Abrir as portas e atravessar o Atlântico


Só no primeiro ano de actividade, o Study in Portugal Network vai trazer 82 alunos americanos a Lisboa e mais umas dezenas aos Açores através do Crossing the Atlantic, mais um programa de mobilidade da FLAD 


ENDO em conta o ressoar constante de notícias terríveis que nos chegam de sítios como Paris, Beirute e Bamaco nas últimas semanas, é tentador para os estados cederem a impulsos nacionalistas e defensivos, impondo limites mais severos a imigrantes, refugiados e às nossas liberdades civis, bem como às do “outro”, em nome da segurança nas fronteiras. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos depois de Pearl Harbor, o que levou à detenção de milhares de japoneses americanos. Aconteceu de igual modo depois do 11 de Setembro, com a aprovação do chamado Patriot Act, e mesmo agora, após os atentados em Paris, Donald Trump veio falar publicamente sobre o registo obrigatório de todos os muçulmanos nos Estados Unidos (“NY Times”, 20/11/2015). Novos muros estão a ser construídos na Europa para impedir a entrada de refugiados e a liberdade de circulação na zona Schengen foi suspensa depois de a França declarar a necessidade de controlo aduaneiro por tempo indeterminado. 
Ataques-surpresa de grupos religiosos, étnicos ou nacionalistas levam muitas vezes ao impulso compreensível mas errado de passarmos a ver todos os membros desse grupo como potenciais inimigos. Como podemos combater o impulso primordial para interpretar abusivamente as acções de alguns como sendo próprias de um grupo inteiro de pessoas? 
Uma forma de combate é através da educação internacional. O senador norte-americano J. William Fulbright fez a melhor declaração sobre o tema:

“O intercâmbio académico pode transformar as nações em pessoas, contribuindo deste modo como nenhuma outra forma de comunicação para humanizar as relações internacionais. A capacidade do ser humano de se comportar com decência parece variar de acordo com a sua percepção dos outros como indivíduos com motivos e sentimentos humanos, ao passo que a sua capacidade para a barbárie parece estar relacionada com a percepção de um adversário em termos abstractos, ou seja, como a personificação de um desígnio ou de uma ideologia maléfica.” [discurso no Conselho sobre Intercâmbio Internacional de Educação, 1983] 

Felizmente, esta visão está em sintonia com as mais recentes estatísticas do relatório de 2015 do International Institute for Education (IIE), “Open Doors Report on International Educational Exchange”, publicado na semana passada. O número de alunos americanos que escolheram estudar no estrangeiro atingiu o valor mais alto de sempre – quase 305 mil, ou cerca de 10% do total de alunos universitários nos EUA. A maioria (53%) desses estudantes escolheram a Europa como destino académico. O número de alunos estrangeiros a estudar em universidades nos Estados Unidos também atingiu um recorde de quase um milhão no ano lectivo de 2014-15. Estes números proporcionam oportunidades concretas para um maior entendimento intercultural entre as gerações mais jovens. 

Enquanto o número de portugueses que estudaram nos EUA aumentou pouco mais de 4%, para 915, o número de estudantes americanos que escolherem Portugal aumentou muitíssimo, quase 62%, para um total de 319 no ano passado. Este foi o maior aumento em qualquer país da Europa ocidental. Embora 319 alunos signifique uma melhoria substancial, o número fica muito aquém dos quase 10 mil estudantes de Erasmus que estiveram em Portugal no ano passado. Portugal tem potencial para captar tantos estudantes americanos como países como a Áustria, que recebeu mais de 2700 no ano passado, ou a República Checa, que teve mais de 3500.

A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) acredita firmemente na missão de criar um entendimento transnacional através do intercâmbio académico de professores e alunos. Criámos, por esta razão, um programa chamado Study in Portugal Network, ou SiPN. Trata-se de um consórcio de quatro universidades portuguesas, em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos e outras entidades sem fins lucrativos, que pretende aumentar substancialmente o número de americanos que vêm para Portugal estudar durante um período breve de tempo (um ano lectivo ou menos). Só no primeiro ano de actividade, o SiPN trará 82 alunos a Lisboa e mais umas dezenas aos Açores através de mais um programa de mobilidade da FLAD “Crossing the Atlantic”. Os alunos podem ficar no país durante um semestre, um ano ou apenas umas semanas. A maioria tem aulas em português e em inglês e muitos optam agora por participar no programa de estágios de Verão do SiPN. Graças a essas iniciativas da FLAD, o “Open Doors Report” do próximo ano certamente divulgará mais um aumento importante no número de estudantes americanos em Portugal. É uma boa notícia para as universidades portuguesas, para a economia e para o aprofundamento do entendimento intercultural entre as nações. 

Abrir as portas e atravessar o Atlântico


Só no primeiro ano de actividade, o Study in Portugal Network vai trazer 82 alunos americanos a Lisboa e mais umas dezenas aos Açores através do Crossing the Atlantic, mais um programa de mobilidade da FLAD 


ENDO em conta o ressoar constante de notícias terríveis que nos chegam de sítios como Paris, Beirute e Bamaco nas últimas semanas, é tentador para os estados cederem a impulsos nacionalistas e defensivos, impondo limites mais severos a imigrantes, refugiados e às nossas liberdades civis, bem como às do “outro”, em nome da segurança nas fronteiras. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos depois de Pearl Harbor, o que levou à detenção de milhares de japoneses americanos. Aconteceu de igual modo depois do 11 de Setembro, com a aprovação do chamado Patriot Act, e mesmo agora, após os atentados em Paris, Donald Trump veio falar publicamente sobre o registo obrigatório de todos os muçulmanos nos Estados Unidos (“NY Times”, 20/11/2015). Novos muros estão a ser construídos na Europa para impedir a entrada de refugiados e a liberdade de circulação na zona Schengen foi suspensa depois de a França declarar a necessidade de controlo aduaneiro por tempo indeterminado. 
Ataques-surpresa de grupos religiosos, étnicos ou nacionalistas levam muitas vezes ao impulso compreensível mas errado de passarmos a ver todos os membros desse grupo como potenciais inimigos. Como podemos combater o impulso primordial para interpretar abusivamente as acções de alguns como sendo próprias de um grupo inteiro de pessoas? 
Uma forma de combate é através da educação internacional. O senador norte-americano J. William Fulbright fez a melhor declaração sobre o tema:

“O intercâmbio académico pode transformar as nações em pessoas, contribuindo deste modo como nenhuma outra forma de comunicação para humanizar as relações internacionais. A capacidade do ser humano de se comportar com decência parece variar de acordo com a sua percepção dos outros como indivíduos com motivos e sentimentos humanos, ao passo que a sua capacidade para a barbárie parece estar relacionada com a percepção de um adversário em termos abstractos, ou seja, como a personificação de um desígnio ou de uma ideologia maléfica.” [discurso no Conselho sobre Intercâmbio Internacional de Educação, 1983] 

Felizmente, esta visão está em sintonia com as mais recentes estatísticas do relatório de 2015 do International Institute for Education (IIE), “Open Doors Report on International Educational Exchange”, publicado na semana passada. O número de alunos americanos que escolheram estudar no estrangeiro atingiu o valor mais alto de sempre – quase 305 mil, ou cerca de 10% do total de alunos universitários nos EUA. A maioria (53%) desses estudantes escolheram a Europa como destino académico. O número de alunos estrangeiros a estudar em universidades nos Estados Unidos também atingiu um recorde de quase um milhão no ano lectivo de 2014-15. Estes números proporcionam oportunidades concretas para um maior entendimento intercultural entre as gerações mais jovens. 

Enquanto o número de portugueses que estudaram nos EUA aumentou pouco mais de 4%, para 915, o número de estudantes americanos que escolherem Portugal aumentou muitíssimo, quase 62%, para um total de 319 no ano passado. Este foi o maior aumento em qualquer país da Europa ocidental. Embora 319 alunos signifique uma melhoria substancial, o número fica muito aquém dos quase 10 mil estudantes de Erasmus que estiveram em Portugal no ano passado. Portugal tem potencial para captar tantos estudantes americanos como países como a Áustria, que recebeu mais de 2700 no ano passado, ou a República Checa, que teve mais de 3500.

A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) acredita firmemente na missão de criar um entendimento transnacional através do intercâmbio académico de professores e alunos. Criámos, por esta razão, um programa chamado Study in Portugal Network, ou SiPN. Trata-se de um consórcio de quatro universidades portuguesas, em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos e outras entidades sem fins lucrativos, que pretende aumentar substancialmente o número de americanos que vêm para Portugal estudar durante um período breve de tempo (um ano lectivo ou menos). Só no primeiro ano de actividade, o SiPN trará 82 alunos a Lisboa e mais umas dezenas aos Açores através de mais um programa de mobilidade da FLAD “Crossing the Atlantic”. Os alunos podem ficar no país durante um semestre, um ano ou apenas umas semanas. A maioria tem aulas em português e em inglês e muitos optam agora por participar no programa de estágios de Verão do SiPN. Graças a essas iniciativas da FLAD, o “Open Doors Report” do próximo ano certamente divulgará mais um aumento importante no número de estudantes americanos em Portugal. É uma boa notícia para as universidades portuguesas, para a economia e para o aprofundamento do entendimento intercultural entre as nações.