Conte do um ao dezasseis sem parar. Agora a suster a respiração. Agora a gaguejar.Agora de olhos fechados. Já está? Fantástico, já lhe é possível ler o texto sobre o recorde dos Golden State Warriors, o das 16 vitórias seguidas a abrir a NBA, com o inapelável 111-77 aos Lakers, em Oakland.
Campeões em título, os Warriors entram em campo com a ideia do recorde na cabeça. O público, frenético, idem. E os Lakers? Não existem. Assim mesmo: não existem, pura e simplesmente. Perdem em toda a linha, até a bola ao ar. Roy Hibbert estica-se todo, como Andrew Bogut, e Draymond Green agarra-a com segurança. E vigor. Vai por ali fora e toma lá disto, triplo. Acto contínuo, os Lakers enchem-se de brio. Sort of. Kobe Bryant falha o primeiro lance livre e depois reduz no segundo. Roubo de bola e D’AngeloRussell empata 3-3.Emoção.
Harrison Barnes encesta dois lances livres (5-3 para os Warriors) antes de Julius Randell empatar. Assinale-se este momento a oito minutos e 51 segundos do fim do primeiro período: é o último registo dos Lakers taco a taco.Daqui para a frente, os Warriors dominam sempre, sobretudo nos seis minutos seguintes, quando os Lakers não fazem um único ponto. Quando o fazem, já está 23-9. No final desse período, 30-11. Uma abada brilhantemente consumada pelos seis triplos de Harrison Barnes, Draymond Green e Stephen Curry – e, atenção, Klay Thompson até falha os sete primeiros lançamentos.
Até ao intervalo, o baile dos Warriors continua ao ritmo de alguns suplentes como o brasileiro Leandrinho, autor de um triplo majestoso. O tal Thompson acerta então o cesto à oitava tentativa e afunila a crise dos Lakers. A vantagem de 16 pontos (54-38) é uma gigantesca diferença.
PIM PAM PUM Se isso é gigantesco, o que dizer de mais do dobro? Pois é, o fim do terceiro quarto acaba com 89-55. Entre Warriors e Lakers, um muro desigual de 34 pontos.
Tudo graças à ampla superioridade nas assistências, ressaltos, triplos e contra-ataques, com base nos oito triplos dos Warriors contra apenas um de Kobe. Por falar nele, Bryant é uma espécie de homem invisível. Em 19 anos de carreira, faz uma das piores exibições de sempre com tão-só quatro pontos em 14 lançamentos espalhados por 25 minutos mais um air ball (quando a bola nem sequer bate no aro ou na tabela) e uma bola presa no cesto.
“Nem que fizesse 80 pontos. Hoje nem isso teria feito a diferença”, desabafa Kobe. “Eles são fortíssimos: muito jovens, inteligentes e versáteis. Não vejo razão para alguém os travar.” Passo a passo. O próximo jogo é amanhã, com os Suns, em Phoenix. E vão 17?
Dos Warriors, a palavra-chave é nim. O tempo é de festa. Com 24 pontos, nove assistências e quatro ressaltos, Curry diz de sua justiça. “É um momento especial, nunca antes experimentado em toda a história da NBA”, numa alusão ao tal recorde das 16 vitórias a abrir a liga, mais uma que a dos Houston Rockets datada de 1993-94. Alguém lhe pergunta então até onde vai isto chegar (o recorde é dos Lakers, 33 em 1971-72). “Não sei, só sei que não vai ser assim durante toda a fase regular. Algum dia vamos perder.” Ao que o treinador adjunto Luke Walton reage, com um largo sorriso. “Isso eu duvido, duvido muito mesmo.”
Com Rui Pedro Silva