Bienal de Coimbra.  Oito opções para a última semana

Bienal de Coimbra. Oito opções para a última semana


Anozero’15 Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra é o primeiro evento do género a acontecer na cidade. 


Organizado pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, propõe uma reflexão sobre a classificação da Universidade de Coimbra como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. O confronto (com tudo o que a palavra pode ter de bom) entre arte contemporânea e o património na cidade surge como tema geral que pode ser visto até dia 29 de Novembro.

BANG

O título é perfeitamente sugestivo. Por isso, se decidir que esta é a sua escolha e basear a decisão simplesmente no nome, compreendemos perfeitamente. “Bang” pode ser quase tudo o que quisermos, do Big Bang ao som de uma pistola, um movimento de dança ou um drop de qualquer um numa música que só vive de noite. Este é o projecto do artista Nuno Cera, feito para a revista online “Contemporânea”. Um vídeo gravado na aldeia de Pedralva, no Atelier Coruchéus, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, e no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra. É de 2012 e explora um jogo visual de tempo através uma série de explosões. A curadoria está a cargo de Luísa Santos.

A CASA DE COIMBRA

Nem sempre a destruição pode ser vista como factor negativo. Por vezes, há que mandar abaixo para fazer melhor. Neste caso não é bem isso, mas não está longe – na verdade, é uma mistura entre as duas situações. “A Casa de Coimbra” é um trabalho escultórico do artista Pedro Cabrita Reis a partir de uma estrutura de museu degradada da Sala da Cidade de Coimbra. Com recurso a motosserras, a estrutura foi sendo trabalhada como se lhe estivessem a retirar os excessos, a dar-lhe um novo ar da sua graça. Um artista talentoso que confirma de novo a sua capacidade inventiva – não é que precisasse, o currículo explica quase tudo, mas criar fica-lhe sempre bem.

ENCRIPTAR, REVELAR. UMA GRUTA E UMA CLAREIRA

Duas obras, dois artistas. Até aqui, as contas batem certo. A obra de Francisco Tropa foi cedida pela colecção de António Albertino, enquanto Alberto Carneiro se adaptou à arte de Tropa, escolhendo uma obra que achou que gerava uma relação de proximidade entre quem a criou e quem a observa. O curador é Carlos Antunes, director do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, que propõe a união de duas linguagens distintas em exposição, obras que não foram criadas para coabitarem no mesmo lugar, mas provam que na arte não existe limite e que tudo se pode relacionar desde que a nossa mente assim o permita. E claro que permite.

ENERGIA PSÍQUICA

Uma exposição que fala castelhano. Daniel Silvo, Javier Velásquez Cabrero e Juan Zamora oferecem ao público três videoinstalações, num projecto proposto pela organização do festival. Ou seja: escolheram-nos, mostraram-lhes o espaço em questão, falaram-lhes da temática que serve de ponto de partida a todos os trabalhos apresentados nesta bienal e o resto deixaram ao critério dos artistas. Ora isso suscitou que os artistas assumam também as vestes de curadores e decidissem ao que iam – ideia que dá bons resultados, tanto na organização como na criatividade. “Energia Psíquica” aborda a vida e a sua eterna imprevisibilidade através das três instalações. 

FAMÍLIA

À partida poderíamos dizer que cinema e escultura não combinam. Errado, esse é um ponto de partida que não faz sentido. Sobretudo se estivermos a falar do cineasta Pedro Costa e do escultor Rui Chafes. “Família” nasce de um diálogo entre as esculturas que Rui Chafes tem vindo a desenvolver nos últimos anos e uma série de filmes que Pedro Costa realizou durante as rodagens de “Casa de Lava”, em Cabo Verde, no longínquo ano de 1994. Mas não fica por aqui. Os franceses Jean-Marie Straub e Danièle Huillet apanham o mesmo barco através do filme de homenagem ao poeta Stéphane Mallarmé. Os cruzamentos sempre deram coisas boas, como se vê.

SHADOW PIECES OF BODY FRAMES

Corpo e imagem de braço dado. Ou melhor: corpo e as imagens que este gera, a resistência muitas vezes inconsciente que os nossos membros transmitem, o corpo em suspenso. É esta a proposta do premiado artista português Julião Sarmento na exposição individual que apresenta na Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra. “Sombra” é um filme que assume o protagonismo nesta “Shadow Pieces on Body Frames”, que conta com curadoria de João Silvério. É Julião Sarmento, só isso deve ser suficiente para o convencer a rumar a Coimbra. Se não for, não se preocupe, há tanto para ver que ter um favorito vai ser tarefa impossível.

LINK

A cidade de Coimbra como nervo desta exposição colectiva que junta artistas como António Olaio, Gabriela Albergaria, Moirika Reker, Gilberto Reis e Isaura Pena, entre outros. O confronto da natureza com a sua envolvente, com os imóveis que alteram a perspectiva de uma cidade, com a actuação do homem e as inevitáveis consequências – mais ou menos boas – associadas. O protagonista é o eixo verde existente na cidade, do Jardim da Sereia à Quinta das Lágrimas, com passagens pelo Jardim e Museu Botânico, Aqueduto de S. Sebastião e até o rio Mondego. Falamos sobretudo de fotografia e desenho. 

SEEMS SO LONG AGO, NANCY

Tatiana Macedo é como muitos outros: gosta de observar. Não se satisfaz, no entanto, pela análise superficial dessa observação, quer expô-la, quer pôr gente a pensar sobre a mesma. “Seems So Long Ago, Nancy” é um filme que se baseia num conjunto de gestos que sugerem a introspecção, o olhar vazio de quem olha, algumas vezes, sem estar a ver. Para o executar, Tatiana Macedo filmou durante vários meses os vigilantes das galerias Tate Modern e Tate Britain, em Londres, eles que são pagos para estarem atentos a tudo o que mexe. Vai–se a ver, já muitos pensámos em fazer isso, mas da ideia até à concretização vai um bocado, certo? Pois então. Ehá uma bienal para o mostrar.