Não bastava ter enganado os portugueses virando do avesso os resultados eleitorais. Não bastava ter quebrado regras e práticas constitucionais com 40 anos, contribuindo para uma crispação parlamentar inédita em muitas décadas. Não bastava ter tentado enganar o Presidente da República (e os portugueses) acenando com acordos políticos que nunca existiram. António Costa & Cia., no seu delírio radical, estão apostados em fragilizar as principais instituições do país.
São os pilares do sistema que estão em causa. Num passado que criou ramificações até aos nossos dias, foramconhecidas as manobras do PS contra a justiça e a comunicação social livre. Agora o PS, líder de uma frente que junta a esquerda comunista com champanhe, apontou baterias a outros alvos: depois de ter pervertido o sistema eleitoral, quer fragilizar a Presidência da República e a concertação social. Cavaco Silva é o alvo imediato a abater numa estratégia de parlamentarização do regime. Como nas tradicionais estratégias de inspiração marxista e comunista, o processo passa por estádios. O primeiro estádio é a tentativa de descredibilização de Cavaco Silva.
Sobre este PR, a coligação comunista e socialista já disse todo o tipo de alarvidades. Aquilo a que temos assistido é uma constante tentativa de confinamento da liberdade constitucional do PR e das suas prerrogativas políticas, ignorando que Cavaco Silva é dono da maior legitimidade eleitoral directa no país. Com hipocrisia olímpica, a coligação comunista e socialista que sustentou Presidentes como Soares, a “força de bloqueio”, ou como Sampaio, que vetou ministros a Santana Lopes e usou a bomba atómica (pela primeira vez na história) para demitir um governo com maioria absoluta na Assembleia, faz de tudo para tentar limitar Cavaco Silva. Isto acontece também, mas não só, porque Cavaco é Presidente. Aqui chegamos ao segundo estádio: a coligação comunista e socialista pretende fazer do parlamento, tanto quanto possível, a sede do poder absoluto. Sem freios nem contrapesos. É a parlamentarização do regime.
Com o mais minoritário dos governos, o executivo já está nas mãos da Assembleia. É um governo refém do canto comunista do parlamento, com todos os riscos que isso acarreta – são o BE e o PCP que põem e dispõem na (re)acção governativa. A cascata de sucessivas dependências é clara: Costa depende do governo para sobreviver politicamente; o governo depende dos “acordos” para existir; o PCP depende do BE, o BE do PCP, e o PS depende de ambos. O destino dos três está inexoravelmente ligado. São os três solidariamente responsáveis.
Outra das instituições que está posta em causa pela coligação comunista é a concertação social. Vai ser interessante seguir as movimentações de Carlos Silva e da UGT (como sensibilidade socialista). O primeiro sinal de desagrado foi dado na segunda-feira, com Carlos Silva a dizer o que todos já sabíamos: com as costas quentes pelo PCP e pelo BE, a CGTP está nas reuniões da concertação como Costa esteve nas rondas negociais com PSD/CDS: a dar baile.
A responsabilização da coligação comunista e socialista tem de ser feita em todas as frentes. António Costa é o primeiro e o último responsável pela criação desta excentricidade política que vai sair muito cara aos portugueses. Ou Costa sobe nas sondagens à conta de Jerónimo e Catarina (uma espécie de nacionalização da estratégia da Câmara de Lisboa) ou cai à conta deles. De uma maneira ou de outra, não vai correr bem. Por isso, que ninguém esqueça que foi em nome deste governo que Costa, coligado com os comunistas, promoveu um golpe nunca visto, fazendo de um derrotado nas urnas um vencedor na Assembleia. Como este é um governo filho do pecado original, deve ser censurado. Mais do que isso: implacavelmente responsabilizado, pelo que faz, pelo que desfaz, pelo que não faz e pelo que não deixou que se fizesse a bem dos portugueses. Escreve à quarta-feira