“Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia-idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo!”
Óscar Wilde
Vivemos no século da imagem e do movimento, na sociedade do espectáculo e do ruído, e em todos os momentos das nossas vidas somos levados a dispensar, a menosprezar, a esquecer e a secundarizar a importância e a valia do silêncio. Para as nossas vidas individuais e para as nossas vidas colectivas. Para onde nos viremos, por onde andemos, é cada vez mais adquirido que vivemos numa sociedade que não gosta do silêncio; pelo contrário, desvaloriza-o e até o hostiliza. O silêncio, que é um dos instrumentos de vida mais salutares para o nosso equilíbrio mental e físico. Silêncio que é indispensável para o estímulo de muitas das nossas capacidades cognitivas, de aquisição de conhecimento, de produção académica e científica. E decisivo para o nosso desempenho nos nossos projectos de vida. O silêncio é um parceiro e um amigo, permanente para muito do que nos rodeia, do que somos, do que fazemos e de como o fazemos.
No tempo em que as redes sociais e afins se alimentam do generalismo, do espectáculo carregado de ruído e de movimento e imagens folclóricas, é difícil encontrar não só tempo como espaço para o silêncio. O que é muito mau. Para nós todos. O tempo para o silêncio e o espaço para o silêncio deveriam ser obrigatórios. E merecer um regime jurídico próprio. Talvez até alterando legislação avulsa relativa ao ruído. Uma lei do silêncio que nos devolva a serenidade nas bibliotecas, por exemplo, para desfrutarmos dos livros, sem ouvir cliques electrónicos por tudo e por nada.
O silêncio é um exemplo das coisas mais simples e elementares que nas últimas décadas temos vindo a perder. Coisas que, de tão simples que são, nos esquecemos de valorizar e preservar. Até porque o silêncio é quase tão importante como outras coisas simples, como andar, ver, ouvir e respirar. Coisas simples que são do mais básico e elementar para a condição humana. Julgo que o espaço e o lugar para o silêncio nas nossas vidas deveria merecer a nossa atenção. E protecção e muita preocupação. Dizê-lo e propô-lo, eu sei, mais uma vez, não é politicamente correcto. Porque são muitos os que confundem, na prática, silêncio com dormir, mesmo que a correr.
Tenho poucas dúvidas que mesmo os que gostam e abusam do ruído, do espectáculo, do movimento, da obsessão ruidosa da imagem, mesmo que talentosos mediaticamente nuns casos e generalistas noutros, reconhecerão que ganharemos todos muito com aprender a compatibilizar as nossas vidas individuais e colectivas com mais tempo e espaço para o silêncio. Talvez um dia, de forma espontânea, alguém assuma a criação do clube do silêncio como um culto a algo que ancestralmente permitiu à humanidade atravessar vários séculos, tirando do dito silêncio muito do equilíbrio positivo para as sociedades. Vivemos na plenitude das sociedades contemporâneas inclusivas e plurais, onde o silêncio, como bem de certa forma indeterminado e vago, deverá merecer a dignidade de quase bem a proteger, por de tão maltratado, secundarizado e menosprezado que tem sido. E isto não é nem de filósofo nem de lunático. Perdoem-me estas palavras – mas antes pelo contrário, porque a sabedoria é irmã do silêncio. E o silêncio é primo direito da inteligência. E os sábios e os inteligentes alimentando-se do silêncio devem ser os primeiros a clamar pela sua importância, valorização e protecção. Até porque o silêncio não pode ser associado ao vazio e ao nada. Muito mal andarão aqueles que o entenderem apenas neste sentido.
Escreve à segunda-feira