E se ouvirmos os governantes dos países afectados e as suas forças policiais sabemos que todos estão à espera de mais atentados e sabemos que a quantidade de radicalizados com treino militar e acesso a armas e explosivos torna esta possibilidade real.
Temos como princípio o medo. E a seguir?
Teremos uma legislação securitária, provavelmente não tão má quanto o Patriot Act dos EUA, mas já distante dos standards europeus em matéria de respeito pelos direitos fundamentais, com o alargamento da actuação das polícias fora do controlo dos tribunais. Já começou em França com um estado de emergência unanimemente declarado por três meses. Para os mais distraídos, lembro que a Constituição da República Portuguesa limita a duração da declaração do estado de emergência a 15 dias. E a seguir virá a concretização do “direito penal do inimigo”.
Teremos um investimento maciço em segurança e defesa (recursos humanos, equipamento, tecnologia, software, conexão de redes), sem preocupações com o Tratado Orçamental, não sendo claro que tal investimento produza frutos para lá das aparências porque, mais uma vez, estaremos a tentar combater os efeitos e não as causas.
Putin tornar-se-á de novo fréquentable. Seguindo o exemplo do Irão, sentar-se-á à mesa dos grandes com os EUA para decidir o que fazer na Síria e no Médio Oriente. Recuperará junto do seu eleitorado a aura de líder de uma superpotência e mais ninguém o incomodará quanto ao conflito congelado na Ucrânia.
Hollande, acompanhado por todos os que querem declarar guerra ao Daesh, está a descobrir, mais uma vez, que a França não tem lugar à mesa dos grandes e que uma intervenção musculada (“boots on the ground”) não acontecerá na Síria. Obama já o afirmou e não será Putin a dizer o contrário.
A Realpolitik encarregar-se-á de garantir mais algum tempo de vida a Bashar al-Assad, atestando que as tentativas de “democratização” das ditaduras do Médio Oriente são extraordinariamente perigosas, bastando recordar os episódios do Iraque, Afeganistão, Líbia, Egipto e Síria.
O funcionamento da fronteira externa de Schengen será reposto. As regras de Dublin voltarão a ser aplicadas e será o estado-membro da UE onde primeiro entrem os candidatos ao estatuto de asilados que terá de avaliar esse estatuto. A sra. Merkel já retornou à linha justa e a capacidade de acolhimento alemã está quase esgotada. As cenas dramáticas nas fronteiras externas da UE continuam, mas o apetite mediático por estas imagens caiu a pique.
Mesmo que os governos de esquerda (como em França) guinem apressadamente à direita e adoptem um discurso e uma prática securitária, não conseguirão evitar que o medo faça crescer os partidos nacionalistas de direita. Será o caso da Frente Nacional, mas também haverá episódios na Alemanha, Holanda, Bélgica, Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia. E haverá também consequências para algum radicalismo de esquerda mais amigo da imigração. O Podemos já está em perda e os atentados de Paris não melhorarão o seu resultado nas eleições de 20 de Dezembro.
Há em Portugal quem ache que a geografia que nos tem protegido do conflito na Ucrânia, do bloqueio nos gasodutos, das vagas de asilados e dos terroristas vai continuar, de mãos dadas com a Nossa Senhora de Fátima, a proteger-nos. I beg to differ.
Escreve à sexta-feira