Tomada de posse. Direita vestida de negro, esquerda tímida mas feliz

Tomada de posse. Direita vestida de negro, esquerda tímida mas feliz


27 dias depois o Palácio da Ajuda recebeu nova tomada de posse de um governo. Os partidos com assento parlamentar estiveram lá todos.


A sensação de déjá vu é mais que natural. É que 27 dias antes Passos Coelho e o seu executivo de direita tomavam posse na mesma sala, a dos embaixadores, no Palácio da Ajuda. Ontem foi a vez de António Costa e os seus 17 ministros e 41 secretários de Estado pegarem na caneta eabaixo assinarem com “a sua honra e lealdade” a tarefa que lhes foi confiada: governar.

Segurança apertada fora e dentro do recinto. A novidade foi a presença do Bloco de Esquerda (José Manuel Pureza, Pedro Filipe Soares, Catarina Martins) e do PCP (João Oliveira).  OPAN também disse “sim” ao convite, fazendo-se representar pelo seu único deputado eleito, André Silva. Ministros, deputados – os que não tiveram de rumar ao parlamento nesse dia – e secretários de Estado foram chegando, ora de carro, com a família, ora a pé, sozinhos e sorridentes, como o novo ministro da Educação, o mais jovem (38 anos), Tiago Brandão Rodrigues. Teresa Morais, agora ex--ministra da Cultura, chegava, de semblante carregado e vestida de preto, quase anunciando que o fim do executivo mais curto da história estava prestes a chegar.

A única coisa que se pedia era “que não se matasse ninguém”. Em jeito de brincadeira, claro. “Não me matem, deixem-me sair”, disse o ex-secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares Pedro Lomba a um dos seguranças, que abriu a porta do carro em andamento. O relógio batia nas 16 horas, estava na hora de encontrar lugar para ouvir o Presidente da República, Cavaco Silva, o novo primeiro-ministro, António Costa, e assistir ao famoso beija-mão.
Os corredores do palácio estavam cheios e os jornalistas iam sendo encaminhados, com pronta rapidez, para uma sala à parte. “Muito boa tarde, senhor ministro”, cumprimentava al-guém nas escadas. Seria dos antigos ou dos novos? Era o socialista Capoulas Santos, o homem que volta à pasta da Agricultura, que recebia felicitações por mais uma aventura política, que arranca “com responsabilidade”, como assegurou aos jornalistas.

Dois minutos depois, no interior da salão, o secretário-geral do PS já substituía Passos Coelho como líder de um governo, desta vez de esquerda. 58 assinaturas depois, e logo depois de Cavaco Silva e António Costa terem lançado novas farpas nos seus discursos para o combate político entre os dois, a felicidade, ainda que comedida, pertencia à esquerda.Quer dizer, na altura do tradicional beija-mão, o comedido, ficou, por breves momentos, guardado. 

Fernanda Tadeu, a mulher de Costa, que teve de esperar por alguns cumprimentos secos, como o de Passos ePortas ao seu marido, deu-lhe um beijo emocionado, afastando quaisquer agoiros de mais instabilidade política. 

Cavaco, que, como manda a praxe, tem de cumprimentar o novo executivo, deixou porém mais uma percepção para alguns de que esta solução não será a melhor para si: apertou a mão aos secretários de Estado sentados à frente, mas acenou aos restantes.

Às 17h30 terminava a cerimónia. Os antigos e novos ministros à saída contiveram-se nas palavras e rumaram aos automóveis. “Onde está o meu chofer?”, perguntou o histórico do PS Almeida Santos. Lá o encontrou, e espera que a próxima vez aqui seja daqui a muito tempo.