Calendário Pirelli. As curvas largas que a beleza dá

Calendário Pirelli. As curvas largas que a beleza dá


A edição de 2016 agora apresentada é um volte-face na abordagem da publicação. Voz, perdão, imagem, a gente – Patti Smith, Amy Schumer, Serena Williams – que é bela por motivos distintos.


O barulho do tacão do sapato alto é o primeiro indicador. Segue-se a perna, que levemente baloiça a saia. O baton, vivo como tudo; o decote, aquele que sempre nos denuncia; o cabelo, esvoaçante ou apanhado, há-de arranjar-se-lhe um encanto. Passos que antecedem o verdadeiro golpe de mestre masculino: despir a mulher com o olhar. Não espere um vídeo sensual de seguida, que os jornais ainda não têm essa capacidade – dê-se tempo ao tempo, que ele bem precisa. Pode-se é recorrer a outras soluções, que, bem sabemos, são quase sempre efémeras e distantes. 

Toda a máxima tem excepção, daí que em 1964 a marca de pneus italiana tenha convidado o fotógrafo Robert Freeman para, em Maiorca, fazer a primeira edição do Calendário Pirelli, publicação anual que veio concretizar todas as ânsias dos homens. Foi a partir daqui que se instaurou a moda do poster na parede, tendência visível por celas prisionais e casas comuns de todo o país. A edição de 2016, com fotografias da lendária Annie Leibovitz, foi apresentada em Londres esta segunda-feira com uma abordagem algo distinta, desta vez. Ainda assim a merecer lugar na nossa parede. 

Se até aqui o Calendário Pirelli se fazia de produções ousadas, em torno de supermodelos ou mulheres que o mundo tabelou internacionalmente como as mais bonitas e sensuais, agora a coisa mudou de fundo. Como se um wallpaper com Gisele Bündchen nua já não fosse suficiente para o dono do respectivo computador. Leibovitz mudou a imagem e criou uma edição inesperada, que destaca mulheres por outras curvas que não as corporais, pelas direcções e méritos que a cabeça de gente como Amy Schumer, Patti Smith, Serena Williams, Yoko Ono, Agnes Gund, Yao Chen, entre muitas outras que, como Leibovitz explicou na cerimónia de apresentação, foram escolhidas pelo seu “desempenho profissional, social, cultural, desportivo e artístico”.

É natural que à primeira o homem diga de caras que jamais trocaria a imagem de Kate Moss, autoria do enorme fotógrafo Herb Ritts, ao largo das Baamas, por alguma desta nova edição. Não se recrimine quem o afirma, os olhos são os primeiros a comer, mas a verdade é que, de um ponto de vista estético distinto, estas podem ter um valor maior. Kate Moss que nos desculpe – ninguém aqui está a criticar o que quer que seja –, mas ver Yoko Ono de cartola e pose sensual é muito mais cool. Talvez o exemplo tenha sido mau, não queremos que nos caiam em cima só pela sua ligação aos Beatles; pensemos em Amy Schumer, comediante que muito tem dado que falar durante este ano, e que se assume sem medo da barriga bem visível no retrato, enquanto segura um copo de café; ou até Patti Smith a apertar o eterno colete, a mesma que ainda este ano deu dois concertos impossíveis de esquecer em Portugal. Mulheres de tamanhos e etnias distintas que formam 12 meses incríveis.

Esta é apenas a segunda vez que Annie Leibovitz participa numa produção da Pirelli, antes disso tinha feito o ano 2000 com a francesa Laetitia Casta, aí num registo mais típico de intimidade, num quarto de hotel que nunca conheceremos. 
Na Grosvenor House em Park Lane, Londres, também a própria marca disse de sua justiça. Marco Tronchetti Provera, director executivo da empresa, explicou que a Pirelli andava em busca de algo fora da caixa e que este lhe pareceu o timing ideal: “Mulheres que fizeram algo de memorável durante as suas vidas, de todos os cantos do mundo. Isso representa o que a Pirelli considera bonito.”

Para uma estrutura que vive à custa do fabrico de pneus, a Pirelli continua a mostrar que há muitas estradas a percorrer. Vejamos o que estão a preparar para 2017.