Luz. Dois nós do Atlético na gravata do Benfica

Luz. Dois nós do Atlético na gravata do Benfica


Strip-tease táctico de Rui Vitória não impede vitória espanhola (2-1) e perda do primeiro lugar do grupo.


De avental e chapéu alto, o cozinheiro apresenta-se ainda com um nariz grande, bigode farfalhudo e sobrancelhas largas que lhe escondem os olhos. Quando cozinha, ninguém o entende – as suas receitas são do mais ortodoxo possível, à base de espingardas e raquetes de tênis em vez de instrumentos de cozinha propriamente ditos. Quando fala, também não há quem o entenda, o seu palavreado é uma mistura imperceptível que desagua invariavelmente em bork bork bork. É o cozinheiro sueco dos Marretas.

De camisola vermelha e calção branco, os onze jogadores apresentam-se em campo com as ideias algo confusas. Quando querem desenhar uma jogada, a bola nunca chega redonda à área e nem sequer incomodam Oblak. Quando querem correr, não o fazem com o mesmo querer dos outros onze – aliás, na estatística da primeira parte, o top 7 dos papa-quilómetros é único e exclusivo do Atlético. É o futebol do Benfica, sem arte nem glória.

O Atlético entra determinado a ganhar para assumir-se como primeiro classificado do grupo e justifica-o em pleno, numa série de iniciativas ofensivas. A primeira delas aos 22’, num contra-ataque finalizado com um pontapé de Sául fora da área. O imperador Júlio César afasta a bola para canto.

Na sequência do mesmo, o capitão Gabi atira sem preparação e obrigado Júlio César a nova defesa aparatosa para fora. A avalanche do Atlético não pára, nem pensar.

Aos 24’, Juanfran passa por Eliseu e mete a bola na pequena área para o encosto de Vietto. Vale a antecipação cheia de classe de Lisandro. Num abrir e fechar de olhos, o Atlético dá espectáculo e silencia a Luz, onde o Benfica é rei e senhor nesta edição da Liga dos Campeões, com duas vitórias em outros tantos jogos (2-0 ao Astana, 2-1 ao Galatasaray). Se ganhar ao Atlético, imita o feito da dupla Artur Jorge/Zoran Filipovic, com três vitórias na fase de grupos (3-1 ao Anderlecht, 2-1 ao Steaua e 2-1 ao Hajduk). Se empatar, segura o primeiro lugar, útil para o sorteio dos oitavos. Se perder, lá se vai a invencibilidade na Luz e também o primeiro lugar.

Com critério na troca de bola e sem a devida agressividade por parte do Benfica (só três faltas cometidas na primeira, uma aos 4’’ por Lisandro, outra aos 5’ por Gonçalo Guedes e mais uma aos 24’ por André Almeida), o Atlético é dono do meio-campo e marca o 1-0 numa vistosa jogada de ataque, aos 33’.

Griezmann dá com a porta exterior do pé para a entrada de Vietto na área e este atrasa inteligentemente para Saúl. Na passada, e com o pé esquerdo, o médio faz a bola entrar ao canto sem qualquer hipótese para o desamparado Júlio César.

Ao intervalo, o 1-0 é mais que justo. Falta Benfica ao jogo e ele aparece, com a entrada de Mitroglou para o lugar de Gonçalo Guedes. O grego mexe-se tão bem que tem imediatamente um remate às malhas laterais de Oblak, aos 26 segundos.

Justamente quando o Benfica até está mais assertivo, surge o 2-0 do Atlético, aos 55’, num cruzamento rasteiro de Ferreyra-Carrasco para a pequena área, onde está Vietto a desviar ao primeiro poste – é até mais golo de futsal que outra coisa qualquer.

Já sem a gravata vermelha, Rui Vitória inclui mais um avançado (Raúl Jiménez) e aí o Benfica empurra o Atlético para a sua área, ao mesmo tempo que a irreverência de Renato_Sanches dá sinais de si. Vai daí, faz um bonito túnel a Godín (à falta do argentino, segue-se o inevitável amarelo) e depois é castigado por Saúl (outro amarelado). O golo de honra é de Mitroglou, aos 75’, numa jogada de entendimento com Raúl Jiménez, que falha o empate, de cabeça, aos 83’, após centro bem medido de Carcela. Soa o apito, é o fim. Ou melhor, o intervalo. Em Fevereiro há mais.

rui.tovar@ionline.pt