Desde que António Costa se tornou primeiro-ministro, têm sido inúmeros os artigos sobre a sua personalidade. Que é seguro de si, que dá murros na mesa, que é irrequieto, temperamental, persistente, um hábil negociador e por aí fora. Embora nem todas as características em cima descritas sejam positivas, e até seja discutível a vantagem de negociar quando feito em proveito próprio, boa parte da imprensa tem-se deleitado com a forma de ser deste primeiro-ministro.
O culto da personalidade é um fenómeno humano interessante. Encontramo-lo na base do Estado Novo e, mais recentemente, na adulação a Zeinal Bava, o mestre dos gestores, Ricardo Salgado, o banqueiro do regime, e até José Sócrates, o animal feroz que fazia frente a todos os que ousassem enfrentá-lo.
O que não deixa de ser comum nestes casos é o que acontece quando os ventos mudam de feição. O que antes era grandioso e fenomenal, afinal não passa de uma mão-cheia de nada. Bava deixou a PT no estado que sabemos, Salgado é agora o vilão que destruiu um banco outrora tão útil para financiar obra pública, e sobre Sócrates pouco há a acrescentar.
O culto da personalidade atinge o auge nas sociedades colectivizadas. Por cá ainda estamos longe disso, mas deslumbramo-nos muito com aquilo que, afinal, é nada. Algo que um espírito crítico e um pouco de amor--próprio resolveria. Hoje, Costa é hábil; veremos o que se tornará quando os resultados tornarem evidente a sua essência.
Escreve à quinta-feira