A guerra diplomática entre a Rússia e a Turquia acabou por revelar como se financia o Estado Islâmico e como se faz um gigantesco e lucrativo negócio com o petróleo roubado na Síria. São inequívocas as imagens, com centenas de camiões-cisterna a cruzar a fronteira e os complexos petrolíferos a funcionar em pleno entre os terroristas do ISIS e a Turquia.
A NATO e a Europa fingiram que não perceberam e até anunciaram novos apoios à Turquia para conter a vaga de refugiados, que continua sem solução.
Putin afirma o seu poder na região e num mundo de lideranças que parecem totalmente incapacitadas de decidir e de encontrar solução para um número crescente de problemas.
Paris parece já ter passado e o seu efeito de ameaça é diluído no turbilhão de notícias sobre outros tantos problemas graves, como o estado do planeta e a necessidade imediata de se travar esta mudança do clima, que nos pode ser fatal.
A ONU, a NATO, a União Europeia continuam em ensaios de um diálogo inconclusivo na busca de uma chave que abra uma nova porta de esperança. A Rússia não espera e vai agindo, trazendo para a cena mundial o Irão, o presidente Assad e uma linguagem bélica onde fica clara a força deste poder que, silenciosamente, faz crescer o seu império de influência numa área do planeta onde já percebemos que nascerão novas fronteiras e, eventualmente, novos estados, a começar num Curdistão com terras do actual Iraque, Síria e, muito provavelmente, da Turquia. Erdogan tenta esconder o seu sonho de um “califado”, mas deixa sinais de uma intolerância demasiado perigosa numa região já envolvida em guerras imensas.
A inabilidade europeia pode continuar a dar a Ancara mais tempo e alguma protecção para, um destes dias, termos também uma política de facto consumado, quando chegar a hora de dividir o que vai sobrar da actual Síria. Não há inocentes nesta trágica história que continuamos a deixar acontecer.
Jornalista RTP
Coordenador “Jornal 2” – RTP2
Escreve à sexta-feira