Um país alheado


Durante a II Guerra Mundial, Portugal recebeu um enorme número de refugiados. O que mais os espantava quando aqui chegavam era como o país conseguia viver completamente alheado da guerra que atingia a Europa. Ficavam especialmente perplexos com a alegria com que Lisboa festejava os Santos Populares, celebrando com fogo-de-artifício enquanto outras cidades europeias estavam debaixo…


Durante a II Guerra Mundial, Portugal recebeu um enorme número de refugiados. O que mais os espantava quando aqui chegavam era como o país conseguia viver completamente alheado da guerra que atingia a Europa. Ficavam especialmente perplexos com a alegria com que Lisboa festejava os Santos Populares, celebrando com fogo-de-artifício enquanto outras cidades europeias estavam debaixo de um fogo bem real.

Hoje parece que algo semelhante se está a passar. Em 13 de Novembro, o Estado Islâmico levou a sua jihad ao coração da Europa, massacrando Paris. Bruxelas teve este fim-de-semana de declarar o estado de emergência, fechando as escolas e o metro. Mas em Portugal não se passa nada. Depois do derrube irresponsável do governo, o Presidente, que tinha todos os cenários estudados, decidiu afinal ouvir meio mundo para saber o que fazer. No intervalo das audições não deixou de ir à Madeira, de onde nos elucidou que a banana local estava maior e mais saborosa, assunto seguramente mais importante do que a resolução da crise política. O parlamento, depois de derrubar o governo, resolveu voltar à sua agenda fracturante habitual, revogando as alterações à lei do aborto e permitindo a adopção por pessoas do mesmo sexo. E o governo demitido, sem poder tomar medidas de fundo, lá se vai arrastando numa situação insustentável.

Tudo isto só faz lembrar os governantes bizantinos, que se entretinham a discutir o sexo dos anjos enquanto os turcos atacavam Constantinopla. Sabe-se como essa história acabou.

Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Escreve à terça-feira 

Um país alheado


Durante a II Guerra Mundial, Portugal recebeu um enorme número de refugiados. O que mais os espantava quando aqui chegavam era como o país conseguia viver completamente alheado da guerra que atingia a Europa. Ficavam especialmente perplexos com a alegria com que Lisboa festejava os Santos Populares, celebrando com fogo-de-artifício enquanto outras cidades europeias estavam debaixo…


Durante a II Guerra Mundial, Portugal recebeu um enorme número de refugiados. O que mais os espantava quando aqui chegavam era como o país conseguia viver completamente alheado da guerra que atingia a Europa. Ficavam especialmente perplexos com a alegria com que Lisboa festejava os Santos Populares, celebrando com fogo-de-artifício enquanto outras cidades europeias estavam debaixo de um fogo bem real.

Hoje parece que algo semelhante se está a passar. Em 13 de Novembro, o Estado Islâmico levou a sua jihad ao coração da Europa, massacrando Paris. Bruxelas teve este fim-de-semana de declarar o estado de emergência, fechando as escolas e o metro. Mas em Portugal não se passa nada. Depois do derrube irresponsável do governo, o Presidente, que tinha todos os cenários estudados, decidiu afinal ouvir meio mundo para saber o que fazer. No intervalo das audições não deixou de ir à Madeira, de onde nos elucidou que a banana local estava maior e mais saborosa, assunto seguramente mais importante do que a resolução da crise política. O parlamento, depois de derrubar o governo, resolveu voltar à sua agenda fracturante habitual, revogando as alterações à lei do aborto e permitindo a adopção por pessoas do mesmo sexo. E o governo demitido, sem poder tomar medidas de fundo, lá se vai arrastando numa situação insustentável.

Tudo isto só faz lembrar os governantes bizantinos, que se entretinham a discutir o sexo dos anjos enquanto os turcos atacavam Constantinopla. Sabe-se como essa história acabou.

Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Escreve à terça-feira