Ameaças. França quer fechar metro de Paris no Natal para evitar chacina

Ameaças. França quer fechar metro de Paris no Natal para evitar chacina


Daesh já está a produzir armas químicas e biológicas, dizem EUA e Iraque. Europol diz que “novos ataques são prováveis”.


A Assembleia Nacional francesa aprovou ontem a extensão do estado de emergência que foi declarado em toda a França no rescaldo dos atentados de sexta-feira, que vitimaram 132 pessoas em Paris.

Sob as novas directivas, o estado de emergência estará em vigor durante os próximos três meses em todo o território francês, até 25 de Fevereiro, o que implica que o governo e as autoridades terão carta branca para pedir a identificação e deter qualquer pessoa suspeita, bem como para impedir grandes ajuntamentos em espaços públicos e pôr suspeitos radicais em prisão domiciliária. É esperado que o Senado, a câmara alta do parlamento francês, debata e aprove hoje esta extensão do estado de emergência, na última votação antes de ser promulgada.

Fontes familiarizadas com a situação em França avançaram ao i que na base deste prolongamento do estado de emergência está, mais que a Cimeira do Clima, que decorrerá em Paris entre 30 de Novembro e 11 de Dezembro, o período do Natal.

As autoridades francesas e ocidentais temem que os jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh, na sigla árabe) tentem levar a cabo novos atentados nas próximas semanas e, segundo Manuel Valls, estes poderão ser de outra natureza, com os militantes a trocarem as kalashnikovs e os coletes explosivos por armas químicas e biológicas.
Por essa razão, França quer poder encerrar o metro de Paris no caótico período de compras natalícias para evitar que qualquer ataque desse tipo tenha consequências ainda mais devastadoras que à superfície.

Novos ataques Usar armas químicas e biológicas ou bacteriológicas é uma “estratégia agressiva” tão importante para o Daesh que o grupo criou um ramo inteiramente dedicado à investigação e à experimentação desse tipo de armas com a ajuda de cientistas do Iraque, da Síria e de outros países da região e do globo. Assim o definem fontes das secretas dos Estados Unidos e do Iraque, confirmando ontem as suspeitas avançadas pelo primeiro-ministro francês, Manuel Valls, antes de o parlamento votar a extensão do estado de emergência. “Sabemos que há risco de ataques com armas químicas e biológicas”, garantiu.

Fontes norte-americanas e iraquianas acabariam por confirmar a suspeita, que aumenta ainda mais os receios de novos ataques ao Ocidente como os sete que, há uma semana, provocaram 132 mortos em Paris. “Eles [jihadistas] agora têm total liberdade para escolher os locais dos seus laboratórios de produção e têm ao seu dispor vários especialistas, civis e militares, a ajudá-los”, disse à Associated Press fonte da secreta iraquiana sob anonimato.
Segundo as mesmas fontes, que para já não avançam pormenores sobre quantas pessoas integram o ramo jihadista dedicado a desenvolver armas químicas e biológicas, o Daesh já conseguiu atrair especialistas neste tipo de armamento, tanto iraquianos, que em tempos trabalharam para a agora dissolvida Autoridade de Industrialização Militar da era de Saddam Hussein, como de outras nacionalidades, incluindo chechenos e outros do sudeste asiático.

Aviso da Europol Numa audiência a decorrer ontem no Parlamento Europeu em Bruxelas, o director da Europol pôs-se ao lado de Valls e outros dirigentes, alertando para a “grande probabilidade” de novos atentados atingirem cidades do Ocidente.

“É razoável supor que é muito provável que haja mais ataques”, declarou Rob Wainwright aos legisladores europeus, comparando o que aconteceu na sexta-feira em Paris com os atentados de 2008 em Bombaim. O modus operandi então foi semelhante ao aplicado há uma semana na capital francesa, com uma série de ataques distintos levado a cabo ao mesmo tempo em várias zonas da cidade.

“A realidade do que aconteceu em Bombaim chegou agora à Europa”, garantiu o chefe da polícia europeia. “Isto quer dizer claramente que estamos perante uma nova forma de terrorismo, mais ameaçadora e significativa que o fenómeno do lobo solitário”, disse, em referência aos ataques levados a cabo nos últimos meses em várias cidades por uma pessoa ou um pequeno grupo de simpatizantes do Daesh. “Estamos também perante uma clara declaração de interesses do ISIS [Daesh], de que pretende exportar o seu tipo brutal de terrorismo para a Europa e os palcos internacionais”, acrescentou.

Mentor dos ataques morto À hora a que os legisladores da câmara baixa do parlamento francês aprovavam a extensão do estado de emergência, as autoridades belgas levavam a cabo mais seis raides em Bruxelas na busca de mais suspeitos ligados aos ataques da semana passada em Paris.

Fontes da polícia belga disseram à Associated Press que as buscas, levadas a cabo em Jette e Molenbeek, na região da capital, tinham como objectivo encontrar a “comitiva” de Bilal Hadfi, o bombista suicida que se fez explodir no exterior do Estádio de França à hora a que terminava o jogo amigável entre as selecções de futebol de França e da Alemanha.

O distrito bruxelense de Molenbeek tem estado no centro das investigações conjuntas entre França e Bélgica desde que foi apurado que dois dos terroristas que levaram a cabo os ataques de Paris viviam ali. Fonte do governo belga também confirmou à Reuters que essas operações antiterrorismo estavam em curso ontem à tarde.

As informações foram avançadas pouco depois de o Ministério Público francês ter confirmado que o homem tido como mentor dos atentados de Paris foi de facto morto durante a operação policial levada a cabo pela polícia francesa na quarta-feira em Saint-Denis.

A identidade de Abdelhamid Abaaoud foi confirmada através da análise de impressões digitais. “O corpo foi encontrado no interior do edifício e estava crivado de balas”, explicou François Molins, da procuradoria, confirmando ainda que a mulher que se suicidou com um colete de explosivos durante o mesmo raide em Saint-Denis era prima de Abaaoud: chamava-se Hasna Aitboulahcen e tinha 26 anos.

Falando aos jornalistas após esse raide, o procurador explicara na quarta-feira que foram escutas telefónicas e operações de vigilância a conduzir as autoridades até àquele apartamento.

Abaaoud era seguido desde 2013 pela sua actividade jihadista nas redes sociais, e o seu nome constava das investigações aos ataques frustrados num TGV entre Amesterdão e Paris a 21 de Agosto e numa igreja em Villejuif a 19 de Abril deste ano. “Abaaoud parece ter estado implicado em quatro dos seis atentados que evitámos desde a Primavera de 2015”, avançou ontem o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve.