“Acho perfeitamente normal e coerente com tudo o que disse nos últimos cinco anos [a participação na acção de campanha de Marisa Matias]. Estranho seria não apoiar. Na vida política de Pacheco Pereira, a única coisa que é incoerente é continuar a ser militante do PSD. Se pensasse como ele, teria vergonha de ser militante do PSD”, observa Duarte Marques ao i.
O i sabe que o assunto já foi abordado ao mais alto nível dentro do PSD. Sobretudo depois de Pacheco Pereira se opor, com duras críticas, à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, único candidato de centro-direita que será formalmente apoiado pelo PSD e CDS (a decisão será tomada no conselho nacional de cada partido, na quinta-feira, à mesma hora).
Não está escrito nos estatutos do PSD que um militante não pode discordar da direcção ou da estratégia do partido. Mas as regras são claras quando se trata de apoio, formal ou informal, de um militante social-democrata a uma candidatura adversária. “Cessa a inscrição no partido dos militantes que se apresentem em qualquer acto eleitoral nacional, regional ou local, na qualidade de candidatos, mandatários ou apoiantes de candidatura adversária da que foi apresentada pelo PPD-PSD.”
A decisão cabe ao conselho de jurisdição do partido.
Mas, mesmo com o que prevêem os estatutos, Ângelo Correia é categórico: “Pacheco Pereira deseja ser provocado e ser mártir. A vontade dele é manter-se no PSD e esperar que o partido lhe aplique alguma sanção”, nota ao i. Pacheco Pereira deve ser expulso? “O_PSD faria mal se lhe aplicasse alguma sanção. Seria contribuir para ele ser mártir”, defende o ex-dirigente, que afasta assim para o historiador o destino que tiveram 400 militantes expulsos do partido na sequência das autárquicas de 2013, como António Capucho.
Militante do contra
Pacheco Pereira sempre foi considerado um enfant terrible no PSD, desalinhando-se e questionando frequentemente a estratégia do partido. Mas a crítica feroz viria a intensificar-se com a eleição de Passos Coelho para a liderança dos sociais-democratas, em 2010. É um dos críticos de primeira linha (e de primeira hora) da direcção de Passos, que o excluiu das listas candidatas às legislativas antecipadas de 2011. Passos, numa entrevista ao “Expresso” antes das eleições, já dava conta do incómodo – sem saber o que ainda estava para vir – e referiu-se a Pacheco Pereira como “a única personalidade que, sendo deputado, faz campanha semanal contra o PSD [no programa “Quadratura do Círculo”, na SIC_Notícias]”.
E assim continuou. O ex-líder parlamentar dos sociais-democratas (durante a liderança de Fernando Nogueira, entre 1995 e 1996) participou nas iniciativas da esquerda na Aula Magna, em Maio e Novembro de 2013, primeiro para “Libertar Portugal da Austeridade” e depois para “Defender a Constituição”. A dois dias das europeias, em Maio do ano passado, assumiu que não iria votar nos partidos, PSD e CDS, que suportavam então o governo, apesar de um destes partidos ser o seu. Já em Outubro, véspera de legislativas, Pacheco Pereira volta ao ataque. “Não há-de ser por mim, como, aliás, por muitos sociais-democratas que ainda sabem o que designa essa classificação política, que a PàF [Portugal à Frente] vai ganhar”, escreveu no blogue Abrupto, deixando (outra vez) a família social-democrata à beira de um ataque de nervos.
A oposição interna não dá direito a expulsão. Mas se Pacheco Pereira apoiar um candidato adversário de Marcelo – e se o PSD, como se prevê, não der liberdade de voto –, o caso pode ser levado ao conselho de jurisdição do PSD. Até lá, o historiador admite a sua “vaga esperança” de que o seu partido “volte ao centro” e que “corresponda aos objectivos pelos quais foi criado”, como disse recentemente em entrevista ao i.
ricardo.rego@ionline.pt com Luís Claro