Greve do metro. “Desconvocatória não foi uma surpresa”

Greve do metro. “Desconvocatória não foi uma surpresa”


Após a reunião no Ministério do Ambiente, que agora tutela os transportes, os sindicatos mostraram-se optimistas. E a prova foi a desconvocatória da greve que ameaçava parar o metro durante seis dias.


Foi desconvocada ontem à tarde aquela que seria a décima greve deste ano dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa, que tinha início marcado para amanhã. Após passarem a manhã em reunião com o secretário de Estado Adjunto do Ambiente, José Mendes, e a tarde num plenário com os trabalhadores, os sindicatos da empresa anunciaram que, afinal, não havia motivos para manter a paralisação.

 Para José Manuel Oliveira, da Federação dos Sindicatos dos Transportes (Fectrans), este é “um momento histórico”: “Estamos, de facto, a ver reflectidas algumas decisões do governo pelas quais temos vindo a lutar, nomeadamente a reversão dos processos de privatização.”

Sobre as causas do conflito entre os trabalhadores e a empresa Metropolitano de Lisboa, o sindicalista considera que as reuniões entre a administração e o governo – com início marcado para 15 de Janeiro – “abrem algumas expectativas”. José Manuel Oliveira acredita que agora há condições para se “enveredar por uma via da negociação, onde certamente haverá algumas divergências, mas poder-se-á encontrar algumas bases de trabalho que permitam o de-senvolvimento natural destas empresas”.

A Fectrans, porém, estava já à espera deste desfecho: “O resultado da reunião não foi uma surpresa. De certa forma, estávamos à espera que este fosse o caminho natural a seguir, dada a mudança do governo.” “Os últimos quatro anos de governo, nas relações laborais, foram atípicos. Para nós, isto faz parte do passado, estamos a começar a percorrer uma via nova”, preconiza o dirigente. A começar, acrescenta, pelos processos de reversão da concessão a privados: “Não basta que estas empresas sejam públicas, é preciso que prestem um serviço público.
E isso só é possível com trabalhadores motivados, o que não aconteceu estes anos porque houve uma ofensiva contra as empresas públicas, através de todo um conjunto de medidas associadas à privatização que procuraram torná-las mais vantajosas para os privados.”

2015 em greves

Ao longo deste ano, o metro já parou nove vezes em Lisboa. As primeiras greves iniciaram-se em registos de paragens parciais, mas os trabalhadores foram endurecendo a sua posição ao tornarem a paralisar o transporte durante 24 horas repetidas vezes (ver página ao lado).

Fonte oficial da Transportes de Lisboa (que gere Carris, metro e Transtejo) adiantou que, excluindo a paralisação ontem desconvocada pelos sindicatos, em 2015 foram marcadas 15 greves (sete parciais e oito de 24 horas), tendo sido realizadas nove (cinco greves parciais e quatro ao longo de todo o dia).

As seis greves não realizadas foram desmarcadas, na sua grande maioria, na sequência de “decisões arbitrais favoráveis ao Metropolitano de Lisboa, convocando serviços mínimos de circulação, às quais os sindicatos responderam com o cancelamento das respectivas greves”, diz a empresa.

Houve, no entanto, “duas greves desmarcadas pelos sindicatos: uma durante a reunião da Direcção-Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT) e outra em resultado de compromissos alcançados entre empresa e sindicatos”, revela. O Metropolitano de Lisboa destaca as greves de 24 horas, que considera terem atingido “um forte impacto na mobilidade e economia da área metropolitana da cidade”.

TAP custou 35 milhões

Além do Metropolitano de Lisboa, outras empresas de transportes pararam de forma impactante para a economia e utentes, essencialmente pelos mesmos motivos: em protesto contra as privatizações.

Se as greves no Metropolitano começaram em Fevereiro, na Primavera estenderam-se à CP, à Carris (autocarros e eléctricos de Lisboa) e à TAP. Em Abril, os trabalhadores da CP pararam basicamente durante todo o período da Páscoa, em “triplo protesto”: contra a venda da EMEF e da CP Carga, a fusão da Refer com a Estradas de Portugal e a eliminação de benefícios concedidos a trabalhadores e reformados, nomeadamente o direito a viajarem gratuitamente.

Em Maio, os pilotos da TAP e da Portugália encetaram uma greve de dez dias que obrigou a empresa a cancelar 88 voos, o que provocou prejuízos para a empresa na ordem dos 35 milhões de euros.

Para hoje estão marcadas paralisações dos trabalhadores da CP e da STCP (Sociedade de Transportes Colectivos do Porto), que protestam contra o trabalho em dias de descanso e feriados. De acordo com os pré-avisos entregues pelos sindicatos, estas empresas preparam-se para repetir as paragens nos períodos do Natal e do Ano Novo. No caso da CP, o Tribunal Arbitral decidiu fixar os serviços mínimos para 25 de Dezembro e 1 de Janeiro. Já para a STCP não foram fixados serviços mínimos.

mariana.madrinha@sol.pt