Com a aprovação do programa iniciou formalmente funções o XXI Governo Constitucional. E no mesmo dia foi chumbada a moção de rejeição, a esse mesmo programa, da coligação PaF. Os debates plenários na Assembleia da República serviram, mais do que para discutir as medidas propostas, para entrincheirar as duas grandes alas do parlamento: a direita para se proclamar injustamente desalojada; a esquerda para reafirmar o denodado empenho em facilitar a governação do país. E fácil seria se nos ficássemos por aqui, mas há mais….
As eleições legislativas de 4 de Outubro – incrível e desnecessariamente distantes -, como o nome indica, serviram para eleger deputados, partidariamente engajados, pois só os partidos políticos podem participar nestas eleições – não há lugar a candidaturas independentes. E a seguir teve de cumprir-se o art. 187 da Constituição: “o Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais”. E eis-nos chegados ao busílis da questão. A coligação PaF, que venceu minoritariamente as eleições, sentou-se em cima dessa certeza incerta e não cuidou de acautelar o devido apoio parlamentar, inspirada que vinha da anterior maioria esmagadora que acabou por a esmagar. Os tiques autoritários podem explicar uma certa displicência na negociação, como se tudo fossem favas contadas. Mas a improvável convergência à esquerda, essa dúvida metódica cartesiana que até os mais encanecidos opositores do cepticismo mal ousavam ignorar, foi a causa próxima da queda da bem-aventurança PaF. O tão desejado e por demais denegado entendimento dos partidos à esquerda aconteceu!
O que tornou possível a formação de um governo que, sendo socialista, beneficia de uma base parlamentar de apoio alargada. Base parlamentar essa alcançada após demoradas, e difíceis, negociações que viriam a culminar no assumido compromisso de viabilizar a governança, desde que respeitados os valores comuns e os princípios ideológicos irrevogáveis – na acepção clássica do termo. Logo se levantou um clamor, por vezes donde menos seria de esperar, porque o acordo obtido não era um Acordo, único, exclusivo. A direita entrou numa quase constelação esquizóide. A esquerda bate o pé, diz-se empenhada em “travar o empobrecimento dos país”, mas não faz juras de eterna fidelidade. Por sua vez, o governo do partido socialista sabe que vai cair no dia em que se atrever a rasteirar os parceiros de união. Mais importante, mais urgente e indispensável, é recolocar o país na rota do desenvolvimento. As desigualdades atingiram um patamar perigoso, onde o sem retorno espreita, ameaçador. Portugal e os portugueses merecem mais respeito! Demos aos políticos, que tão desmerecidos andam, a oportunidade de mostrarem que estão ao serviço da nação, e não a nação ao seu serviço. Demos o benefício da dúvida a quem se apenhorou em nome do bem comum.
Acreditemos na sua firme convicção. Se falharem, a história os julgará. E nós não lhes vamos perdoar se o falhanço se dever a tricas partidárias. Todavia, não é minimamente curial dar de barato que o entendimento conseguido é risível e que ao primeiro obstáculo (eles) se vão estrepar.
Calem-se as aves agoirentas!
Gestora
Escreve quinzenalmente ao sábado