Manaca. “Um autogolo de um preto está comprado, um de um branco é má sorte”

Manaca. “Um autogolo de um preto está comprado, um de um branco é má sorte”


A propósito da mão de Tonel em Alvalade (e do penálti desnecessário da Académica na Luz) (e do penálti despropositado do Paços no Dragão), lançamos o tema sobre a crescente suspeita de ajudas externas. Isto parece a troika mas é só futebol. Aqui e lá fora. Veja os exemplos mais bizarros.


Mãos há muitas, ó Tonel. E há mãos para dar e vender, e não estamos a falar de uma cena de O Padrinho (I, II ou III). Tirando as mãos dos guarda-redes, tudo o resto é mal visto no futebol. Quando é bem visto, é anulado (e bem). A mão mais conhecida e nunca vista no campo será sempre a de Diego, mais pequena mas forte do que as duas do guarda-redes Shilton, naquele jogo em 86 no México – ahhh, o Peter refilou? Então Maradona mostrou que conseguia fazer melhor com o pé (esquerdo) e a Argentina eliminou a Inglaterra do Mundial, por 2-1. Vááá, El Pibe já foi à Tunísia dar uma mãozinha ao árbitro Ali Bennaceur, fizeram as pazes e ficou tudo bem (excepto para os ingleses, of course).

Mais mãos? A de Vata. O Benfica eliminou o Marselha na Luz por 1-0 e teve direito a ir à final e a um prato novo: mão de Vata com grão. O árbitro belga Marcel van Langenhove nada viu, os encarnados deram a volta à eliminatória depois da derrota em Marselha 2-1. Os franceses ficaram piursos e o Vata, ainda hoje, jura que não foi com a mão (ou então tem uma clara falta de noção das partes do corpo humano). Esse 18 de Abril de 1990 ficou para sempre gravado na memória de todos, mas a vida prosseguiu (excepto para os franceses, bien sûr). Nessa final da Taça dos Campeões não houve foi pés para tanto Milan – e Rijkaard fez o único golo, limpinho, limpinho.

Outra mão? A de Thierry Henry, em Dezembro de 2009. Ora perguntem lá aos irlandeses. No playoff de qualificação para o Campeonato do Mundo 2010, a França eliminou a Rep. Irlanda, com um golo a 17 minutos do fim do prolongamento, que apurou os franceses, já que a eliminatória estava empatada (0-1 em Dublin e agora 0-1 em Paris). Henry admitiria mais tarde que jogou a bola com a mão antes de assistir Gallas para o golo. O árbitro sueco Martin Hansson não viu. Ficou conhecido como “Le Hand of God” (uma piada com a Mão de Deus de Maradona, mas misturada com inglês e francês – uma salgalhada portanto). Mas a coisa foi feia: tanto Henry como o árbitro ponderaram deixar as carreiras devido à pressão. Tudo não passou de apenas um erro e a vida continuou igual (excepto para os irlandeses, of course).

Mais? Só na Internet, com vídeos, aqui não dá…

fel@nhconsulting.pt

 

Bicampeão em título, o Porto de Pedroto sonha com o tri. A atrapalhá-lo, só o_Sporting que até trocara de treinador a meio da época. A duas jornadas do fim, e com tudo a seu favor, o Porto empata na Póvoa do Varzim e o Sporting aproveita para se assenhorar do primeiro lugar, com o 2-0 ao Beira-Mar. Na penúltima ronda, o_Sporting vai a Guimarães (o Vitória é 6.º) e há dérbi no Porto (o Boavista é 4.º). Esses 90 minutos decidem o campeonato e quem o resolve é Manaca.

Quem? O central do Vitória, ex-Sporting.Com um autogolo de cabeça, aos 36 minutos. O Porto indigna-se. Muito. Bastante. É só poluição auditiva. O Sporting é campeão uma semana depois, em Alvalade (3-0 ao União de Leiria). O Porto, que até perde 2-0 em Espinho, continua a desatinar com Manaca. O i entrevista-o.

Primeiro, porque é que sai do Sporting para o Vitória?

Por dinheiro.

O Vitória paga mais que o Sporting?

Se eu dissesse os números, você acharia ridículo. Vou contar-lhe só isto: o Sporting tinha um director chamado Abraão Sorin. Certa vez acabei o meu contrato e ele: “Ó Manaca, o Sporting não tem nenhum contrato para apresentar. Ficas a ganhar o mesmo mais dois anos. Se quiseres, tudo bem. Se não quiseres, não jogas em lado nenhum.” Na época, não havia livre circulação de jogadores. Era um abuso. Como ouvir coisas sem sentido dos dirigentes.

Também lhe falaram assim quando marcou o autogolo em Guimarães a favor do Sporting?

Disparates. Olhe, quantos autogolos já se marcaram em Portugal?

Xiiiiiii, contá-los é difícil.

Good. Porque é que não falam de outros autogolos, então? Porquê só desse?

Porque é o do título de 1979/80.

Sim, mas é um autogolo como qualquer outro. O FC Porto quer é um bode expiatório, mas… Eu próprio já fiz autogolos no Sporting, com o Hibernian, na Escócia, para a Taça UEFA. Perdemos 6-1 e eu fiz um autogolo. Meti o corpo e a bola vai para dentro. É azar. Em Guimarães,também foi assim, azar. Não fiquei rico, não fiquei pobre, continuo a ser o que sou. Só com uma defesa… … … um autogolo de um preto está comprado, um autogolo de um branco é má sorte.

rui.tovar@ionline.pt

 

Nada nem ninguém bate os 149 autogolos do Emyrne. Teremos sempre Antananarivo. Não é Casablanca mas a capital de Madagáscar é digna de uma deixa assim para Oscar. Nem Bogey, diminutivo desse pequeno grande homem que é Humphrey Bogart, nem Tonel ou Manaca têm que ter medo. Aqui nesta ilha ficará para sempre (?) o recorde de autogolos num só jogo.

Não vamos (nem queremos) ir mais longe. está na Wikipedia. O jogo entre o AS Adema e o SO l’Emyrne, 149–0, aconteceu no dia 31 de Outubro de 2002, entre duas equipas de Antananarivo. E detém vários recordes já carimbados pelo Guinness: mais golos num só jogo (ultrapassou – em muuuuuito – aquele 36-0 do Arbroath sobre o Bon em 1885, para a Taça da Escócia). E conta também com o maior número de autogolos. Aliás, foram todos na própria baliza. Como? Protesto. Porquê? Protesto.

A malta do SOE atirou 149 vezes para a sua baliza devido a uma decisão que consideraram errada da equipa de arbritagem. O adversário cruzou os braços e foi um ver se te avias de autogolos. Isto sim, campo inclinado, caudal ofensivo numa só das partes, enfim todos os clichés que possam caber aqui sobre posse de bola e remates à baliza.

Mas há mais. Muito mais. Isto sem Internet não tem tanta piada. Porque estamos no YouTube e conseguimos ver os lances. São hilariantes, uam espécie de comédia que se apodera da tristeza do autor destes autogolos (agora sem querer, não foram mesmo de propósito). Vamos deixar aqui os links, entretanto leia a sua explicação.

Duvida? É só ir ao Google e pôr o nome de cada um dos nomes aqui referenciado – em 0,28 segundos terá o vídeo à disposição. Depois é só rir (quando for ultrapassada a parte da vergonha reflexa). Temos a força aliada à estupidez, de um defesa da Premier League chamado Frank Queudrue.

Também a nota artística: Fede Vico tentou ajudar (claro) mas a técnica utilizada é de elevada categoria. Há ainda a potência de Milan Gajic, com um chapéu gigante num jogo contra o Young Boys, na Suíça. É ver a cara do guarda-redes. E, nunca esquecido, o acidente à Paul Gascoigne. É o sonho de qualquer jogador, mas na baliza errada – assim o criou Jamie Pollock.

fel@nhconsulting.pt