Vivemos dias estranhos em que se perdeu a noção do tempo.
Em Portugal estamos num impasse político, porque as eleições foram no tempo certo, que acabou por ser desacertado pelo resultado, que agora não permite uma nova consulta popular dentro do tempo. Venceu o tempo do calculismo político, que se revelou pouco acertado com a realidade.
Vivemos numa Europa que insiste em ignorar o tempo, recebendo desorganizadamente milhares e milhares de refugiados que fogem da guerra, entrando em dias de tremenda incerteza que o nosso tempo dificilmente consegue adivinhar. Temos de os acolher, mas esgota-se o tempo de sabermos como e onde, para não criarmos um alargado exército de descontentes.
Estamos também no mundo que viu o Estado Islâmico conquistar terreno, destruir cidades e a história de locais como Palmira, mas não encontrou tempo para um acordo alargado, a tempo de evitarmos as lágrimas de hoje em Paris. O tempo é agora de um entendimento impossível que junta a Rússia, a França, o Irão e até o poder proscrito, neste tempo, do ditador de Damasco.
O tempo é de ataques desordenados e violentos contra um território onde há muitos terroristas, mas onde se escondem também milhões de inocentes que já ali viviam. E falta tempo para parar e pensar. Será que esta estratégia não nos leva a todos para uma guerra ainda mais alargada, com o extremismo dos excluídos a tomar conta de todos os nossos segundos, acabando com o nosso tempo de tranquilidade?
Será este o nosso modelo de sociedade, em que o tempo corre demasiado depressa, esquecendo em tantos dias o nosso desejo de felicidade e tranquilidade?
Será que a nossa falta de tempo para um maior envolvimento na política, a começar pela hora do voto, não vai destruir a liberdade que tantas gerações levou a conquistar, deixando o nosso destino na mão de déspotas que nos enganam todos os dias na verdade deste tempo?
São demasiadas perguntas que nos deveriam obrigar a parar o tempo… por um minuto que seja e pensar realmente para onde queremos levar agora o planeta.
Afinal, é apenas uma questão de tempo…
Jornalista RTP
Coordenador “Jornal 2” – RTP2
Escreve à sexta-feira