, têm expectativas mais altas em relação a trabalho, mas muitos deles não conseguem arranjar trabalho”, pode ler-se.
Numa análise mais global, o relatório revela que, em 2015, 74 milhões de jovens entre os 15 e os 24 anos estavam sem emprego e o rácio entre jovens e adultos com emprego estava no seu ponto mais alto de sempre, com níveis recorde nos Estados árabes, países do sul da Europa, América Latina e Caraíbas. “Por exemplo, o desemprego jovem em 2014 era 3.4 vezes mais alto do que o adulto em Itália, quase 3 vezes mais alto na Croácia e quase 2.5 vezes mais alto na República Checa, Portugal e Eslováquia”, indica o relatório.
Nem tudo é mau O relatório não é brando na hora de apontar as desigualdades que persistem entre homens e mulheres no mundo do trabalho. Assim, segundo o documento, as mulheres têm uma menor probabilidade de ser pagas pelo seu trabalho do que os homens, sendo três em cada quatro horas de trabalho não remunerado realizadas por mulheres.
Apesar do cenário não ser animador, Portugal insere-se no grupo de países com melhor taxa de igualdade entre homens e mulheres, conquistando a 20º posição no ranking.
Ainda de acordo com o documento, 59% do trabalho realizado globalmente é remunerado, sendo aí a participação masculina quase o dobro da feminina: 38% versus 21%. No que respeita a trabalho remunerado, as mulheres “ganham menos, o seu trabalho tende a ser mais vulnerável e estão sub-representadas nos cargos de gestão e de tomada de decisão”, assinala Helen Clark, responsável do PNUD, no prefácio ao relatório.