A vida ensina-nos que nada é definitivo e que nem sempre aquilo que parece é. Na política é arrasador o risco de tomar por certas decisões que repentinamente se voltam contra quem as toma e num ápice destroem qualquer reputação. O triste episódio da novela “irrevogável” do dr. Portas é a clara demonstração dessa enorme contingência, sobretudo quando a fiabilidade é, ou deveria ser, o maior crédito pessoal de um político, independentemente das questões ideológicas. A ética republicana é outro imperativo, de natureza diferente.
Está acima dos tribunais e seria importante que o conceito fosse correctamente utilizado, quando tantas vezes o vemos referido de modo espúrio, por parte de quem nunca soube verdadeiramente do que se trata. Reconciliar os portugueses com a política exige espessura, e mais agora do que nunca, num momento em que felizmente para todos nós mudou o ciclo e a orientação do governo desta II República. Talvez até fosse bom, a propósito de ética republicana, começar por entender porque será esta a II República e não a III, como tanta boa gente de boa-fé a designa. É mau que persista o erro, porque gangrena.
A república não existe apenas por oposição ou por não ser monarquia. Não é essa a cultura e não é essa a origem matricial. A república existe pelo que representa, pelo combate político livre e inserido na forma de representação democrática dos cidadãos. É essa representação que a história foi tornando cada vez mais alargada e, assim sendo, uma ditadura nunca será uma república. Vamos agora eleger um Presidente e venha então alguma boa pedagogia.
Escreve ao sábado