Antes de Paris houve Beirute. Ambos terríveis, mascarados de uma cobardia e acção para lá da compreensão de grande parte da natureza humana. No rescaldo do terror tivemos as mesmas reacções de sempre: Uma forte e natural condenação global aos ataques, as culpas de uma política externa do ocidente por parte de muitos, o receio por parte de alguns que isto é mais um duro golpe no islamismo e na vida dos muçulmanos moderados, e ainda, aqueles que passaram a ver em qualquer muçulmano, uma ameaça.
Surgiram também frases como o “terrorismo não tem religião” e “isto não tem nada a ver com o islão.” Compreendem-se mas o problema é que tem. Por uma simples razão: as pessoas que os perpetuam (e assustadoramente já não são poucas) acreditam que tem e encontram sustentação algures na doutrina islâmica. Aliás, o terrorismo encontra sempre razão ou causa num desequilíbrio nacionalista ou religioso qualquer. Os autores desta barbárie estão dispostos a morrer e matar em nome de algo e esse “algo” é a imposição da doutrina islâmica no mundo. Fazem-no através da jihad. Portanto larguemos antes que seja tarde, essa falácia politicamente correta, que isto não tem nada a ver com o islão.
Obviamente que há aspectos geopolíticos que devem ser considerados. E uma das medidas que me parece fundamental para acabar com estes ataques, é o fim do apoio dos líderes ocidentais a qualquer país no mundo que espalhe directa ou indirectamente o islamismo, não condenando em nome dessa mesma religião e lei local, os perpetuadores. No rescaldo disto (corte de relações dos países ocidentais) grupos como o ISIS manobrarão bem, como aliás, o fazem hoje, a mensagem de uma guerra de dois lados. Grande parte dos árabes são também um dos seus alvos por “não viverem de acordo com os fundamentos da religião.”
É aqui que entra o papel decisivo dos muçulmanos moderados. Primeiro, pondo de parte a ilusão que isto não tem nada a ver com o islão. Segundo, deixando de esperar quase que por magia, as pessoas vão realmente acreditar que o islamismo significa paz (o facto do Bush filho tê-lo dito também não ajuda) quando o seu significado literal é submissão. (Quase que por acaso também chocamos com essa sátira do Houllbeque que é deveras parecida com certa realidade de hoje.) Grupos como o ISIS, Al Qaeda, Taliban, etc. fazem exactamente isso. Submetem-se a uma causa e obrigam outros a submeterem-se. Portanto, adianta pouco dizer que estas pessoas não são muçulmanas quando na realidade o são e afirmam-se como tal.
É mesmo este tipo de “takfir” que lhes dá legitimidade para matar alguém aos olhos do seu deus. Felizmente a maioria dos muçulmanos não são jihadistas extremistas a querer impor as suas crenças ao mundo através do terror. E são estes, moderados, que deviam fazer ou dizer mais do que condenar os ataques. Seria essencial uma reforma da sua ideologia. Terão que concordar com o resto do mundo em relação ao facto dos direitos humanos, liberdades, e vidas humanas estarem muito acima de qualquer doutrina religiosa e que essa doutrina não pode ser defendida se puser em causa qualquer um destes factores. Porque senão a intolerância anti islâmica aumentará enquanto a maioria das pessoas, colocará, a culpa destas tragédias, em qualquer defensor da mesma. E mais relevante ainda, os ataques continuarão a acontecer porque grupos como o ISIS conseguirão recrutar através desta mesma ideologia. Isto é atacar o problema de frente. Pelo menos no Ocidente, onde verdadeiramente, só os líderes das mesquitas e estados muçulmanos, o podem fazer. Uma qualquer carência com isto deveria significar o fecho dessas mesquitas.