Vatileaks 2.0. Julgamento começa amanhã no Tribunal do Vaticano

Vatileaks 2.0. Julgamento começa amanhã no Tribunal do Vaticano


Nova fuga de informação está a ser investigada. Documento secreto revela que banco privado italiano lavava dinheiro com ajuda da Santa Sé.


No Vaticano a justiça é menos lenta que o habitual. Pelo menos a avaliar pela rapidez com que o recente caso de roubo e divulgação de documentos confidenciais do Papa está a ser tratado. 

Menos de um mês após as detenções, já há acusação deduzida e o julgamento começa amanhã. E nem as últimas notícias de Roma, que dão conta de um novo vazamento de documentos secretos sobre lavagem de dinheiro, parecem perturbar o ritmo do promotor de Justiça do Vaticano. Na quarta-feira, o jornalista Emiliano Fittipaldi, autor de um dos dois livros lançados recentemente e que contêm documentação reservada da Santa Sé, anunciava no Facebook que tinha acabado de ser interrogado. 

“Acusam-me de ter divulgado documentos reservados, de ‘delito contra a pátria’ e explicaram-me que posso ser condenado entre quatro a oito de prisão. Uma loucura, a meu ver”, contava o autor de “Avarizia”. Já Gianluigi Nuzzi, também jornalista e autor de “Via Crucis”, livro igualmente escrito com base em papéis desviados do Vaticano, recusou-se a comparecer no interrogatório. Mesmo assim, este sábado o promotor de Justiça do Vaticano deduziu a acusação do caso. Fittipaldi e Nuzzi estão acusados do crime de “subtracção e divulgação de notícias e documentos reservados”, previsto no artigo 10 da lei número IX do Estado do Vaticano. Igualmente acusados – e pelo mesmo crime – estão a leiga Francesca Chaouqui, assessora que integrou a Comissão Investigadora dos Organismos Económicos e Administrativos da Santa Sé (COSEA), e o padre da Opus Dei Vallejo Balda, que também integrou a mesma comissão e que está detido desde o início do mês. A estes quatro nomes, que já eram conhecidos, juntou-se um quinto: Nicola Maio, assistente de Vallejo Balda e antigo colaborador da COSEA. 

“Associaram-se entre eles e formaram uma organização criminosa com composição e estrutura autónoma”, diz a acusação do promotor de Justiça, que continua: “Conseguiram ilegitimamente. E, posteriormente, revelaram notícias e documentos relativos aos interesses fundamentais da Santa Sé”. Caso os arguidos não compareçam amanhã na primeira sessão do julgamento, serão julgados à revelia. 

Entretanto, há mais uma fuga de documentos no Vaticano e o porta-voz Federico Lombardi já admitiu que as autoridades estão a investigar o vazamento. Trata-se de papéis relacionados com uma investigação que dura há meses e terá a ver com uma suposta lavagem de dinheiro de um banco privado italiano que envolve a Administração do Património da Sé Apostólica.