We’ll always have Paris. O desporto vencerá sempre o terror

We’ll always have Paris. O desporto vencerá sempre o terror


Disparar uns lasers pelas paisagens de Hoth ou Tatooine, pilotar X-Wings, ser um Jedi com a Força numa mão e um sabre de luz noutra ou vestir o fato de Darth Vader porque podemos.


Sexta-feira, 13 de Novembro. No Stade de France, em Paris, onde França e Alemanha jogavam, quase ninguém sabia o que se passava no exterior (excepto François Hollande, que foi avisado e retirado do recinto). Três explosões nas imediações do estádio eram, infelizmente, apenas o início de uma noite de terror na cidade luz. Paris, a cidade do amor, do sonho, palco privilegiado da cultura europeia e dos ideais da Revolução Francesa, assistia impotente a cobardes ataques terroristas que mataram pelo menos 132 pessoas.

O medo instala-se no coração do Velho Continente. Terça-feira, o Bélgica-Espanha, em Bruxelas, é cancelado por motivos de segurança. No mesmo dia, em Hannover, a polícia descobre “planos para provocar uma explosão” e o Alemanha-Holanda não se joga; o estádio é evacuado antes do apito inicial.

O futebol tornou-se, por estes dias, um dos centros da atenção dos terroristas, como outros eventos de grande envergadura já o foram no passado. Nem o desporto fugiu à regra no mundo pós-11 de Setembro. As regras de segurança foram apertadas e os orçamentos dispararam. Como exemplo, compare os gastos de segurança nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, com os de Pequim-2008. Em Espanha, a despesa rondou os 66,2 milhões de dólares (dados do jornal “The Times”). No evento chinês, a segurança custou 6,5 mil milhões de dólares, praticamente 100 vezes mais. Mas nem todo o dinheiro do mundo pode prever e impedir todos os atentados planeados.

A poucos dias de um Real Madrid-Barcelona, a polícia espanhola garantiu que o jogo se vai realizar, e sob um dispositivo de segurança “muito intenso”. Na Alemanha, as autoridades confirmam que não vão cancelar os encontros da Bundesliga no próximo fim-de-semana. Um pouco por todo o lado tenta retomar-se a normalidade. Aconteça o que acontecer, o desporto terá sempre de triunfar sobre o terror. Mesmo em tempos difíceis, a esperança e o amor prevalecem, tal como “Casablanca” nos ensinou:“We’ll always have Paris”.

1972, Munique Nos Jogos Olímpicos (JO) de 1972, a Alemanha queria demonstrar um país de mentalidade aberta para contrastar com Berlim-1936, realizado durante o IIIReich. A segurança era mínima, e nas imediações do estádio e aldeia olímpica não se via um polícia armado. Na madrugada de 4 de Setembro, com vários dias de competição decorridos, o grupo palestiniano “Setembro Negro” infiltrou-se sem dificuldade na aldeia olímpica e fez como reféns 11 atletas da equipa israelita. Para os entregar com vida, os oito terroristas exigiam a libertação de 234 prisioneiros palestinos em Israel. 

Tudo caiu por terra nas horas seguintes, desde as tentativas de negociação aos vários planos das autoridades alemãs. Com muitos erros e amadorismo à mistura, a polícia germânica falhou a toda a linha. Os 11 atletas de Israel morreriam no atentado.

2002, Madrid Quatro horas antes do jogo das meias-finais da Champions entre o Real Madrid e o Barcelona, um carro bomba (com cerca de 20 kg de cloratita) explodiu nas imediações do Santiago Bernabéu. Menos de meia hora depois, outro veículo rebentava a poucos quilómetros dali.Oatentado da autoria da ETA provocaria 19 feridos. O jogo acabou por se realizar.

2008, Lisboa-Dakar ”Tendo em conta as actuais situações de tensão política, a nível internacional, o assassinato de quatro turistas franceses, no passado dia 24 de Dezembro, atribuído a um ramo da Al-Qaeda, no Magreb islâmico, e acima de tudo as ameaças, directas, lançadas contra a prova, por movimentos terroristas, a ASO não pode tomar outra decisão que não seja a anulação da prova”. Ocomunicado da organização do Rali Lisboa-Dakar confirmava o que alguns rumores já davam conta:o cancelamento da prova. Desta vez não por um ataque terrorista em específico, mas por precaução face aos acontecimentos recentes na Mauritânia a às ameaças da Al-Qaeda. Pela primeira vez desde 1979 a célebre prova automobilística de resistência não se realizava. África não voltaria a ver passar a caravana do Dakar. O regresso do rali, em 2009, seria no continente sul-americano, algo que se mantém até aos dias de hoje.

2008, Sri Lanka Quando se fala em maratonas, o mundo ocidental recorda as ocorrências de Boston. Mas cinco anos antes o Sri Lanka assistiu a uma carnificina maior, quando um bombista suicida se fez explodir na corrida que se realizava em Weliweriya. O ataque provocou 15 mortos (entre eles um ministro do país e um ex-atleta olímpico) e cerca de 100 feridos.

2010, Angola A selecção do Togo partira do Congo em direcção a Angola, onde se realizava a Taça das Nações Africanas. O autocarro da comitiva sofreu uma emboscada, reivindicada pela Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC). No ataque, morreram o treinador-adjunto, o assessor de imprensa e o motorista. Oguarda-redes Obilale ficou gravemente ferido, mas sobreviveu. O sucedido levou a selecção do Togo a cancelar a sua participação na prova.

2013, Boston A segunda maratona mais antiga do mundo ficou manchada pelo terror no dia 15 de Abril. Duas bombas detonaram, com um intervalo de 12 segundos, perto da linha de meta, matando três pessoas e ferindo mais de 130. “Não tenham dúvida, vamos encontrar quem fez isto e saber o porquê. Os responsáveis vão sentir o peso da justiça”, prometeu Barack Obama. As autoridades apontaram os irmãos Tsarnaev – de origem chechena, viviam nos EUA há cerca de dez anos – como suspeitos e nos dias seguintes assistiu-se a uma verdadeira caça ao homem. Tamerlan, o mais velho (26 anos), acabou por morrer depois de um tiroteio com a polícia. Não demoraria muito até à captura de Dzhokar, 19 anos. O mais jovem acabou por ser condenado à morte, a 15 de Maio deste ano.

2015, Europa A noite do França-Alemanha torna-se a mais negra dos últimos anos em Paris. Dias depois, o Bélgica-Espanha e o Alemanha-Holanda são cancelados por receio de ataques. Mas em muitos outros estádios pela Europa fora, “AMarselhesa” é entoada em solidariedade.