O PSD vai apoiar Marcelo Rebelo de Sousa na primeira volta das presidenciais de 24 Janeiro. A decisão só será formalmente tomada em Dezembro, no último Conselho Nacional antes das eleições, mas tudo indica que Passos Coelho não vai deixar o ex-comentador da TVI ir a votos na primeira volta sem o apoio formal do seu partido, garantem fontes próximas do líder do PSD.
Na segunda-feira, num encontro com os líderes das distritais do PSD, Passos deixou bem claro que “faria todo o sentido os militantes prestarem todo o apoio ao candidato, ou candidatos, da nossa área política”, relatou um dirigente ao i. O tema central do encontro não foi a eleição presidencial (crise política e rejeição do programa de governo),mas Passos fez questão de abordar o assunto, até para mobilizar as bases do partido à passagem da caravana de Marcelo pelo país. “Passos falou em candidato, ou candidatos, mas não vejo que possa aparecer outro candidato a esta distância das eleições”, acrescenta o mesmo dirigente social-democrata.
O afastamento de Rui Rio abre caminho para o PSD recuar na posição assumida no acordo de governo com o CDS, na sequência da vitória nas legislativas de 4 de Outubro. No acordo, PSD e CDS admitiam dar liberdade de voto aos seus militantes na primeira volta da corrida a Belém, se houvesse mais de uma candidatura da área política dos dois partidos, tal como como decidiu o PS, que não vai apoiar qualquer candidato na primeira volta das presidenciais.
A posição de sociais-democratas e centristas favorecia Marcelo Rebelo de Sousa, já que sem o apoio formal e garantido à partida da máquina do PSD Rui Rio saltava fora. E foi o que aconteceu a 15 de Outubro, dia em que o ex-autarca do Porto anunciou que não é candidato a Belém, deixando a via aberta para o professor catedrático de Direito.
A Passos não deverá custar apoiar Marcelo à primeira volta, mesmo depois de o ter excluído do perfil de candidato que o PSD devia apoiar nas presidenciais, na moção que levou ao 35.o Congresso do PSD, em Janeiro do ano passado.
É que o xadrez das presidenciais também se alterou com a rejeição do programa de governo PSD/CDS no parlamento por PS, BE, PCP, PEVe PAN. Isso e a possibilidade de Cavaco dar posse a um governo de esquerda pode favorecer a candidatura de Marcelo e o apoio da máquina do seu partido: o PSD não quer perder a corrida à sucessão de Cavaco e é certo que terá um candidato.
O pedido de Passos aos líderes das distritais, no início da semana, serviu também para estancar a hemorragia que o constante piscar de olhos de Marcelo ao centro-esquerda está a provocar em alguns dirigentes do PSD, ao sugerir que daria posse a um governo de esquerda liderado pelo PS.
“Os partidos esperam que os seus sejam politicamente solidários. Ele ainda não foi claro sobre o que faria numa situação destas se fosse Presidente. Isso incomoda alguns militantes”, observa um dirigente do PSD ao i.
Nada disso atrapalha o ex--comentador, a quem é reconhecida habilidade para comunicar com os eleitores de esquerda e de direita. “São faits divers”, reagiu, em Bruxelas, onde esteve com Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, e Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, em campanha e a inaugurar relações que poderão servir num futuro não muito longínquo, se vencer as eleições.