Em 24 audiências com Cavaco, só três figuras apoiaram governo PS

Em 24 audiências com Cavaco, só três figuras apoiaram governo PS


Cavaco Silva ouviu 16 entidades e oito personalidades e a maioria evitou falar de soluções governativas. Dos que falaram, quatro foram a favor e três contra.


Patrões, sindicatos, economistas e banqueiros, Cavaco Silva quis ouvi-los todos depois de uma maioria de deputados na Assembleia da República ter chumbado, dia 10, o programa do governo que empossou. E o que disseram as entidade e personalidades, 24 ao todo, ouvidas pelo Presidente da República? Os responsáveis pelas centrais sindicais foram categóricos no apoio a Costa. Quer Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, quer Carlos Silva, líder da UGT, defenderam que o PR deve dar posse a António Costa, e “rapidamente”.

A favor desta solução governativa, de resto sustentada numa maioria parlamentar, pronunciou-se também o presidente da comissão executiva do BPI, Fernando Ulrich: “Confio no Dr. António Costa e no Partido Socialista”, disse Ulrich. Não se pode dizer que o defendesse em contraciclo com os demais banqueiros ouvidos, que na sua maioria esconderam nas suas declarações as preferências quanto a soluções governativas.

Frontalmente contra a indigitação de António Costa surgem quatro personalidades, duas delas enquanto representantes dos patrões. João Machado, presidente da CAP, defendeu o recurso a novas eleições e António Saraiva, presidente da CIP, temeu que a “estabilidade legislativa, fiscal e laboral” possa ser posta em causa com um governo socialista. Também João Salgueiro, ex-ministro de Pinto Balsemão, considerou que a maioria parlamentar de esquerda só foi possível por adoptar “uma estratégia de oportunidade”. No mesmo sentido foram as declarações de Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, que, no final da audiência com Cavaco Silva, afirmou que traçou “uma perspectiva negra quanto ao futuro”, caso Costa tome posse.

Não era esperada das personalidades ouvidas por Cavaco Silva uma opinião favorável a António Costa. Muitos tinham manifestado já a sua opinião em entrevistas ou em opiniões publicadas. Ainda assim, a esmagadora maioria das personalidades da vida económica, social e política do país recusa tecer considerações sobre soluções governativas. Alguns defendiam políticas aparentemente contraditórias com as que são pro-clamadas no programa de governo de António Costa, como foi o caso de Bagão Félix. O ex-ministro das Finanças de Santana Lopes considerou que o acordo que suporta a solução de governo socialista é um acordo de “curto prazo” porque, sustenta, “não há alusão a reformas sistémicas, não há alusão ao sistema financeiro, não há alusão à dívida pública, não há alusão às questões europeias”.
Também houve quem, como Teixeira dos Santos, o ex-ministro das Finanças que impôs a José Sócrates a entrada da troika e recentemente foi condecorado por Cavaco Silva, defendesse à saída de Belém “uma solução governativa” que permita a aprovação “o mais cedo possível” no parlamento do Orçamento de 2016. Na actual relação de forças do parlamento só um governo de Costa pode ver passado o Orçamento, e isso é também o que os partidos à esquerda vão hoje dizer a Belém.

A FAVOR

Fernando Ulrich

Eu confio “Pessoalmente confio no Dr. António Costa e no Partido Socialista”, disse o presidente da comissão executiva do BPI.

Carlos Silva

Importante “Era importante dar a indigitação ao Dr. António Costa para constituir o próximo governo”, disse o secretário-geral da UGT.

Arménio Carlos

Esperança Arménio Carlos defende governo de esquerda para pôr o país “numa linha de esperança”.

CONTRA

António saraiva

Ameaça O presidente da CIP considerou que o acordo à esquerda ameaça “alguma da estabilidade” legislativa, fiscal e laboral.

João salgueiro

Estratégia O ex-ministro João Salgueiro diz que a convergência de esquerda é “uma estratégia de oportunidade”.

João Machado

Estabilidade O líder da CAP quer eleições o mais cedo possível e não acredita que haja “estabilidade” com esta “frente de esquerda”.

Ferraz da Costa

Futuro O presidente do Fórum para a Competividade tem “uma perspetiva negra quanto ao futuro” com um governo de esquerda.

O QUE DISSE CAVACO

“Em 40 anos de democracia, nunca os governos de Portugal dependeram do apoio de forças políticas antieuropeístas”
 22 de Outubro

“Os agentes políticos não devem deixar dúvidas quanto à adesão de Portugal às opções fundamentais constantes do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental e do Mecanismo Europeu de Estabilidade”
30 de Outubro

“Eu estive, como primeiro-ministro, cinco meses em gestão”
16 de Novembro

“Felizmente esta crise política ocorre em condições muito mais favoráveis que aquelas que se verificaram na última crise política,que foi em 2011”
17 de Novembro