O presidente do grupo chinês Fosun, dono da Fidelidade e da Luz Saúde em Portugal, foi detido pela polícia para interrogatório. Depois de especulações sobre o paradeiro de Guo Guangchang, que ficou incontactável na quinta-feira, a empresa confirmou ontem que o gestor estava a ser ouvido pelas autoridades judiciais chinesas. Na terminologia utilizada pelo grupo de Xangai, “estava a dar assistência em algumas investigações”.
O motivo concreto do interrogatório não foi revelado oficialmente, mas a revista chinesa “Caixin” adiantou que as investigações deverão estar relacionadas com corrupção e venda de acções.
Segundo os relatos na imprensa chinesa, Guangchang foi interpelado por agentes da autoridade quando chegou ao aeroporto de Xangai, oriundo de Hong Kong. Saiu sob escolta e os responsáveis da empresa deixaram de conseguir contactá-lo desde essa altura. As chamadas para o telemóvel não tinham resposta.
A negociação das acções da Fosun na bolsa de Hong Kong foi suspensa depois do desaparecimento, até que as diligências para encontrar o presidente deram frutos.
Em comunicado, a Fosun explica que, depois de ter questionado as autoridades, ficou a saber que o gestor estava retido pelas autoridades em “investigações levadas a cabo pela China continental”.
A empresa adianta que o gestor pode continuar a participar nas tomadas de decisão da empresa, mas “através dos meios adequados”. O grupo garantiu ainda que a investigação não tem qualquer impacto negativo sobre as operações da empresa, que “permanecem normais”. A negociação das acções será retomada na segunda-feira.
Caça à corrupção
À luz das poucas informações oficiais que vão sendo conhecidas, Guo Guangchang aparenta ser o mais recente alvo do programa anti-corrupção que o Presidente Xi Jinping está a conduzir.
No regime de ‘socialismo de mercado’ que a China segue, a mão do Estado não é invisível. Embora haja serviços financeiros liberalizados e um consumo voraz de telemóveis, computadores e serviços na internet, o Partido Comunista é omnipresente na sociedade chinesa, sobretudo depois do crash da bolsa de Xangai, no Verão.
Numa economia fluorescente mas ainda a braços com uma elevada desigualdade de rendimentos, a crise financeira e os casos de corrupção e de favorecimento em empresas têm agitado o país asiático. E a pressão das autoridades intensificou-se.
O Presidente pôs em prática um plano anti-corrupção, chamando a si cada vez mais poderes do controlo sobre o Estado. Uma das medidas foi criar estruturas para-governamentais, nomeadas pelo seu gabinete, para controlar a actuação dos organismos públicos.
Com a crise da bolsa de Xangai, no Verão, a vigilância reforçada foi alargada aos gestores de topo do sistema financeiro. Os casos de empresários ‘incontactáveis’ – o eufemismo utilizado no país para quem está a ser ouvido pela polícia – são cada vez mais comuns no país.
Segundo um estudo da consultora Eurasia Group, citado pelo” Wall Street Journal”, as investigações anti-corrupção quadruplicaram desde 2013, quando foi lançado o plano de Xi Jinping. O número de entidades inspeccionadas – que vão desde empresas estatais e privadas a agências do Partido Comunista – subiu de 20 em 2013 para 83 este ano.
“Nos círculos empresariais e políticos chineses, as conversas voltam frequentemente a uma questão familiar: quando vai a campanha anti- corrupção do presidente Xi Jinping acabar?”, escreve o “Wall Street Journal”.
Gu o Guangchang deverá ser o caso mais recente das investigações anti-corrupção. O gestor é visto como um elemento reformista no universo empresarial de Pequim. Embora pertença a um órgão consultivo do Partido Comunista Chinês, não tem qualquer ligação oficial às autoridades, e o império que construiu nos últimos 20 anos faz sombra a muitas empresas estatais, que vêem a sua posição dominante ameaçada.
Há outros casos recentes de empresários ‘incontactáveis’ ou ‘desaparecidos’. No último domingo, a Citic Securities, uma empresa de corretagem, revelou que não estava a conseguir contactar dois dos executivos de topo. Outra empresa do sector financeiro, a Guotai Junan, disse em Novembro que não sabia do seu presidente, Yim Fung. Está desaparecido há um mês.